ROBERTO LUCENA - Repórter
O filho da empresária Karina Paiva, 35 anos, sempre foi uma criança tímida. O comportamento mais reservado, no entanto, nunca preocupou a mãe. A situação mudou quando Arthur* (nome fictício) começou a voltar da escola com marcas de agressões pelo corpo. A preocupação dos pais ficou ainda maior quando descobriram que, com apenas seis anos, o filho deles era mais uma vítima de bullying escolar - uma das formas mais perversas de perseguição contra os que, por algum motivo, são considerados diferentes da maioria.
O filho da empresária Karina Paiva, 35 anos, sempre foi uma criança tímida. O comportamento mais reservado, no entanto, nunca preocupou a mãe. A situação mudou quando Arthur* (nome fictício) começou a voltar da escola com marcas de agressões pelo corpo. A preocupação dos pais ficou ainda maior quando descobriram que, com apenas seis anos, o filho deles era mais uma vítima de bullying escolar - uma das formas mais perversas de perseguição contra os que, por algum motivo, são considerados diferentes da maioria.
aldair dantasAs crianças dão sinais de que estão sendo vítimas de bullying
O fenômeno não é recente. Agressões físicas e verbais dentro do ambiente escolar acontecem desde quando as instituições foram criadas mas hoje poucos educadores sabem como lidar - e combater - com o problema. "Agora a sociedade dá mais importância ao assunto e estudos estão sendo feitos para analisar as conseqüências dessa agressão em crianças e adolescentes", explica a professora de Psicologia com especialização em educação e desenvolvimento de crianças e adolescentes, Débora Sampaio.
A psicóloga alega que algumas instituições já trabalham o tema com os professores e alunos por meio de palestras e atividades paradidáticas, porém, o trabalho ainda é insipiente. "Acredito que as escolas estão começando a se preparar para tratar o assunto. Os professores precisam de conhecimento para enfrentar o problema e não cometer erros que acabam por prejudicar o aluno vítima do bullying", explica.
Sem conhecimento, professores podem ser os agentes ativadores do processo de discriminação contra alguns alunos, invertendo o processo de aprendizado. Foi o que aconteceu com o filho da personal trainer Maria Luiza Cerqueira. Ano passado, com 9 anos, Felipe* (nome fictício) cursava a 5ª série em uma escola tradicional localizada no bairro Ribeira. Durante uma aula de matemática, Felipe pediu, por mais de uma vez, que a professora explicasse um assunto o qual não havia entendido. Chateada com as interrupções do aluno, a professora pediu atenção da turma e afirmou que iria começar a aula novamente por culpa de Felipe. "Ela parou a aula e expôs meu filho dizendo que, por causa dele, teria que explicar tudo de novo. Isso foi o suficiente para os outros alunos começarem a chamá-lo de burrinho", diz Maria Luiza.
A reação do filho foi perceptível pela mãe logo no dia seguinte ao episódio. "Ele não quis ir para aula e disse que estava com dor de cabeça. Nos dias seguintes, dizia que estava com dor de barriga, que não queria ir para a escola. Desconfiei na hora", relata Maria Luiza. De acordo com Débora Sampaio, inventar desculpas para não ir à escola é um dos primeiros sinais que as vítimas do bullying apresentam. "Mas é possível que as crianças sintam dores no corpo, enjôos e vômitos devido às consequências das agressões".
Karina Paiva também percebeu que algo estava diferente no filho quando ele tinha apenas 6 anos. Na época, Arthur estudava em uma escola particular no bairro Potilândia. "No início ele chegava calado, retraído e quando eu perguntava alguma coisa, dizia que estava tudo bem", diz. Mas as marcas roxas pelos braços revelavam o contrário. "Um dia ele chegou com arranhão enorme no rosto. Não suportei ver aquilo e fui conversar com os professores". Apesar da direção da escolar prometer resolver o problema, as agressões não acabaram. Cansada de esperar por uma solução, Karina decidiu mudar o filho de escola.
A solução encontrada acabou mostrando-se eficiente nos anos seguintes, porém, por questões de trabalho, foi preciso uma nova mudança de escola. Este ano, já com 11 anos, Arthur estuda numa escola particular religiosa de Nova Parnamirim. O menino ainda não venceu a timidez e, mais uma vez, foi vítima do bullying. Dessa vez a agressão aconteceu no transporte escolar e gerou desdobramentos dentro da escola. "Dessa vez fui falar com a criança que agrediu meu filho. A agressão parou, mas falei com ele dentro da escola e agora a escola quer que eu peça desculpas à criança que agrede meu filho", explica Karina.
Escolas começam a discutir questão
O assunto preocupa pais, professores e diretores de escolas. Como reconhecer agressores e vítimas num universo de centenas de alunos? O que fazer para combater o bullying? As dúvidas são muitas, mas pais e psicólogos têm uma certeza: os educadores de Natal não estão preparados para lidar com o problema. "Quando aconteceu o caso com meu filho, procurei a direção da escola e os professores. Nada foi feito. Faltou um posicionamento mais rígido por parte da escola. Sinto que não há uma preparação deles para lidar com esses casos, por isso mesmo, mudei de escola. Infelizmente o problema persistiu", diz Karina Paiva.
"No caso do meu filho, a agressão foi desencadeada pelo comportamento de um membro da própria escola. Não souberam lidar com a situação e não tomaram providências corretas", afirma Maria Luiza Cerqueira. A mãe afirma ainda que houve uma perseguição da professora contra Felipe. As notas vinham sempre com um pontos a menos e um episódio revoltou a mãe. "Para a Feira de Ciências da escola, a professora avisou ao meu filho que não precisava ir de farda. No dia do evento, ele foi proibido de entrar no colégio justamente porque não estava com o fardamento. O aviso da professora era uma mentira".
O presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Rio Grande do Norte (Sinepe/RN), Alexandre Marinho, afirma que, durante assembleias da instituição, o tema bullying tornou-se recorrente há algum tempo, porém, ameniza a questão. "Esse é um problema que na verdade existe há muito tempo, com o passar do tempo, as coisas mudaram e deram esse nome ao fenômeno. Temos que perceber que nem tudo é bullying. É normal as briguinhas e discussões entre os alunos", diz. Quando a briga deixa de ser considerada "normal", é hora de procurar orientação com psicólogo. "Quando há uma violência maior, os professores comunicam à direção e procuram orientação psicológica".
O limite que separa um simples briga ou discussão entre crianças e o bullying está na forma como a ação é feita. "Uma brincadeira onde todos participam e ninguém fica ferido, é somente uma brincadeira. Mas quando um dos envolvidos sente-se acuado e agredido e essa brincadeira passa a ser diária, podemos caracterizar como bullying", explica a psicóloga Débora Sampaio.
Nas escolas da rede pública municipal, as ações de combate ao bullying ainda são muito tímidas, quase inexistentes. "Não há um projeto da Secretaria de Educação específica para esse problema. Alguns diretores, mais sensíveis à questão, desenvolvem algumas ações em algumas escolas. Mas esse tipo de preocupação é rara", afirma Adriano César, assessor pedagógico do Departamento de Ensino Fundamental (DEF).
Segundo Débora, já existe uma preocupação por parte dos diretores das escolas, porém, há muito o que avançar, especialmente com relação ao preparo dos professores. "Algumas escolas fazem palestras e campanhas contra o bullying, mas é preciso mais ações e preparar o professor. É preciso apoiar esse profissional para que ele não cometa o erros para estimular o bullying", destaca.
Na falta de preparação dos educadores, são os pais quem devem prestar atenção no que acontece com seus filhos. "Mais do que nunca, os pais precisam estar atentos aos sinais que os filhos emitem. É preciso acolher a dor do filho e procurar a escola", alerta.
Bate-papo: Débora Sampaio » psicóloga
Vítimas são sempre as mais frágeis da turma
O que é o bullying?
É uma violência física e psicológica que ocorre, de maneira geral, no contexto escolar, sem motivos aparentes e de maneira proposital e repetitiva. Sempre existe uma relação de poder: o mais forte violenta o mais fraco.
Quem são as vítimas do bullying?
Geralmente são os mais tímidos, mais frágeis, que já têm uma baixa auto-estima. Os agressores não procuram os que se destacam na turma. Os que têm alguma característica física mais evidente - mais gordinho, mais magrinho, orelha grande - também são vítimas em potencial.
Além da vítima e agressor, como deve ser feito o trabalho contra o bullying?
Existem três envolvidos: vítima, agressor e espectador. O espectador pode ser dividido em passivos, ativos e neutros. O passivo ver a violência e fica com medo de tomar alguma atitude. O ativo, na hora da violência, participa junto. O neutro não sente nada. É preciso trabalhar esses espectadores, para que eles denunciem a violência e tornem o ambiente escolar mais sadio.
E o que os pais devem fazer ao descobrir que seu filho é vítima do bullying?
A primeira coisa é acolher esse filho, acolher o medo e a dor mostrando que estão do lado dele. Depois, devem procurar a escola para saber se os professores detectaram essa violência antes e, por último, procurar ajuda médica. A vítima deve passar por uma avaliação psicológica para saber até onde esse trauma o afetou.
A psicóloga alega que algumas instituições já trabalham o tema com os professores e alunos por meio de palestras e atividades paradidáticas, porém, o trabalho ainda é insipiente. "Acredito que as escolas estão começando a se preparar para tratar o assunto. Os professores precisam de conhecimento para enfrentar o problema e não cometer erros que acabam por prejudicar o aluno vítima do bullying", explica.
Sem conhecimento, professores podem ser os agentes ativadores do processo de discriminação contra alguns alunos, invertendo o processo de aprendizado. Foi o que aconteceu com o filho da personal trainer Maria Luiza Cerqueira. Ano passado, com 9 anos, Felipe* (nome fictício) cursava a 5ª série em uma escola tradicional localizada no bairro Ribeira. Durante uma aula de matemática, Felipe pediu, por mais de uma vez, que a professora explicasse um assunto o qual não havia entendido. Chateada com as interrupções do aluno, a professora pediu atenção da turma e afirmou que iria começar a aula novamente por culpa de Felipe. "Ela parou a aula e expôs meu filho dizendo que, por causa dele, teria que explicar tudo de novo. Isso foi o suficiente para os outros alunos começarem a chamá-lo de burrinho", diz Maria Luiza.
A reação do filho foi perceptível pela mãe logo no dia seguinte ao episódio. "Ele não quis ir para aula e disse que estava com dor de cabeça. Nos dias seguintes, dizia que estava com dor de barriga, que não queria ir para a escola. Desconfiei na hora", relata Maria Luiza. De acordo com Débora Sampaio, inventar desculpas para não ir à escola é um dos primeiros sinais que as vítimas do bullying apresentam. "Mas é possível que as crianças sintam dores no corpo, enjôos e vômitos devido às consequências das agressões".
Karina Paiva também percebeu que algo estava diferente no filho quando ele tinha apenas 6 anos. Na época, Arthur estudava em uma escola particular no bairro Potilândia. "No início ele chegava calado, retraído e quando eu perguntava alguma coisa, dizia que estava tudo bem", diz. Mas as marcas roxas pelos braços revelavam o contrário. "Um dia ele chegou com arranhão enorme no rosto. Não suportei ver aquilo e fui conversar com os professores". Apesar da direção da escolar prometer resolver o problema, as agressões não acabaram. Cansada de esperar por uma solução, Karina decidiu mudar o filho de escola.
A solução encontrada acabou mostrando-se eficiente nos anos seguintes, porém, por questões de trabalho, foi preciso uma nova mudança de escola. Este ano, já com 11 anos, Arthur estuda numa escola particular religiosa de Nova Parnamirim. O menino ainda não venceu a timidez e, mais uma vez, foi vítima do bullying. Dessa vez a agressão aconteceu no transporte escolar e gerou desdobramentos dentro da escola. "Dessa vez fui falar com a criança que agrediu meu filho. A agressão parou, mas falei com ele dentro da escola e agora a escola quer que eu peça desculpas à criança que agrede meu filho", explica Karina.
Escolas começam a discutir questão
O assunto preocupa pais, professores e diretores de escolas. Como reconhecer agressores e vítimas num universo de centenas de alunos? O que fazer para combater o bullying? As dúvidas são muitas, mas pais e psicólogos têm uma certeza: os educadores de Natal não estão preparados para lidar com o problema. "Quando aconteceu o caso com meu filho, procurei a direção da escola e os professores. Nada foi feito. Faltou um posicionamento mais rígido por parte da escola. Sinto que não há uma preparação deles para lidar com esses casos, por isso mesmo, mudei de escola. Infelizmente o problema persistiu", diz Karina Paiva.
"No caso do meu filho, a agressão foi desencadeada pelo comportamento de um membro da própria escola. Não souberam lidar com a situação e não tomaram providências corretas", afirma Maria Luiza Cerqueira. A mãe afirma ainda que houve uma perseguição da professora contra Felipe. As notas vinham sempre com um pontos a menos e um episódio revoltou a mãe. "Para a Feira de Ciências da escola, a professora avisou ao meu filho que não precisava ir de farda. No dia do evento, ele foi proibido de entrar no colégio justamente porque não estava com o fardamento. O aviso da professora era uma mentira".
O presidente do Sindicato das Escolas Particulares do Rio Grande do Norte (Sinepe/RN), Alexandre Marinho, afirma que, durante assembleias da instituição, o tema bullying tornou-se recorrente há algum tempo, porém, ameniza a questão. "Esse é um problema que na verdade existe há muito tempo, com o passar do tempo, as coisas mudaram e deram esse nome ao fenômeno. Temos que perceber que nem tudo é bullying. É normal as briguinhas e discussões entre os alunos", diz. Quando a briga deixa de ser considerada "normal", é hora de procurar orientação com psicólogo. "Quando há uma violência maior, os professores comunicam à direção e procuram orientação psicológica".
O limite que separa um simples briga ou discussão entre crianças e o bullying está na forma como a ação é feita. "Uma brincadeira onde todos participam e ninguém fica ferido, é somente uma brincadeira. Mas quando um dos envolvidos sente-se acuado e agredido e essa brincadeira passa a ser diária, podemos caracterizar como bullying", explica a psicóloga Débora Sampaio.
Nas escolas da rede pública municipal, as ações de combate ao bullying ainda são muito tímidas, quase inexistentes. "Não há um projeto da Secretaria de Educação específica para esse problema. Alguns diretores, mais sensíveis à questão, desenvolvem algumas ações em algumas escolas. Mas esse tipo de preocupação é rara", afirma Adriano César, assessor pedagógico do Departamento de Ensino Fundamental (DEF).
Segundo Débora, já existe uma preocupação por parte dos diretores das escolas, porém, há muito o que avançar, especialmente com relação ao preparo dos professores. "Algumas escolas fazem palestras e campanhas contra o bullying, mas é preciso mais ações e preparar o professor. É preciso apoiar esse profissional para que ele não cometa o erros para estimular o bullying", destaca.
Na falta de preparação dos educadores, são os pais quem devem prestar atenção no que acontece com seus filhos. "Mais do que nunca, os pais precisam estar atentos aos sinais que os filhos emitem. É preciso acolher a dor do filho e procurar a escola", alerta.
Bate-papo: Débora Sampaio » psicóloga
Vítimas são sempre as mais frágeis da turma
O que é o bullying?
É uma violência física e psicológica que ocorre, de maneira geral, no contexto escolar, sem motivos aparentes e de maneira proposital e repetitiva. Sempre existe uma relação de poder: o mais forte violenta o mais fraco.
Quem são as vítimas do bullying?
Geralmente são os mais tímidos, mais frágeis, que já têm uma baixa auto-estima. Os agressores não procuram os que se destacam na turma. Os que têm alguma característica física mais evidente - mais gordinho, mais magrinho, orelha grande - também são vítimas em potencial.
Além da vítima e agressor, como deve ser feito o trabalho contra o bullying?
Existem três envolvidos: vítima, agressor e espectador. O espectador pode ser dividido em passivos, ativos e neutros. O passivo ver a violência e fica com medo de tomar alguma atitude. O ativo, na hora da violência, participa junto. O neutro não sente nada. É preciso trabalhar esses espectadores, para que eles denunciem a violência e tornem o ambiente escolar mais sadio.
E o que os pais devem fazer ao descobrir que seu filho é vítima do bullying?
A primeira coisa é acolher esse filho, acolher o medo e a dor mostrando que estão do lado dele. Depois, devem procurar a escola para saber se os professores detectaram essa violência antes e, por último, procurar ajuda médica. A vítima deve passar por uma avaliação psicológica para saber até onde esse trauma o afetou.
Fonte: Tribuna do Norte
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