sábado, 16 de abril de 2011

Seminário na Assembleia debate bullying nas escolas

Jacqueline Heluy
Agência Assembleia


As escolas brasileiras não estão preparadas para enfrentar e prevenir as práticas de bullying entre crianças e adolescentes. O alerta foi feito nesta sexta-feira, 15, durante o I Seminário Internacional sobre o Bullying Escolar e Cultura de Paz, realizado na Assembleia Legislativa.

O evento reuniu educadores do Maranhão e de vários estados, pesquisadores nacionais e internacionais, representantes do governo estadual e municipal e estudantes. Presente a deputada Eliziane Gama (PPS), autora da lei estadual de combate à prática de bullying nas escolas.

Apesar da realidade avassaladora e preocupante, durante o seminário foi informado que o Maranhão já está dando os primeiros passos para este enfrentamento. Oito escolas de cinco municípios estão desenvolvendo projeto de combate e prevenção à prática de bullying a partir de uma ação da organização Plan Brasil, com o apoio das respectivas Secretarias de Educação Municipal. O município de Codó é o primeiro do Maranhão a ter uma lei municipal de combate ao bullying.

De acordo com pesquisadora Cleo Fante, idealizadora do programa antibullying “Educar para a Paz”, o projeto nas escolas maranhenses tem atuado com 3.700 estudantes dos municípios de Codó, Timbiras, Peritoró, São Luís e São José de Ribamar. Os pesquisadores comprovaram que 11% deste total de alunos, equivalente a 407 estudantes, estão vivenciando bullying dentro das suas escolas, dos quais 3% são agressores.

PRÁTICAS AGRESSIVAS

Foram identificados vários tipos de práticas agressivas nas escolas, que vão do xingamento, apelidos à violência física e constrangimento às vítimas, tais como jogá-las em cestos de lixo e até em vasos sanitários.

O projeto desenvolvido no Maranhão envolve a adoção de estratégias, tais como a criação do grupo “Alunos Solidários”, responsável pela socialização e aprendizado dos colegas que se sentem excluídos e cujo rendimento escolar é menor. Cleo Fante informou que tais estratégias conseguiram reduzir 30% dos casos.

Outro ponto positivo criado nas escolas que integram o projeto é o sistema de denúncias em que as práticas de bullying podem ser denunciadas mantendo o anonimato de quem as denuncia. “As vítimas têm medo de denunciar por sofrer retaliações” informou.

O tema “Bullying no espaço escolar” foi abordado no seminário pelo pesquisador Alexandre Ventura, de Portugal, que chamou atenção para o efeito devastador que este tipo de violência causa nas vítimas até à fase adulta. Segundo ele, os malefícios atingem a todos os participantes, vítimas, agressores e testemunhas. Ele disse que enfrentar o bullying é um desafio difícil que exige dedicação e investimento na escola.

ATITUDE COVARDE

Alexandre Ventura informou que o bullying é uma atitude covarde, intencional e de difícil defesa, mas os professores têm que saber identificar a prática, que muitas das vezes ocorre dentro da própria sala de aula. Ele destacou algumas características apresentadas pelas vítimas, como medo, insegurança, notas baixas, rejeição à escola, choro, depressão. Algumas vítimas chegam ao extremo de tendências assassinas e suicidas. A evasão escolar é uma das conseqüências.

Ventura declarou que um programa de combate ao bullying só terá efeito se for incluído no contexto de cada escola como uma ação persistente e que envolva toda a comunidade - família, alunos, coordenadores e professores.

“As conseqüências psicossociais do bullying” foi outro tema abordado no seminário, desta vez pela psicóloga Sonia Makaron, de São Paulo, que chamou atenção para a necessidade de professores e pais não transformarem o bullying em brincadeira de criança. São atos de agressão física e psicológica de caráter intencional, repetitivo e sem motivação aparente. Causam dor e humilhação. Segundo ela, as seqüelas serão para toda a vida com um efeito devastador.

IMPLICAÇÕES JURÍDICAS

O procurador do Estado de Minas Gerais, João Viana da Cunha, destacou durante o seminário as implicações jurídicas do bullying, alertando sobre a necessidade das escolas terem regras internas claras e objetivas sobre o que não deve ser feito pelos alunos para efeito de punições futuras.

O advogado ressaltou que os educadores precisam perder o medo de se posicionarem de forma séria e que no próprio Estatuto da Criança e do Adolescente já há enquadramento para o bullying, Ele informa que o ECA define de forma clara as medidas que devem ser aplicadas às crianças e adolescentes que praticam atos de indisciplina e infração.

“O bullying ofende a dignidade da pessoa humana e o direito ao respeito à criança”, declarou Alexandre Ventura. Segundo ele, a escola é corresponsável nos casos que ocorrem dentro da instituição e aquela escola que se omite está prestando um desserviço à educação.

DESAFIO

Durante o seminário foram abordados também os temas “Cyberbullying e Violência Sexual Facilitada pela Tecnologia da Informação e Comunicação”, exposto pelo engenheiro maranhense Luiz Rossi; “Os aspectos do bullying na Vida de Crianças e Adolescentes” e “A Cultura de Paz no Enfrentamento do Bullying Escolar”, pelo pedagogo Carlos Aguerra, da Espanha. Todos os temas foram debatidos pela platéia com os palestrantes, encerrando com um painel sobre “Pedagogia da Paz”.

Os participantes saíram do seminário com um desafio lançado pelos palestrantes: cobrar das autoridades investimentos na educação, com a qualificação dos educadores e a formação de grupos multiprofissionais dentro das escolas para ajudar neste trabalho. Segundo os expositores, as escolas sozinhas não dão conta de solucionar o bullying.

Fonte: Jornal Pequeno

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