Episódio em Realengo, no Rio de Janeiro, faz reabrir feridas; nome de atirador volta ao noticiário nacional
Lúcio Flávio Moura - enviado especial
O Massacre de Realengo reabriu uma ferida a 800 quilômetros de distância. Por quase uma década, Taiuva, uma cidade de 5 mil habitantes na microrregião de Jaboticabal, tentou esquecer um pesadelo inimaginável para um lugar marcado por uma silenciosa rotina caipira.
Os tiros, os choros, dos oito corpos feridos e de um tombado definitivamente - o do atirador Edmar Aparecido Freitas, 18 anos - na única escola secundarista da cidade, haviam se perdido numa espécie de amnésia coletiva conveniente.
Agora, com os ecos do banho de sangue no subúrbio carioca, é como se a cidade tivesse reencontrado pelo caminho a página mais chocante da história centenária do município, rasgada oito anos antes pelo desejo do esquecimento, logo depois que a dor passou.
Na Escola Estadual Coronel Benedito Ortiz, muita coisa mudou desde aquela tarde de 27 de janeiro de 2003. A diretora é outra, os alunos são outros e o caseiro, Antonio de Souza, que vivia na escola e foi uma das vítimas do atirador, se mudou para o Paraná.
O local que saiu do anonimato da maneira que ninguém queria, guarda, porém, as mesmas características. O culto ao esquecimento venceu e não há nenhum marco ou monumento que lembre o episódio. As instalações simples continuam limpas. O portão não é trancado, apesar de não ter vigilância. A reportagem adentrou os corredores sem ser admoestada até a sala da diretoria.
A professora Maria de Lourdes Jacon Fernandes (ferida de raspão no tiroteio) é a única vítima que mantém a rotina de frequentar a escola. Ressabiada e "cansada de falar sobre este assunto", ela preferiu não dar entrevista.
Marci Araújo Franco de Oliveira, que comanda a escola desde 2009, diz que não teme um novo episódio sangrento. Ela diz que o tema bullying é tratado com mais respeito na escola depois do ataque de Edmar Aparecido Freitas. "Sempre falo que tratar alguém pelo apelido pode ter consequências".
Ela elogia o grupo de 550 alunos da escola. Diz que não há registros de episódios violentos durante sua gestão e que atos de vandalismo são raros. Ela diz que o projeto do Ministério Público formou rede protetiva que simplificou o atendimento a adolescentes com risco de delinquência e o acesso a psicólogos.
A diretora afirma que os professores se sentem bem na escola. "Nosso quadro é bastante estável. Temos pouca alternância nas salas de aula", explica. Marci também está orgulhosa com a qualidade de ensino. Informa que a pontuação da unidade (2,58) é superior a média estadual (1,81) e da microrregião (2,01).
Com a maciça divulgação das mensagens deixadas por Wellington Menezes de Oliveira, o atirador da escola de Realengo, que provocou a morte de 12 alunos, o nome de Edmar, o atirador de Taiuva, também voltou ao noticiário e fez muita gente descobrir ou relembrar o episódio na cidade.
Em um trecho que se refere a atiradores que teriam revidado a tiros as hostilidades de colegas, ele chama Edmar de "irmão".
Fonte: Jornal A Cidade
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