terça-feira, 4 de setembro de 2012

Infraestrutura é o principal desafio de escolas do Recife, Olinda e Jaboatão

Espaço adequado para funcionamento das unidades é um dos problemas.

Auxílio da comunidade para manter parque escolar é alternativa.

Katherine Coutinho Do G1 PE
 
Manter a infraestrutura das escolas é um dos desafios. (Foto: Katherine Coutinho/G1) 
Escola Nossa Senhora de Fátima, em Jaboatão.
(Foto: Katherine Coutinho/G1)

A infraestrutura tem sido um dos maiores desafios das prefeituras e secretarias quando o assunto é educação, no Recife, em Jaboatão dos Guararapes e em Olinda. Os problemas vão desde a estrutura física dos prédios até a falta de espaços adequados para as escolas funcionarem, passando também pelas consequências de assaltos e vandalismo.

Os gestores e secretarias fazem o que podem para driblar os problemas. “Temos uma demanda muito grande, tanto de capinação quanto de serviços de infraestrutura. Temos contratos para capinação, desratização. Manutenção é algo constante, também temos uma empresa terceirizada só para cuidar disso”, explica a secretária executiva de Educação de Jaboatão, Edilene Soares.

Maria Letícia e a mãe, Maria Luziara Lopes, escola Aníbal Varejão, Jaboatão dos Guararapes. (Foto: Katherine Coutinho/G1) 
Maria Letícia e a mãe em frente ao colégio Aníbal Varejão. (Foto: Katherine Coutinho/G1)

A menina Maria Letícia, 9 anos, sonha em ser aeromoça. Sabe que o caminho não é fácil, mas o primeiro passo já deu. “Eu gosto de fazer as tarefas, gosto de estudar”, conta. A mãe, a dona de casa Maria Luziara Lopes, tem 26 anos e conseguiu estudar apenas até a antiga quinta série. “Era muito difícil escola na minha época, para os meus filhos consegui bem mais fácil”, lembra Maria. Ela quer que os filhos estudem, quer vê-los com faculdade concluída ou ao menos o nível técnico.
Dos professores da escola Aníbal Varejão, em Jaboatão dos Guararapes, a mãe de Maria Letícia não tem do que reclamar. A dificuldade atualmente é a infraestrutura da escola onde os filhos estudam. “Quando chove, não dá para vir, fica tudo alagado. Tem muito mato em volta, a escola precisa também de um muro. Tem um espaço enorme aqui fora que não é aproveitado”, diz a mãe.

Diretora mostra o problema da goteira na Escola Isaulina, em Olinda (Foto: Katherine Coutinho/G1) 
Diretora mostra o problema da goteira em escola de Olinda. (Foto: Katherine Coutinho/G1)

A diretora Luciana Araújo, da Escola Isaulina de Castro Silva, em Olinda, é só elogios para a equipe de professores. "Temos uma equipe muito competente, dedicada aos alunos", conta orgulhosa. O telhado é que tem gerado dor de cabeça para a gestora. “Falta de infraestrutura, esse é o maior desafio que enfrentamos. As verbas são complicadas, não chegam o suficiente para podermos ajeitar o telhado. A gente tem muito problema de goteira. Colocamos isopor para tentar segurar um pouco a água”, conta Luciana.

O secretário de Educação de Olinda, Francisco Santos, sabe que os desafios não são poucos nessa área. “A gente tem uma dificuldade em relação à infraestrutura das escolas. Estamos fazendo o que podemos, mas precisamos de novas fontes, novos recursos. Temos 44 escolas que funcionam em anexos, que precisam ser substituídas. Mas precisamos fazer isso com qualidade, não adianta apenas escola, é toda uma estrutura que é necessária”, afirma Santos.

Fachada da Escola Municipal Luiz Gonzaga, na Bomba do Hemetério. (Foto: Katherine Coutinho/G1) 
Fachada da Escola Municipal Luiz Gonzaga, no
Recife. (Foto Katherine Coutinho/G1)

Moradora da Bomba do Hemetério, no Recife, a gerente de salão de beleza Elza Helena tem duas escolas próximas de casa. “Tem escola que a gente vê os problemas do lado de fora, nem precisa entrar. Minha filha estudou numa sala improvisada enquanto as obras não eram feitas”, conta Elza. Uma das escolas a que ela se refere é a Luiz Gonzaga, que passa por reformas.

A manutenção do parque escolar faz parte das obrigações da Prefeitura e também dos desafios. Mais do que construir novas escolas, é preciso manter as condições das que já funcionam. “Esse é um dos nossos desafios, manutenção é algo que tem que ser constante”, lembra Joana D'arc, diretora de acompanhamento e avaliação educacionais da Secretaria de Educação do Recife.
 

Comunidade
Uma das formas de manter as escolas são as parecerias com a comunidade e as ações de conscientização. “Os índices de violência ao patrimônio público têm diminuído bastante, a partir das ações dos programas Escola Legal, Escola que Protege e outras ações preventivas. As escolas ficam dentro das comunidades, os alunos moram em volta. Percebemos que há um respeito maior”, afirma Joana.

Escola Duarte Coelho envolveu a comunidade para vencer problema com pichação. (Foto: Katherine Coutinho/G1) 
Escola Duarte Coelho envolveu a comunidade para vencer o problema da pichação.
(Foto: Katherine Coutinho/G1)

Há dez anos trabalhando na Escola Municipal Duarte Coelho, em Olinda, a diretora Dionaura da Costa tinha um problema sério com pichação quando assumiu a direção. “Nós fizemos um trabalho muito grande com a comunidade. Trouxemos essas pessoas para dentro da escola. Temos uma quadra boa de esportes, onde permitimos que eles jogassem, desde que ajudassem. Colocamos os mais velhos para varrer”, conta Dionaura.

O debate constante com a comunidade tem dado certo. Problemas, sempre surgem. “Escola muito certinha, sem problemas, é porque não tem aluno. O gestor tem que ter um olhar empreendedor, as escolas precisam estar sempre se atualizando. Olhava-se muito a educação como algo apenas quantitativo, mas isso mudou. As pessoas precisam de opções iguais”, defende Dionaura, que tem como um dos orgulhos na escola a biblioteca e a recente sala de informática.

Entender a importância e significado da escola é essencial, acredita a vice-diretora da Escola Cecília Meireles, no Recife, Vera Lúcia Alves. “Fazemos campanhas em parceria com a comunidade. Eles precisam entender que esse espaço aqui também é deles. É preciso que a comunidade se envolva. A gente fala muito do futuro, mas não existe futuro sem presente”, defende Vera.

Escola Cecília Meirelles contou com ajuda dos alunos para arborização e horta. (Foto: Katherine Coutinho/G1) 
Escola Cecília Meirelles contou com ajuda dos alunos para arborização e horta. (Foto: Katherine Coutinho/G1)

Uma das formas de incentivar essa participação foi a criação da horta e da arborização da escola, que ocupa o atual prédio desde 2008. “Levamos as crianças ao jardim botânico e a sementeiras do Recife. Tentamos trazer um pouco da cidade aqui para dentro. Tínhamos quando chegamos apenas palmeira imperial, hoje temos horta, flores, árvores”, conta Vera.

Os desafios sempre existem, como, por exemplo, gerir uma verba que por vezes é restrita e não supre todas as demandas que surgem. “É questão de se organizar. As grades da escola quem fez foi um pai de aluno. O pai de outro é marceneiro e vem instalar uma porta. Assim, a gente vai levando e tudo se acerta. O maior desafio como gestor é sedimentar essa relação entre escola e comunidade”, explica Vera.

Escola Nossa Senhora de Fátima trabalha com salas temáticas. (Foto: Katherine Coutinho/G1) 
Parceria com a comunidade ajuda a manter a escola sem depredação. Escola Nossa Senhora de Fátima, em Jaboatão, tem prédio novo. (Foto: Katherine Coutinho/G1)

Uma comunidade que faz parte da escola ajuda, mas a supervisora escolar Eugênia Gonçalves de Lemos, que trabalha há 17 anos na Escola Municipal Nossa Senhora de Fátima, em Jaboatão dos Guararapes, é cuidadosa. “Não é gaiola bonita que faz canário cantar. O prédio da escola está em boas condições e a comunidade respeita a gente, mas dificuldades existem”, afirma Eugênia.

A escola onde ela é supervisora tem espaço para as crianças brincarem e salas temáticas para a educação infantil. A dona de casa Alexsandra Terezinha conta que o filho de quatro anos, Riquelme, adora a escola. “Um dia sem aula, ele já fica triste. Quer vir até no domingo”, conta a mãe. “Aqui o aluno, brincando, aprende. Temos um quadro de professores muito bom, mas na turma da alfabetização, por exemplo, são 29 alunos para uma professora. O ideal é que fosse menos”, explica a supervisora do Nossa Senhora de Fátima.
 

Outros desafios
Mais do que manter o parque escolar, as prefeituras têm o desafio de manter a qualidade do ensino oferecido, universalizar o acesso à escola para crianças de quatro e cinco anos e a alfabetização de todas as crianças até oito anos. "A gente precisa de qualidade, não adianta apenas escola. Você precisa de um bom quadro de professores, incentivar esses professores à formação continuada", pondera o secretário de Educação de Olinda, Francisco Santos.

Desenvolver junto a gestores, cobrar melhoria em indicadores como aprovação, reprovação e evasão escolar são também pontos com que as prefeituras lidam. "Temos o desafio de sempre melhorar esses indicadores, trabalhar com metas, saber que existem responsabilidades da escola e também da secretaria e os dois devem trabalhar juntos. A escola não é de um prefeito ou de uma gestão, é da comunidade", ressalta a secretária Edilene Gomes, de Jaboatão.

Democratizar a escola, tanto no acesso, como na gestão, é um dos meios de conseguir não somente elaborar metas, como também cumpri-las. "Fórum de gestores, implantação do comitê gestor, garantia de formação continuada para a equipe gestora, fórum e formação dos Conselhos Escolares, tudo isso faz com que a educação avance também", lembra Joana D'arc, da Secretaria de Educação do Recife, destacando o planejamento como uma das ferramentas para melhoria.

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