segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Agressões contra crianças


*Ivar Hartmann

Usa-se um termo inglês – tão ao gosto dos intelectuais brasileiros – Bullying para definir as agressões (físicas ou mentais) que sofrem nossas crianças. Normalmente nas escolas, onde ficam a mercê de um ou mais colegas, e quando a vigilância é frouxa ou inexistente. O próprio uso da palavra inglesa já remete, em nossa mente, a não querer encarar a realidade de frente. A palavra usada de forma desnecessária em língua estrangeira, não fere os leitores e minimiza o fato. O termo correto seria constrangimento físico ou moral, violência, uso da força, prepotência, estupidez, má formação familiar ou agressão. Qualquer delas, de preferência agressão que é mais forte e que leva a realidade de um país que pensa e reage em português e não em inglês. Agressão, de imediato lembra abuso, uso exagerado da força, ataque do mais forte ao mais fraco. E como tal é motivo de repulsa instantânea, da sociedade e das pessoas. Bullying, ao contrário não tem efeito maior em nossas mentes, que apenas traduz a palavra como algo assim: hã, judiaram (zombaram) de alguém.

Cronista ou jornalista, ao escrever um texto busca a palavra que melhor define o fato que quer narrar. Em inglês uma palavra tem vários sentidos. O que entendo pode não ser o que o autor quis dizer. O português, mais rico em vocabulário, permite uma interpretação melhor. Exemplo: se escrevo violência, quero dizer que houve coação, ato de obrigar alguém ao que não deseja, sem danos maiores para o indivíduo. Se escrevo agressão lembro pancada, ataque, que soa mais pesado em meu cérebro ao ler. Esta diferença que parece nada é tudo. Meu filho ser conhecido por zombar de alguém ou ser judiado por alguém, não diz nada para a sociedade. É uma abstração: brincadeiras de crianças sem importância e sem seqüelas. Daquelas que justificam as desculpas dos pais, quando chamados a responder pelos filhos. Ao contrário, a agressão está inscrita no Código Penal Brasileiro, no art.129. Então, o abstrato vira realidade. Agressão praticada por menor pode ser transmitida a pais relapsos. Assim muda tudo. Certo que no Brasil ninguém vai para a cadeia. E, no caso, nem precisa. Mas, e as despesas com advogado, com processo, com ter de ir ao Fórum, com ser conhecido como o pai (ou mãe) que não sabe educar o filho? Isso é nada? Qual leitor está disposto a ser conhecido como um destes?

ivarhartmann@terra.com.br

Fonte: Jornal Agora MS

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