Quem de nós não sofreu na escola um detrimento qualquer que hoje chamaria de bullying? Acho o assunto importante e é bom ver o olho vigilante dos colégios sobre a questão, mas sempre tenho a sensação que o mundo está ficando profissional demais. Fornecemos aos nossos filhos o termo técnico bullying e mal sabemos o limite de quando devemos usá-lo. Ter um apelido na escola é estar sofrendo bullying? Será que nossos filhos olham nossos amigos Bolas, Choquitos, Ferrrugens, Napões e Macarrões como sobreviventes de uma infância cruel? Começo a desconfiar que pode haver muito pai e mãe por aí que voltaram a chamar seus veteranos amigos pelo nome de batismo em prol do politicamente correto. Não duvido.
Há um tempo, a televisão mostrou à exaustão o terrível massacre da escola de Realengo, ressaltando a todo momento que o assassino, um ex-aluno, tinha sido “vítima de bullying”. Eu ficava imaginando quantos pequenos estariam em casa assustados não só com as terríveis imagens que viam, mas com tudo que se misturava agora em suas cabecinhas: as frequentes reuniões de seus pais com a diretora da escola, o empurrão do amigo, o apelido, o assassino de Realengo e as crianças ensanguentadas, tudo dentro de um bule de café.
Acho bom ficarmos atentos ao eventual sofrimento silencioso que nossos filhos possam estar vivendo na escola, mas acho perigosíssimo nomearmos esse sofrimento antes da hora do pedido de socorro, sem permitir sequer que arrisquem uma saída e fazendo com que passem a carregar o fardo não só de um apelido, mas também do título de “vítima de bullying”.Com o abuso da nova palavra, podemos estar, cheios de amor, “bulinzando”, quer dizer, “buliando”, ou, ainda, fazendo nossos pequenos se sentirem estranhos como um bule dentro de suas próprias casas.
DENISE FRAGA é atriz, casada com o diretor Luiz Villaça e mãe de Nino, 14 anos, e Pedro, 13 e-mail: dfraga.colunista@edglobo.com.br |
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