Perante a marcação de um referendo - que poderá não chegar a acontecer ou por vir a ser o último suspiro do governo de Papamdreu -, a Alemanha e a França não demoraram a reagir.
Esquecendo, como de costume, que é com a União Europeia, composta por 27 Estados, e não com Berlim e Paris ,que os gregos têm de conversar. E a reação foi a do costume: a ameaça.
Perante o ato normal em qualquer democracia - referendar a perda de soberania e decisões com repercussões para gerações de cidadãos -, Sarkozy e Merkel falam com um Estado soberano como nunca aceitariam que algum estadista alguma vez se dirigisse a eles próprios.
Isto acontece por três razões. Porque as instituições europeias, depois do desastroso
Tratado de Lisboa, passaram de Bruxelas para Berlim e Paris. A culpa foi de Estados como o português, que acharam, como dizia Vital Moreira, que o tratado era demasiado complicado para ser entendido pelo povo. Cá está ele, no comportamento de Sarkozy e Merkel, trocado por miúdos. Porque o poder absoluto faz perder todas as maneiras. França e Alemanha já não se socorrem da diplomacia, como era hábito na União. Dedicam-se o bullying político. Porque se instalou, nas opiniões públicas dos seus países - e até de países periféricos -, a ideia de que os gregos estão como estão porque são descuidados, corruptos e preguiçosos. O racismo sempre passou bem na velha Europa. E, como sabemos, em França e na Alemanha têm um currículo invejável.
As coisas estão de tal forma que em Bruxelas diz-se que os tratados não preveem a saída do euro sem sair da União. Isto, quando há vários países europeus sem euro. Julgávamos nós que, em democracias, tudo o que não é proibido é permitido. Ficámos a saber que nesta nova e assustadora Europa é a regra das tiranias que funciona: tudo o que não é permitido é proibido. Se estivermos a falar da Grécia, claro está. Como se viu no comportamento da Europa para com os primeiros prevaricadores do limite dos défices - França e Alemanha -, se for deles o erro funciona uma outra máxima: tudo o que é proibido é-nos obviamente permitido.
A pergunta que sobra é esta: quem, mal saia desta crise, quererá ficar na União Europeia e ter de prestar vassalagem a quem apenas alemães e franceses elejam? Orgulhosamente sós? Nem pensar. Mas, como se costuma dizer, mais vale só que mal acompanhado. Se alemães e franceses querem um império que peguem nas armas. Já o fizeram noutros momentos da história. Nem sempre lhes correu bem.
Daniel Oliveira (www.expresso.pt)
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