Mirela Tavares
Do Diário do Grande ABC
Quem ouve a professora Leíde Maria Vieira Todaro, da Emeief Monsenhor João do Rego Cavalcanti, do bairro Campestre, em Santo André, contar sobre as diversas dificuldades de indisciplina que teve com a sua turma no início do ano, acha que ela está mentindo.
Seja na sala de aula, ouvindo-a atentamente; na quadra, cantando todos juntos de mãos dadas; ou no laboratório de informática, fazendo pesquisas silenciosamente e respeitando a vez de cada um, eles em nada se parecem com crianças que até pouco tempo se agrediam física e verbalmente. E foi por causa disso que Leíde criou o projeto Bullying X Indisciplina, em uma tentativa de envolver a escola no diagnóstico e na implantação de ações de redução de comportamentos inadequados e agressivos entre os alunos.
As atividades incluíram desde pesquisas na internet e no jornal para que as crianças entendessem o que era bullying e conceituassem comportamentos indisciplinados até rodas de conversa, leituras específicas, filmes e a produção de um livro abordando o assunto.
Mais importante ainda parece ter sido o plano de envolvimento dos pais e responsáveis durante algumas tarefas e nas reuniões com os professores. “O comportamento agressivo e indisciplinado muitas vezes é consequência da forma como eles tratam as crianças”, conta Leíde, que já ouviu mães chamar os próprios filhos de incapazes, quando não os xingavam ou usavam expressões bastante preconceituosas. Isso sem contar a violência doméstica, algumas vezes também identificada pela professora. Nesses encontros, ela alerta os responsáveis para a importância deles como exemplo para as crianças e como podem lidar com as dificuldades – um desafio enorme, uma vez que muitos deles apresentam esse perfil agressivo.
Porém, preocupada com as crianças, Leíde procura enxergar mais os avanços do que as dificuldades. Explorando em sala de aula os conceitos de amizade, respeito, amor, união e dignidade, ela diz contar hoje com uma turma mais educada, sensível, sociável e comprometida com o aprendizado. E quem confirma são seus próprios alunos. Conversando com eles, é possível ouvi-los contar o quanto todos eram bagunceiros e agressivos.
“Todo mundo brigava, se jogava no chão, dava pontapé, colocava apelido no outro e xingava muito”, afirma Gabrielle Cássia Costa Primo, 8 anos, que afirma: “Agora na nossa escola é só paz”. Kathlyn da Silva Vieira, 9 anos, uma menina doce e amorosa que faz questão de se despedir da entrevista com um beijo em todos, diz que ela mesma se excedia. “Eu beliscava meus colegas”, conta ela sem saber exatamente por quê.
Entre os meninos, a opinião também é a mesma: todo mundo brigava e xingava muito. Mas não é o que parece quando vemos uma criança como Lucas Mateus da Silva, 9 anos, que hoje respeita os colegas.
Mudança de comportamento reflete nas notas
Com a melhora do comportamento, os alunos passaram a focar mais no aprendizado e o resultado foi o melhor desempenho. Segundo Leíde, no início do ano apenas dois alunos realmente liam e escreviam. A maioria era o que se chama de silábica, o que significa que reconheciam o som das palavras, mas não associavam corretamente com a escrita. Hoje são 22 alunos alfabéticos, ou seja, que sabem ler e escrever, e apenas quatro silábicos alfabéticos.
Durante as atividades houve mais concentração, mais colaboração e aceitação entre os alunos. Na hora de chamar atenção, as crianças obedecem. A ordem séria da professora seguida de palavra de carinho quando cumprem o combinado parecem resolver a situação.
“Você não imagina a felicidade e o orgulho que tenho deles”, afirma Leíde, emocionada. O segredo? Ela responde: “Amor”.
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