Este artigo propõe reflexão sobre abordagem que a grande mídia faz sobre o bullying. É fato que os meios de comunicação de massa informam seus espectadores de maneira superficial, onde o espetáculo se sobrepõe ao conteúdo da notícia. Quando isso ocorre pode haver separação entre o real vivido na sociedade e o ‘real' traduzido pelas imagens veiculadas pelos meios de comunicação.
Assim, estas imagens passam a fazer parte do cotidiano dos indivíduos os quais conceituam o bullying, por exemplo, segundo os princípios delineados pelos editores da mídia de massa, muitos dos quais estão mais vinculados aos interesses privados de suas empresas de comunicação.
O posicionamento desta mídia em relação ao fenômeno do bullying exerce papel central. Outrossim, numa sociedade capitalista em que inúmeros conflitos sociais emergem por conta da ideologia do individualismo e do pensamento único (no caso do liberalismo), seria possível assegurar que as grandes empresas de comunicação, apologista deste tipo de sociedade, trate o bullying como desarranjo comportamental que ocorre no ambiente escolar e não como reflexo dos conflitos sociais que derivam do modelo social vigente.
Utilizei como exemplo a tragédia na escola de Realengo. A veiculação de único discurso exclui, na maioria das vezes, estudos sérios sobre o tema trabalhado pelo noticiário, o que caracteriza, na essência, desserviço à sociedade. Se há diferentes opiniões, muitas das quais pautadas em investigações científicas, e estas não são veiculadas pela grande mídia, é possível afirmar que os interesses privados em impor pontos de vista particulares estão se sobrepondo aos reais interesses da sociedade como um todo.
Mesmo estando presente no espaço escolar, não se pode afirmar que o bullying é algo singular a este ambiente. O assassinato de estudantes numa escola de Realengo no Rio de Janeiro foi um caso emblemático pela cobertura dada nos noticiários em rede aberta de televisão. Notou-se que a apresentação da notícia voltou-se para discurso de que tal ato violento tem como causa o bullying que o agressor sofrera no período em que esteve estudando na mesma escola. Pela abordagem das grandes mídias, pareceu que o bullying, além de violência restrita à escola, tem como causa única as relações estabelecidas dentro da escola. O que se colocou na reflexão é que os grandes veículos de comunicação querem que seu público acredite nisto sem ao menos consultar outras fontes de informação, muitas vezes discordantes. A discussão em torno do bullying não tem a pretensão de construir conceito fechado que seja a tradução da realidade, mas refletir, a partir dele, os interesses particulares da grande mídia na manutenção do discurso único como verdade absoluta.
Luciana de Freitas Lanni é professora da Universidade Metodista de São Paulo.
Fonte: Diário do Grande ABC
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