domingo, 20 de novembro de 2011

O que fazer para diminuir a violência nas escolas cearenses?

A relação entre alunos e escola torna-se mais conflituosa a cada dia. Violência externa é considerada como uma das causas. Professores e gestores apontam as soluções

Creio que só haverá solução para a violência nas escolas se nos dedicarmos a superar a cultura de violência a qual estamos todos submetidos. A formação do aluno é complexa, compartilhada entre a escola, a família e a comunidade com quem convive, seja diretamente ou por meio das experiências de comunicação. Portanto, é preciso investirmos na formação de uma sociedade justa, com distribuição de renda garantida e universalização do acesso a serviços públicos de qualidade. De partida, as ações do poder público deveriam ser consideradas ações pedagógicas, no cuidado com as pessoas, com a escola, com a moradia, com as praças e áreas de lazer, com as ruas, com o transporte e o trânsito, com o trabalho, com a saúde, etc. Se bem realizadas, tomaríamos essas ações como expressões do cuidado de si, do outro e do mundo, e assim teríamos mais condições de constituirmos um espaço de paz e liberdade.

ÉRICO ROCHA, Professor da rede municipal de Fortaleza


O que acontece na sociedade reflete no meio escolar. Novas políticas e práticas educacionais poderão atenuar a violência dentro das escolas e criar boas perspectivas para uma cultura de respeito às diferenças. Mesmo com as desigualdades sociais latentes, a simples implementação de um sistema integral de ensino na educação infantil, da pré-escola ao ensino fundamental menor, contribuiria, a médio prazo, para o surgimento de uma nova consciência, com relações interpessoais mais significativas, solidárias, humanas , respeitosas, consistentes e duradouras. A curto prazo, como ação imediata destinada ao público adolescente, até o ensino médio, fase de descobertas, de conflitos e de auto-afirmação, a existência de equipes multidisciplinares, com psicólogos e atividades culturais, trariam maior suporte às coordenações escolares, facilitando e ampliando o diálogo, diminuindo a violência entre os jovens.

HUMBERTO MENDES, Diretor E.E.M. Governador Adauto Bezerra


A Prefeitura de Fortaleza desenvolve diversas ações para enfrentar a violência que atinge as escolas. Destacamos o Programa Território de Paz desenvolvido pela Guarda Municipal, SME e SER V em parceria com o Governo Federal, com o envolvimento da comunidade, a Campanha de Desarmamento da Guarda Municipal, e, por iniciativa da SME a instalação nas escolas de Comissões de Prevenção da Violência Doméstica contra Crianças e Adolescentes. Em parceria com a universidade é desenvolvido o Programa Escola que Protege, que capacita e sensibiliza educadoras para essa questão. Medidas pedagógicas que se somam à política de proteção patrimonial, presente 24 horas na maioria das escolas municipais. É imprescindível compreender que a violência nas escolas reflete os comportamentos da sociedade. O seu enfrentamento exige esforços do poder público e da sociedade civil na construção de uma cultura de paz.

FRANCISCA MÁRTIR, Assessora Jurídica da Secretaria Municipal de Educação (SME)


A violência escolar é um fenômeno psicossocial associado às características do ambiente familiar. Entre crianças de três a oito anos percebe-se como hábitos familiares, tais como excesso de permissividade e acesso sistemático a programas infantis com temáticas de violência, exercem influências sobre comportamentos escolares, dentre os quais: desrespeito à autoridade docente e agressividade dirigida aos pares. Entre os adolescentes a violência tem vínculos com o grupo social imediato (amigos). Nesse caso, os valores impressos pelo grupo induzem a comportamentos de indisciplina, de absenteísmo, de falta de envolvimento com as atividades escolares, dentre outros mais graves, tais como consumo de drogas, pequenos furtos e bullying. Para combater a violência há que se buscar o diálogo regular com as famílias, aproximando-as da escola. Não obstante, cabe ao Estado induzir mudanças sociais profundas, de modo a permitir novos padrões familiares.

WAGNER ANDRIOLA, Professor associado da UFC e pesquisador do CNPQ


Durante 26 anos fui professora em algumas escolas públicas de Fortaleza. Atualmente, sou coordenadora pedagógica no município de Caucaia. Durante todo este tempo, sempre vivenciei algum tipo de violência sendo ela, verbal, física ou psicológica, entre os alunos ou dos alunos para os professores. Sempre procuramos meios para diminuí-la através de conversas informais, de palestras com profissionais, como psicólogos, policiais, sociólogos; mas o ponto mais forte foi quando começamos a trazer a família para a escola, mostrando a sua importância na formação ética e moral dos seus filhos. Só assim foi possível observar uma diminuição desta violência tão aflorada em nossas crianças e adolescentes. Diante disto, chegamos à conclusão de que quanto maior a parceria entre família e escola, menor é o número de ocorrências nos estabelecimentos de ensino.

ROCIEUDA LIDUINA, Coordenadora pedagógica do município de Caucaia


É impossível discutir sobre a violência nas escolas sem fazer referência à violência na sociedade. A escola reproduz, reforça, reflete e resiste ao que ocorre no seu entorno. Precisamos indagar sobre as fontes da violência: como anda a distribuição de renda? Quantos são os indigentes e desempregados? Há escola de qualidade para todos? Há políticas públicas para o combate à pobreza? Os meios de comunicação estimulam o consumismo e a violência? Há expectativa de futuro para os jovens? A corrupção diminuiu? Manchete recente do O POVO, dizia: “menos de 24 horas 15 jovens são assassinados no Ceará”. Todos eram pobres, a maioria de negros. Vemos permanentes violações dos direitos humanos: abuso e violência sexual; violência doméstica; intolerância religiosa; homofobia; racismo; trabalho infantil, uso de álcool e outras drogas. A violência na escola só diminuirá à medida que enfrentarmos coletivamente a injustiça social.

ERCÍLIA BRAGA, Profa. da UFC e coord. do Projeto Rede de Educadores em Defesa dos Direitos da Criança e do Adolescente

Fonte: O Povo OnLine

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