quinta-feira, 17 de novembro de 2011

As marcas da violência

Nos últimos tempos noticias de adultos violentando crianças tem sido quase que rotineiras. Um padrasto deu um soco no enteado de 4 anos que acabou em morte. Um pai matou os dois filhos pequenos porque a mãe não queria reatar o casamento. Outro pai bateu com tanta força nos dois filhos que eles não conseguiram nem levantar do chão, estava revoltado porque as crianças brincaram dentro do seu carro. E o caso mais conhecido é o de Isabella Nardoni. E aqui só citei alguns casos.

São situações que assustam e angustiam quem vê. Mas e quem as vive? Quais as consequências para eles?

A vida não é linear, não tem como afirmar que se X acontecer Y surgirá. As pessoas não são assim, cada um reage e absorve as situações de maneira diferente. Entretanto, a violência deixa marcas sempre profundas. Mágoa, revolta, tristeza e medo são sentimentos comuns a tal situação. Citarei dois caminhos que vejo serem comuns a estas vitimas.

Primeiro, são os jovens ou adultos que aprendem a se colocar na vida da mesma forma que o agressor. Ou seja, encontra na violência a única maneira de se expressar. Assim, quando algo sai errado, diferente do esperado ou necessitado lançam mão da agressão seja com um estranho ou com um familiar. É a manutenção da violência, a que passa de geração a geração.

Em segundo lugar, há os que se tornam o oposto, não expressam agressividade nunca. Ficam tão apavorados com a violência que nem se defendem, paralisam. Tornam-se alvo fácil para bullying tanto em casa quanto fora. Assim continuam como vitimas.

Perceba que as duas formas são manutenções da agressividade familiar, pois muda o agressor – antes apanhava agora bate, antes era o pai quem batia agora é outra pessoa – mas não o ato.

Todos nós temos um quanto de agressividade, alguns mais outros menos. Desde bebe aprendemos a como demonstrar este sentimento, o que depende do ambiente. Os pais são o espelho dos filhos e como todo espelho, podemos viver em paz com ele ou detestá-lo. Alguns filhos se identificam com os pais e por isso agem igual, outros repudiam seus atos e buscam ser diferentes. Até aqui não há problema, se identificar não significa amar mais que o que repudia. Posso amar muito e mesmo assim querer ser diferente. Posso odiar, mas por não saber como me diferenciar, ficar igual.

A questão fica na emoção, no que move aquele comportamento. É enlouquecedor odiar quem amamos. Os pais são amados por seus filhos, a sua presença, olhar, cuidado é desejada pela criança. Se esta pessoa o maltrata, será criada muita magoa e raiva. Surge a ambiguidade do amor e ódio. Essas emoções em doses muito altas são terríveis de viver.

Pois quando alguém grita com uma criança ela fica assustada, coagida. Se para um adulto é difícil se defender da violência que dirá uma criança. O que ela escuta, o que ela vivencia torna-se a sua verdade. E em geral a consequência maior da violência é que crescem pessoas que tem uma imagem de si completamente distorcida, não enxergam quem são, o que querem, o que podem ou não na vida. Andam a ermo, agem e reagem sem uma mente pensante, pois os sentimentos estão à flor da pele – seja reação ou contenção – que não sobra espaço para pensar. Então vivem se arrependendo do que fazem, se calam se sentem errados e se batem também.

É importante lembrar que ser agressivo não se resume ao bater. A gritaria, a humilhação, a aspereza prejudicam tanto quanto.

Independente de como este filho será na vida adulta o que há dentro dele é sempre dor, muita dor.

Por Fernanda Rossi 

Fonte: O Diário




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