Basta ser gordo, magro, baixo ou alto para que crianças e adolescentes sejam vítimas de agressões físicas e emocionais. Apesar da gravidade do problema, as denúncias ainda são poucas
MARÍLIA CAMELO
O Ceará já conta com leis estadual e municipal que preveem a formação dos docentes no combate ao bullying
JULIANA VASQUEZ
Pesquisa realizada com 184 educadores em 23 escolas públicas e particulares cearenses mostrou que 74% não se consideram preparados para trabalhar a situação, 84% nunca falaram sobre o tema com os alunos e 42% sequer sabem exatamente o que significa a expressão bullying
Violência e insultos no lugar do respeito, aprendizagem e brincadeiras. Essa realidade é vivenciada por centenas de crianças e adolescentes vítimas de bullying nas escolas, ambientes que têm como dever a proteção e a formação cidadã.
Contudo, a missão de conter todos as manifestações de violência nas instituições de ensino, que possuem a frente os educadores, é transformada em um desafio ainda maior quando esses profissionais não sabem lidar com o problema.
A deficiência é apontada em pesquisa realizada, entre março de 2010 e outubro deste ano, pelo professor e especialista no tema Luiz Rogério Nogueira. Segundo o estudo, produzido com 184 professores de 23 escolas cearenses, sendo 14 particulares e 9 públicas, 74% destes educadores não se consideram preparados para trabalhar a situação, 84% nunca falaram sobre o tema com o seus alunos e 42% sequer sabem o que significa a expressão bullying.
Para Luiz Rogério Nogueira, existe um grande número de profissionais da área de educação que não sabem distinguir as condutas que levam ao bullying de outros tipos de violência. "Esse não saber lidar é ocasionado pela falta de preparo para identificar e desenvolver estratégias pedagógicas para enfrentar os problemas no ambiente escolar", comenta.
O bullying é um problema que acontece silenciosamente e quando vem à tona pode ser tarde demais. As agressões são justificadas por conta de diferenças físicas ou comportamentais. O fato de ser gordo, magro, alto ou baixo basta para que crianças e adolescentes se transformem em vítimas daqueles que deveriam ser os companheiros no cotidiano escolar.
Poucas denúncias
Mesmo diante dessa gravidade, os números de denúncia de bullying no Ceará são baixos. Conforme Ivana Timbó, titular da Delegacia de Combate a Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes (Dececa), neste ano não foi registrada nenhuma ocorrência a respeito do problema. Em 2010, a delegacia recebeu três casos de bullying.
Ivana Timbó esclarece que as poucas ocorrências são motivadas, sobretudo, pelo fato dos pais resolverem a questão na própria escola. No entanto, a delegada alerta que os pais e o colégio devem procurar ajuda na delegacia, visto que as sequelas físicas e emocionais surgidas a partir do bullying são bastante graves. "A escola é garantidora dessas crianças e adolescentes. Ela tem que encarar o problema. Se o colégio não tomar uma postura ele poderá ser punido, pois o bullying pode terminar em um crime grave", destaca.
A delegada informa que, a partir do registro da ocorrência, dependendo do caso, a situação é resolvida com uma audiência, mas, se for constatada maior gravidade, é instaurado um procedimento policial.
Na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), em Fortaleza, as denúncias de bullying são inexistentes. Iolanda Fonseca, titular da delegacia, afirma que esses casos precisam ser informados na unidade para que as ocorrências possam ser enquadradas corretamente.
Falta suporte
Por meio da pesquisa realizada, constatou-se que 93% dos professores entrevistados afirmaram que a escola onde atuam não oferecem suporte para lidar com o bullying. O estudo concluiu que, apesar de alguns colégios trabalhem o tema através de palestras e atividades paradidáticas, "o trabalho ainda é insipiente. A prevenção começa pelo conhecimento. Se o professor não tem competência em interferir nessas ações de bullying escolar, restam às vítimas poucas alternativas", diz o estudo.
Sobre os caminhos que escolas e professores devem seguir, Luiz Rogério comenta que o fundamental é a elaboração de um plano de combate pelas instituições de ensino e a capacitação de seus professores para lidar com o tema. "Os educadores devem ter capacitação, formação, envolvimento e se antecipar aos problemas, criando na escola um ambiente seguro e solidário. A escola deve se preocupar em formar além de bons alunos, bons cidadãos".
O levantamento aponta ainda ser necessário que o educador se sensibilize e reconheça o bullying como um problema, para depois se aprofundar nas causas, consequências, métodos de prevenção, mediação e solução do bullying e assim agir de forma adequada, distinguindo brincadeira de violência e proporcionando à vítima segurança e respeito às suas diferenças e provocando no agressor a consciência de que seus atos são passíveis de punição.
Sinais de alerta
Ira intensa
Ataques de fúria
Irritabilidade extrema
Impulsividade
Auto agressão
Poucos amigos
Dificuldade para prestar atenção
Inquietude física
Resultados ruins na escola
Queixas físicas permanentes, como dor de cabeça, estômago e fadiga
Abatimentofísico e psicológico
Pouca paciência
Inércia
Frustração frequente
Fonte: Portal Bullying
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Veriana de Fátima colaço
Psicóloga e Dra. em Educação
A necessidade de medidas abrangentes
O bullying acontece com frequência na escola, especialmente porque é um ambiente de convivência de crianças e adolescentes com diversidade de valores, crenças, hábitos e formas de interagir, já que são oriundos de famílias e contextos sociais diferentes, embora compartilhem valores mais amplos. Entretanto, o bullying não é exclusivo do ambiente escolar, também aparece no trabalho, em situações de convivência familiar e de lazer.
Toda situação de humilhação traz repercussões negativas, pois coloca sob um plano negativo a autoimagem, a percepção de si e de sua própria valorização. No bullying, as marcas são profundas, vão sedimentando e reafirmando uma valorização negativa, que, para superá-las, precisa ter suportes e apoios que neutralizem ou compensem essa negatividade. Nesse sentido, se coloca a importância da atuação da família e da escola em proporcionar esse suporte, intervindo para minimizar os efeitos danosos e para o combate a essas formas de relações entre as pessoas.
É necessário que a família e a escola fiquem atentos às manifestações, às condutas de violência física ou simbólicas e às reações apresentadas pelas vítimas de bullying e tomarem medidas efetivas de combate, tanto no sentido mais individualizado, como numa perspectiva mais abrangente de uma política de intervenção geral com normas claras e ações combativas.
ENFRENTAMENTO FRÁGIL
Iniciativas buscam garantir capacitação nas escolas
Diante dos resultados apontados pela pesquisa, é visível a necessidade de aperfeiçoamento dos educadores cearenses para lidarem com crianças e adolescentes que venham a ser tanto vítima como agressor em um caso de bullying.
Ações efetivas ligadas à prevenção e ao combate do problema precisam ser colocadas em prática rapidamente. Umas das iniciativas adotadas neste ano foi a aprovação de dois projetos de Lei, do vereador Salmito Filho. O primeiro, Nº 0127/2011, institui o dia 07 de abril como o Dia Municipal de Combate ao Bullying. Em seu Artigo 3º permite que a Câmara Municipal realize atividades educativas.
Já a Lei 0129/2011 decreta que as escolas municipais de educação básica devem incluir em seu projeto pedagógico medidas de conscientização, prevenção e combate ao bullying. Em seu Artigo 3º, a lei tem como um de seus objetivos capacitar os docentes na implementação de ações de discussão, prevenção, orientação e solução.
Sensibilização
No âmbito estadual, o Governo do Estado propôs a Lei 14.754, já aprovada. Segundo a norma, o Poder Executivo está autorizado a instituir programa de prevenção e combate ao preconceito, intimidação, ameaça, violência física e/ou psicológica originária do ambiente escolar.
O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe-CE), Airton Oliveira, destaca que essa dificuldade dos educadores em lidar com o assunto já foi observada, em especial pelo fato do professor acreditar que deve haver intervenção mais forte da família. Assim, o sindicato, conforme explica, promove ações, de sensibilização dos professores, como encontros com especialistas e distribuição de cartilhas educativas.
"A tendência é que o professor tenha consciência que ele é um elemento fundamental no combate ao bullying. Temos que entender que a escola também tem um papel importante nesta questão", afirma.
Nas escolas públicas municipais, segundo Flávia Góes, chefe do Departamento de Gestão Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação (SME), a Prefeitura vem realizando diversas ações de formação de professores relacionadas ao problema da violência escolar que estaria diretamente ligada ao bullying. "Temos comissões que buscam identificar as manifestações de violência tanto na escola quanto em casa. Desenvolvemos ainda um trabalho de capacitação dos docentes, preparando-os para identificar essas agressões".
Já a Secretaria da Educação do Estado (Seduc) afirma que, baseando-se na norma legal aprovada, está sendo implantando nos colégios estaduais o programa Geração da Paz, visando à construção de uma cultura de paz e combatendo portanto o bullying escolar.
JÉSSICA PETRUCCIREPÓRTER
Violência e insultos no lugar do respeito, aprendizagem e brincadeiras. Essa realidade é vivenciada por centenas de crianças e adolescentes vítimas de bullying nas escolas, ambientes que têm como dever a proteção e a formação cidadã.
Contudo, a missão de conter todos as manifestações de violência nas instituições de ensino, que possuem a frente os educadores, é transformada em um desafio ainda maior quando esses profissionais não sabem lidar com o problema.
A deficiência é apontada em pesquisa realizada, entre março de 2010 e outubro deste ano, pelo professor e especialista no tema Luiz Rogério Nogueira. Segundo o estudo, produzido com 184 professores de 23 escolas cearenses, sendo 14 particulares e 9 públicas, 74% destes educadores não se consideram preparados para trabalhar a situação, 84% nunca falaram sobre o tema com o seus alunos e 42% sequer sabem o que significa a expressão bullying.
Para Luiz Rogério Nogueira, existe um grande número de profissionais da área de educação que não sabem distinguir as condutas que levam ao bullying de outros tipos de violência. "Esse não saber lidar é ocasionado pela falta de preparo para identificar e desenvolver estratégias pedagógicas para enfrentar os problemas no ambiente escolar", comenta.
O bullying é um problema que acontece silenciosamente e quando vem à tona pode ser tarde demais. As agressões são justificadas por conta de diferenças físicas ou comportamentais. O fato de ser gordo, magro, alto ou baixo basta para que crianças e adolescentes se transformem em vítimas daqueles que deveriam ser os companheiros no cotidiano escolar.
Poucas denúncias
Mesmo diante dessa gravidade, os números de denúncia de bullying no Ceará são baixos. Conforme Ivana Timbó, titular da Delegacia de Combate a Exploração Sexual contra Crianças e Adolescentes (Dececa), neste ano não foi registrada nenhuma ocorrência a respeito do problema. Em 2010, a delegacia recebeu três casos de bullying.
Ivana Timbó esclarece que as poucas ocorrências são motivadas, sobretudo, pelo fato dos pais resolverem a questão na própria escola. No entanto, a delegada alerta que os pais e o colégio devem procurar ajuda na delegacia, visto que as sequelas físicas e emocionais surgidas a partir do bullying são bastante graves. "A escola é garantidora dessas crianças e adolescentes. Ela tem que encarar o problema. Se o colégio não tomar uma postura ele poderá ser punido, pois o bullying pode terminar em um crime grave", destaca.
A delegada informa que, a partir do registro da ocorrência, dependendo do caso, a situação é resolvida com uma audiência, mas, se for constatada maior gravidade, é instaurado um procedimento policial.
Na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA), em Fortaleza, as denúncias de bullying são inexistentes. Iolanda Fonseca, titular da delegacia, afirma que esses casos precisam ser informados na unidade para que as ocorrências possam ser enquadradas corretamente.
Falta suporte
Por meio da pesquisa realizada, constatou-se que 93% dos professores entrevistados afirmaram que a escola onde atuam não oferecem suporte para lidar com o bullying. O estudo concluiu que, apesar de alguns colégios trabalhem o tema através de palestras e atividades paradidáticas, "o trabalho ainda é insipiente. A prevenção começa pelo conhecimento. Se o professor não tem competência em interferir nessas ações de bullying escolar, restam às vítimas poucas alternativas", diz o estudo.
Sobre os caminhos que escolas e professores devem seguir, Luiz Rogério comenta que o fundamental é a elaboração de um plano de combate pelas instituições de ensino e a capacitação de seus professores para lidar com o tema. "Os educadores devem ter capacitação, formação, envolvimento e se antecipar aos problemas, criando na escola um ambiente seguro e solidário. A escola deve se preocupar em formar além de bons alunos, bons cidadãos".
O levantamento aponta ainda ser necessário que o educador se sensibilize e reconheça o bullying como um problema, para depois se aprofundar nas causas, consequências, métodos de prevenção, mediação e solução do bullying e assim agir de forma adequada, distinguindo brincadeira de violência e proporcionando à vítima segurança e respeito às suas diferenças e provocando no agressor a consciência de que seus atos são passíveis de punição.
Sinais de alerta
Ira intensa
Ataques de fúria
Irritabilidade extrema
Impulsividade
Auto agressão
Poucos amigos
Dificuldade para prestar atenção
Inquietude física
Resultados ruins na escola
Queixas físicas permanentes, como dor de cabeça, estômago e fadiga
Abatimentofísico e psicológico
Pouca paciência
Inércia
Frustração frequente
Fonte: Portal Bullying
OPINIÃO DO ESPECIALISTA
Veriana de Fátima colaço
Psicóloga e Dra. em Educação
A necessidade de medidas abrangentes
O bullying acontece com frequência na escola, especialmente porque é um ambiente de convivência de crianças e adolescentes com diversidade de valores, crenças, hábitos e formas de interagir, já que são oriundos de famílias e contextos sociais diferentes, embora compartilhem valores mais amplos. Entretanto, o bullying não é exclusivo do ambiente escolar, também aparece no trabalho, em situações de convivência familiar e de lazer.
Toda situação de humilhação traz repercussões negativas, pois coloca sob um plano negativo a autoimagem, a percepção de si e de sua própria valorização. No bullying, as marcas são profundas, vão sedimentando e reafirmando uma valorização negativa, que, para superá-las, precisa ter suportes e apoios que neutralizem ou compensem essa negatividade. Nesse sentido, se coloca a importância da atuação da família e da escola em proporcionar esse suporte, intervindo para minimizar os efeitos danosos e para o combate a essas formas de relações entre as pessoas.
É necessário que a família e a escola fiquem atentos às manifestações, às condutas de violência física ou simbólicas e às reações apresentadas pelas vítimas de bullying e tomarem medidas efetivas de combate, tanto no sentido mais individualizado, como numa perspectiva mais abrangente de uma política de intervenção geral com normas claras e ações combativas.
ENFRENTAMENTO FRÁGIL
Iniciativas buscam garantir capacitação nas escolas
Diante dos resultados apontados pela pesquisa, é visível a necessidade de aperfeiçoamento dos educadores cearenses para lidarem com crianças e adolescentes que venham a ser tanto vítima como agressor em um caso de bullying.
Ações efetivas ligadas à prevenção e ao combate do problema precisam ser colocadas em prática rapidamente. Umas das iniciativas adotadas neste ano foi a aprovação de dois projetos de Lei, do vereador Salmito Filho. O primeiro, Nº 0127/2011, institui o dia 07 de abril como o Dia Municipal de Combate ao Bullying. Em seu Artigo 3º permite que a Câmara Municipal realize atividades educativas.
Já a Lei 0129/2011 decreta que as escolas municipais de educação básica devem incluir em seu projeto pedagógico medidas de conscientização, prevenção e combate ao bullying. Em seu Artigo 3º, a lei tem como um de seus objetivos capacitar os docentes na implementação de ações de discussão, prevenção, orientação e solução.
Sensibilização
No âmbito estadual, o Governo do Estado propôs a Lei 14.754, já aprovada. Segundo a norma, o Poder Executivo está autorizado a instituir programa de prevenção e combate ao preconceito, intimidação, ameaça, violência física e/ou psicológica originária do ambiente escolar.
O presidente do Sindicato dos Estabelecimentos Particulares de Ensino do Ceará (Sinepe-CE), Airton Oliveira, destaca que essa dificuldade dos educadores em lidar com o assunto já foi observada, em especial pelo fato do professor acreditar que deve haver intervenção mais forte da família. Assim, o sindicato, conforme explica, promove ações, de sensibilização dos professores, como encontros com especialistas e distribuição de cartilhas educativas.
"A tendência é que o professor tenha consciência que ele é um elemento fundamental no combate ao bullying. Temos que entender que a escola também tem um papel importante nesta questão", afirma.
Nas escolas públicas municipais, segundo Flávia Góes, chefe do Departamento de Gestão Pedagógica da Secretaria Municipal de Educação (SME), a Prefeitura vem realizando diversas ações de formação de professores relacionadas ao problema da violência escolar que estaria diretamente ligada ao bullying. "Temos comissões que buscam identificar as manifestações de violência tanto na escola quanto em casa. Desenvolvemos ainda um trabalho de capacitação dos docentes, preparando-os para identificar essas agressões".
Já a Secretaria da Educação do Estado (Seduc) afirma que, baseando-se na norma legal aprovada, está sendo implantando nos colégios estaduais o programa Geração da Paz, visando à construção de uma cultura de paz e combatendo portanto o bullying escolar.
JÉSSICA PETRUCCIREPÓRTER
Fonte: Diário do Nordeste
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