Criadora do canal Nunca Te Pedi Nada chegou a ser eleita a mais feia da sala
Maíra Medeiros sofreu bullying na adolescência, enfrentou situações de humilhação no colégio e precisou lidar com a morte do namorado no dia de seu aniversário de 15 anos. Ao R7, a youtuber de 32 anos contou como buscou ajuda para superar os problemas do passado e dar a volta por cima.
— Tudo isso aconteceu no começo da década de 1990. Na época, não tinha noção do quanto ia me afetar e não procurei ajuda. As pessoas não tinham noção, achavam que era brincadeira. Quando reclamava do que faziam comigo, falavam que só acontecia porque gostavam de mim. Assim como a galera da minha idade, tive que lidar com tudo sozinha e sem entender o que estava rolando. Fui eleita a mais feia da sala, mas fui ter uma noção de todo o bullying que sofri e de que era errado quando já tinha conseguido superar. Tive muitos problemas sérios e superei sozinha, porque não tinha outra alternativa a não ser superar.
Formada em publicidade, a criadora do canal Nunca Te Pedi Nada, que defende o feminismo e ajuda as pessoas a trabalharem a autoestima, Maíra falou que demorou para aceitar o próprio corpo e só aprendeu a se amar depois de muito apanhar da vida.
— Por causa do bullying, passei a vida inteira me odiando, odiando meu corpo. Achava que a felicidade dependia da minha beleza e, consequentemente, que a beleza dependia da minha magreza. O lance da autoestima foi uma parada do que aprendi com a minha vida, com as experiências pessoais. Quando comecei a quebrar esse tipo de pensamento, comecei a ficar muito feliz.
Mas a youtuber demorou bastante para se aceitar e entender que a beleza independe do corpo.
— Não tem que ficar triste por causa do corpo. Tento ao máximo explicar para as pessoas que cair nessa de que precisa ser padrão é um atraso na vida da mulher. Porque a gente gasta tanto tempo tentando ser padrão. Essa coisa da academia, salão, depilação, cansa muito. Enquanto a gente está fazendo tudo isso, as pessoas estão fazendo pós-graduação numa boa. A autoaceitação é lenta, passei quase 30 anos me odiando. O que acho mais valioso é ter a consciência de que existem diversos biótipos e um padrão de beleza inalcançável.
Depois de superar os problemas do passado e de trabalhar a autoestima, Maíra decidiu ouvir os amigos e criar um canal no Youtube.
— Nunca fui muito crente em mim como uma youtuber porque sempre achei que não teria magnetismo. Sempre me achei diferente, achava que isso não tinha nada a ver comigo. Fiz o canal mais por causa da pressão dos amigos. Eles falavam que eu tinha muito a dizer, aí comecei a gravar e gostei do processo: da gravação, da edição, de tudo. No começo, fazia o vídeo e mandava para a minha amiga e ela me falava como estava. Ela disse que estava horrível porque não parecia que era eu ali. Até que gravei como sou e todos os amigos gostaram.
Foi assim que surgiu o canal Nunca Te Pedi Nada, que conta com mais de 500 mil inscritos. Nos vídeos, Maíra fala sobre feminismo, autoestima e com suas histórias acaba gerando debate e ajudando pessoas que passaram – ou ainda passam – pelos mesmos problemas que ela.
— É muito legal ter esse feedback de saber que ajudei alguém. Gosto de fazer gerar debate, de fazer uma pessoa parar para pensar em assunto tabu, sobre comportamento repetitivo na sociedade, como o machismo. Mas não chego e falo que a sociedade está de um jeito. Jogo as informações para a pessoa ter sua conclusão. As pessoas começam a pensar, avaliar comportamento e percebem que estão sendo preconceituosas por conta própria.
Maíra tem um público jovem e, por isso, bullying é sempre um tema bastante comentado. Porém, ela alertou que no meio empresarial as brincadeiras entre os colegas de trabalho, muitas vezes, também passam dos limites.
— Quando os mais jovens falam sobre bullying, eles entendem que têm que conversar com o pessoal da escola, com o diretor, com a família e eles sabem que não é bacana fazer isso com as pessoas. Mas a galera mais adulta chama atenção para outra coisa. Muitas vezes, dentro de empresa, também se pratica bullying. A galera zoa todo mundo. Às vezes chega a ser assédio moral. Tem também o cyberbullying com pessoas mais velhas. Falar sobre o bullying é conscientizar pessoas que praticam isso.
Por isso, a youtuber acredita que quem pertence à maioria acaba desmerecendo a luta das minorias justamente por não sentir na própria pele o que o outro está vivendo.
— Quem quer calar a voz das minorias é porque não pertence às minorias. Muitos homens falam que feminismo é mimimi. Eles não fazem a mínima ideia do que é sofrer machismo. Eles fazem isso porque não sofrem, de fato, o que a gente sofre. Costumo perguntar para quem fala mal do feminismo se quando está na rua, tem medo de ser roubado ou de ser estuprado. Não tem como julgar se é mimimi ou não o que o outro está falando porque você não está sentindo a dor dele.
Para o próximo ano, Maíra vai levar às escolas um projeto que envolve igualdade de gênero e está estudando o assunto.
— Não quero fazer uma parada baseada no meu achismo, quero ter embasamento teórico. Eu e uma amiga, que tem ideias parecidas com as minhas, está me ajudando nessa parte. No colégio, às vezes, esses assuntos são calados. É bom o professor homem saber do que a gente está falando, vale à pena a conscientização dos alunos e dos professores. No ambiente escolar, com pessoas mais novas, é uma garantia a mais de que o futuro vai ser melhor. Eles conseguem ser mais maleáveis, sem todo esse preconceito.
Nenhum comentário:
Postar um comentário