segunda-feira, 26 de junho de 2017

A alemã Alexandra Hai se tornou símbolo na luta pela igualdade de direitos entre homens e mulheres.

G1

Alexandra Hai, que há duas décadas desafiou a tradição e se tornou a primeira mulher gondoleira de Veneza, vitou notícia novamente: ela revelou que, apesar de ter nascido com corpo de mulher, sempre se sentiu como um homem.

A revelação aconteceu por acaso, graças a dois jornalistas de uma pequena emissora de rádio dos Estados Unidos, Kristen Clark e David Conrad. "Queríamos falar com a primeira gondoleira de Veneza”, disseram no início de uma transmissão. Os jornalistas imaginaram que iriam descrever a luta de uma mulher que foi da Alemanha até Veneza no final da década de 1980 para quebrar a tradição machista das gôndolas. Em vez disso, se depararam com um homem que por décadas teve que viver como "primeira gondoleira", mesmo sentindo-se do gênero masculino.

"Meu nome é Alex, sou transgênero”, foi a resposta que os jornalistas ouviram do outro lado da linha. Alex escreveu sobre a situação também em sua página no Facebook, em uma longa mensagem postada na última terça-feira (20).

Nascido fisicamente como mulher na Alemanha, Alex relatou que com 3 anos já sabia que era um homem preso em um "corpo errado". Com 15 anos fugiu de Hamburgo, chegando com 29 em Veneza à procura do ambiente certo para realizar um filme.

Com as gôndolas foi amor à primeira vista. Começou assim seu duro aprendizado, até que, poucos meses depois, alguém percebeu o gondoleiro "mulher" e a imprensa começou a escrever sobre ele. "Eu não queria que escrevessem sobre mim. Mas me disseram que eu era 'uma pioneira', e foi assim que tudo começou”, declarou Alex na entrevista. Os “bancali” (os gondoleiros oficiais com licença da prefeitura de Veneza) logo começaram a expressar raiva, chegando até a fazer ameaças e atos de bullying. Mas Alex decidiu resistir.

Após duas reprovações no teste para obter licença de gondoleiro, decidiu recorrer nos tribunais italianos. Ganhou o direito de repetir a prova com uma comissão formada por mulheres. "Naquele dia, se formou uma aglomeração de pessoas em volta dos canais de Veneza, gritando palavras de ódio. Era o inferno”, lembra Alex.

Além disso, os gondoleiros oficiais obtiveram uma mudança dos regulamentos municipais para tentar excluir Alex dos serviços de gôndola. Alex de novo não desistiu, entrou na Justiça contra a prefeitura de Veneza, chegou até a Suprema Corte da Itália e venceu duas vezes.

"A partir desse momento, a história da primeira gondoleira mulher começou a aparecer na mídia do mundo inteiro. E eu já não podia mais dizer ‘vocês estão errados’", diz Alex. Hoje, chegando aos 50 anos de idade, Alex informou que iniciou o processo de transição física e, apoiado pelas associações LGBT, revelou ao mundo sua história. "tou me tornando quem eu realmente sou, não sei o que vai acontecer comigo, tenho medo", disse Alex.

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