Na sala de aula, ele era chamado de senhor Horn. No ringue, porém, ele se transforma na Vespa.
Um relativamente desconhecido professor de educação física australiano está prestes a disputar o título mundial de boxe na categoria meio-médio, contra o filipino Manny Pacquiao.
Se Jeff Horn, de 29 anos - chamado também de "o professor lutador" - conseguir superar o atual campeão, mudará sua vida para sempre.
Sua história no boxe começou 11 anos atrás, quando ele - que se descreve como nerd - entrou em uma academia para aprender autodefesa.
Ainda estudante, seus hobbies eram livros e jogos de tabuleiro, e ele constantemente sofria bullying dos colegas.
O único lutador de sua família era seu avô, Ray Horn, que havia participado de lutas nos anos 1930.
Seu pai, Jeff Horn sênior, é um construtor. Sua mãe, Liza Sykstra, trabalha para uma organização de assistência social.
"Biguei poucas vezes no ensino médio", conta Horn à BBC. "E poucas vezes eu ganhei."
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Mas seu treinador, Glenn Rushton, disse a Horn que ele seria capaz de se tornar um campeão de boxe e decidiu ensiná-lo.
"Vi um talento natural nele - tinha pernas boas e eficientes, era competitivo", declarou Rushton ao jornal australiano The New Daily.
Em 2012, Horn chegou às quartas-de-final do boxe da Olimpíada de Londres, ao mesmo tempo em que concluía seus estudos em Educação.
Chegou a dar aulas em escolas públicas australianas enquanto buscava a profissionalização no boxe, até chegar no ponto atual: é considerado o segundo melhor peso meio-médio do mundo, atrás apenas de Pacquiao. A derrota em Londres foi sua última até agora.
"Estou a apenas um mês da maior luta da minha vida", disse Horn no começo de junho. "Tenho recebido mensagens de meus ex-alunos me desejando sorte."
'Batalha de Brisbane'
Marcada para 2 de julho, a luta entre Horn e Pacquiao está sendo considerada a mais importante da história da Austrália e fez renascer, ao menos temporariamente, o interesse do país pelo boxe. Está sendo chamada de "a Batalha de Brisbane", em referência à cidade que sediará o combate.
São esperados mais de 50 mil espectadores no ginásio, e os ingressos para o evento custam centenas de dólares.
A luta também será televisionada para mais de 150 países, segundo o empresário de Horn, Jim Banaghan.
Tudo isso fez com que a família e a mulher de Horn se vissem diante de um frenesi midiático.
"Eles estão felizes por mim, mas também nervosos", diz o australiano. "Não querem que eu me machuque."
Mas a "Batalha de Brisbane" talvez seja apenas um evento secundário se comparada à luta de 2015 entre Pacquiao e Floyd Mayweather, que se converteu na mais lucrativa da história do boxe.
Pacquiao, 38, que também é senador nas Filipinas, parecia mais interessado em seu celular do que em seu oponente quando participou de uma série de entrevistas promocionais em abril.
"Sei que o que meu oponente está sentindo agora é fome", disse Pacquiao na ocasião. "Já passei por isso. Estive nessa situação. Quando comecei, quando era jovem, até à noite, antes de dormir, eu pensava nas lutas."
Será que Horn tem, então, alguma chance contra Pacquiao, uma lenda do boxe atual e o único boxeador a ter vencido títulos em oito categorias de peso diferentes?
Qualquer que seja o resultado da luta, ela mudará a vida do professor australiano, que se tornará um milionário com o que ganhará dos patrocinadores. E uma vitória pode se tornar um dos maiores feitos do esporte australiano.
O lendário promotor do boxe Bob Arum, que chegou a trabalhar com Muhammad Ali, acredita que a torcida em casa pode dar a Horn uma vantagem considerável.
"Se a luta contra Pacquiao fosse em Las Vegas ou no Madison Square Garden, em Nova York, não veria muitas chances (para Horn) porque acho que ele nunca tomaria o controle", afirmou ao jornal Courier-Mail. "Mas o fato de lutar em frente de tantos conterrâneos vai acalmar os nervos de Jeff, e acho que ele vai se sair bem."
O boxeador australiano Anthony Mundine, dono de três títulos mundiais, disse que um revés de Pacquiao é possível, mas recomenda que o filipino de 38 anos não seja subestimado.
"Ainda que ele esteja no fim da carreira e tenha passado o seu auge, ainda é um lutador perigoso", afirmou à Associated Press. "Mas tudo pode acontecer no boxe."
Horn tem treinado seis dias por semana, imaginando como será entrar no ringue diante de milhares de fãs e diante de Pacquiao.
À primeira vista, os lutadores não poderiam ser mais diferentes entre si. Pacquiao viveu uma infância de miséria nas Filipinas e agora tenta a sorte na política. Horn teve uma vida de relativa prosperidade na Austrália e se tornou professor. Será que eles têm algo em comum?
"Parece que nós dois somos caras legais - exceto quando dentro do ringue", diz Horn. "Vamos tentar acabar um com o outro."
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