quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Bullying e o sofrimento por trás das brincadeiras

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Lançado sem muito alarde pela Netflix, o documentário Audrie & Daisy chegou para os assinantes no mundo inteiro no último dia 23 de setembro. A história segue as trajetórias das duas personagens-título, em casos distintos, onde a vida sexual de ambas torna-se motivo de chacota na escola. Por meio das redes sociais, as adolescentes sofrem os piores tipos de abusos, advindos mesmo de pessoas que julgavam amigas.
A atualidade dos casos é um dos fatores determinantes para o funcionamento do doc. Com os dois tendo ocorrido nos últimos cinco anos, os elementos que permeiam o cotidiano dos jovens atualmente já estavam por lá: o chat do Facebook, a efemeridade do Twitter, os filtros das fotos no Instagram.
Um ponto de destaque do documentário é a forma como uma das personagens muda no decorrer das entrevistas. Em um primeiro momento, se apresenta com sua cor de cabelo natural e um semblante positivo, ainda que tenha experimentado uma situação traumática. Com o aumento dos abusos virtuais, contudo, surgem tatuagens, mudanças súbitas de discurso e a autoflagelação.
Os interessados no tema ainda dispõem de duas outras obras intensas disponíveis na Netflix. Ainda no âmbito da realidade, mas com outras situações, o documentário “Bully”, lançado em 2011, mostra o cotidiano de jovens em escolas estadunidenses. Negra e lésbica, a adolescente Kelby é um dos alvos de xingamentos e piadas no colégio, chegando a sofrer ataques de um professor durante a chamada.
O drama de pais que sofreram com a perda dos filhos para o suicídio também é uma das vertentes analisadas, buscando explorar formas de diálogo que auxiliem na mudança das situações.
Obra de ficção, mas que poderia muito bem ter ocorrido em qualquer parte do mundo, o drama mexicano “Depois de Lúcia” mostra uma garota que, tal qual Audrie e Daisy, tem um vídeo íntimo divulgado pela escola. Nesse ponto, a arte imita a vida real, pois a degradação física e psicológica da personagem se agrava a cada cena, por não poder contar com o pai, preso a um estado catatônico após a morte de sua esposa, Lúcia.  
Um dos trunfos do diretor Michel Franco é o uso da câmera fixa. Sem movimentá-la em momento algum, o espectador é obrigado a assistir todos o cotidiano da jovem Alejandra. Cru, o filme é uma daquelas jóias escondidas em meio a tanta futilidade do serviço destreaming, mas que discute bem os riscos do bullying e os resultados devastadores que pode ocasionar. 

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