As paredes da escola foram testemunhas da violência
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Já passavam das onze horas da manhã em uma escola estadual no Village Campestre, em Maceió. As aulas estavam acontecendo e o ambiente parecia tranquilo. K.S., de 15 anos, estava aflita dentro da sala de aula. Na noite anterior, ela recebeu uma mensagem ameaçadora de uma das alunas do colégio. Ao olhar para a janela da sala, ela via a espera de quem estava com "sangue nos olhos". Em seu pensamento, ela seria massacrada. O sino de largada toca, nervosa e com pressa, ela sai da sala e vai ao banheiro, mas não retorna à classe. Estranhando a demora da menina, a professora vai até o banheiro. Ao chegar, K.S., estava no chão, desacordada, sendo agredida por três garotas. Felizmente, ela foi socorrida por funcionários da escola até uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA), onde recebeu os cuidados médicos. Apesar do anúncio de que a jovem não teria sequelas das agressões, a menina carrega, mesmo dois anos depois, o trauma quase incurável de quem viveu momentos de terror dentro do local que deveria ser sua segunda casa, uma das escolas de Alagoas.
Segundo ela, uma das garotas estava mandando mensagens via internet, dizendo que "iria pegá-la", devido ao ex-namorado da agressora se envolver com a vítima. "Tinha duas semanas que ela me agredia verbalmente no Facebook. Até aí, tudo bem. Mas depois chegaram as ameaças pelo Whatsapp e eu comecei a ficar com medo. Mesmo assim, achei que ela não era capaz de me machucar tanto", desabafa.
Após a briga, K.S. mudou de colégio e hoje é acompanhada por um psicólogo, que tenta fazer a menina esquecer os piores momentos de sua vida. "Tento não ser uma pessoa assustada. Mas depois disso, não tem jeito. Graças a Deus, o psicólogo me ajuda a ter uma melhor socialização. Às vezes eu ainda sonho com aquela cena", expôs.
Violência é presente em muitas escolas de Alagoas
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Como K.S., um rapaz de 17 anos, que prefere ser chamado apenas por "Will", é homossexual e não esquece das cenas de violência contra ele. Garotos do colégio costumavam ser preconceituosos com o menino. Um dia, o mal piorou e Will foi levado para um terreno da escola, onde foi literalmente torturado, tanto fisicamente como mentalmente.
Segundo o psicólogo escolar, especializado em adolescentes, Aristeu Tavares, o maior dano da agressão e do bullying nas escolas é psicológico.
"Maioria das pessoas agredidas, carregam o problema ao longo da vida, em diferentes situações. As vezes, em um problema que não tem relação com a agressão, ela vê um certo 'perigo' ali. Então os danos são enormes. Crises de pânico, depressão e, dependendo, algo mais grave, podendo levar ao suicídio. A pessoa que foi agredida deve receber auxílio psicológico imediatamente para não sofrer os tais danos e, a depender da gravidade, um psiquiatra deve ser consultado", informou.
Vídeo mostra aluno sendo agredido na porta da escola
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Ainda segundo o profissional, muitos dos problemas dos agressores começam em casa e a prevenção da violência é a maneira mais eficaz de erradicá-la. "Muitos agressores possuem, em casa, uma má formação. A escola deveria agir como uma metamorfose para o aluno, mas acabada servindo de abrigo para muitos. A falta da presença dos pais é algo que piora ainda mais o problema. Porque hoje, o diálogo e a orientação são aliados valiosos para a família, a fim de evitar um mal maior. Sem isso, muitos procuram ter atenção entre os amigos, adquirindo para si um poder 'dominador' sobre os outros", disse.
O psicólogo afirma que o uso de drogas é um dos fatores do aumento da violência no ambiente escolar. "A droga modifica a personalidade do sujeito, de forma que ele se torne outra pessoa, sendo inconsequente".
Dados da Pesquisa Nacional de Saúde Escolar (Pense), por meio do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de estudantes que usam drogas e álcool cresceu assustadoramente. No ano de 2012, era de 26,8%. Em 2015, os números chegaram a 55,3%.
Tavares diz ainda que devem ser criados espaços de escuta psicológica para melhorar as relações interpessoais na escola. "Desta forma, a violência diminui bastante. Conscientiza e transforma o ambiente, quando todos estão em harmonia", completou.
De acordo com a subcomandante da 1° Cia do Batalhão de Polícia Escolar (BPEsc), tenente Mariana, não há dados sobre número de ocorrências com relação à violência em escolas. No entanto, os fatores que podem provocar a reação de violência de alunos tem sido coibida pelo Batalhão. Somente este ano, no interior de escolas ou em seu entorno, 64 armas foram apreendidas, além de 14,1 kg de drogas.
BPEsc tem realizado trabalhos entorno de escolas em torno
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Veja a entrevista com a tenente Mariana sobre a atuação do BPEsc
A violência não se faz presente, apenas, em escolas públicas. Em uma escola particular, na parte alta de Maceió, R.S.J., de 17 anos, foi agredido quando estava no banheiro por quatro alunos do colégio. Apesar de ser praticante de artes marciais, o garoto não conseguiu parar os agressores. Ele teve a camisa rasgada e cortes na região do braço. O motivo da violência seria que o menino estaria em uma relação de amizade com a namorada de um dos infratores, que sentiu ciúmes do casal de amigos. Ele foi expulso da escola após o ocorrido.
"Eu e a namorada dele tínhamos uma relação de amizade, desde o início do ano letivo. Ele começou a me tratar mal e inventar coisas a meu respeito. Nunca tomei satisfações ou coisas do tipo. Mas com covardia, ele chamou os colegas, que me bateram na hora em que eu lavava as mãos. No início, fiquei traumatizado, até quis mudar de colégio. Mas a instituição e meus pais deram muito apoio e eu consegui superar em partes. Ainda sinto medo, de certa forma", desabafa.
Final trágico
Menino teria sido agredido em escola
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Em outros casos, o fim da ação de violenta entre alunos pode terminar de maneira trágica. Em maio deste ano, Willamys dos Santos, de 9 anos, foi espancado quando brincava com os colegas de classe no intervalo, em uma escola municipal, no município de Teotônio Vilela, no interior de Alagoas. Após sentir fortes dores abdominais, o menino foi levado ao posto de saúde do município, mas não resistiu.
De acordo com o Conselho Tutelar, que acompanha o caso, funcionários da escola dizem não terem visto o momento da agressão. O laudo do exame de necropsia apontou como inconclusivo. Já a mãe, Eliane Messias, conta que o garoto confessou que foi espancado por colegas de classe com socos e pontapés. A Polícia Civil está apurando o caso, que ainda não foi resolvido.
Também no interior do estado, o estudante Francisco Almeida dos Santos foi morto a tiros quando entrava na escola, no município de Coité do Nóia. Os alunos do local viram a ação e ficaram bastante assustados.
Segundo a polícia, ele era aluno da Escola de Ensino Fundamental José de Sena Filho. As motivações do crime ainda são desconhecidas. O caso está sendo investigado pela Polícia Civil.
Aluno de escola foi morto na porta da instituição
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A realidade nas escolas públicas
O diretor de uma escola no Vergel do Lago, que preferiu não ser identificado, conta que a violência e a apologia ao crime são constantes. "Alunos trocam farpas uns com os outros e acham que o crime compensa. Muitos se gabam pelo fato de serem envolvidos com o tráfico e procuram ameaçar alunos que são mais tranquilos. A violência é algo presente. Creio que não só em meu colégio, mas na maioria", expôs.
Ele informou ainda quais os procedimentos adotados para coibir as ações violentas dos agressores.
Ouça o podcast com o diretor da escola falando sobre a violência no local (Link abaixo)
A solução para o Governo
De acordo com a supervisora da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), Dileuza Costa, todas as instituições de ensino possuem apoio pedagógico permanentes para coibir a violência. "Além disso, nós temos o núcleo de mediação de conflitos nas escolas para evitar atos violentos", informou.
Dileuza informou ainda que parcerias são realizadas com fundações e projetos para que sejam realizadas palestras, que ajudam no combate às drogas, uso do álcool e violência. "Essas parcerias estão sendo essenciais para combater crimes nos ambientes da escola, tendo em vista que lá estamos formando pessoas e precisamos de um local limpo. Estamos sempre presentes para que isso aconteça", completou.
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