segunda-feira, 15 de abril de 2013

Cada vez mais garotas apanham dos namorados e sofrem violência virtual

Talvez seja difícil acreditar que nos dias de hoje ainda existam mulheres que apanhem do marido ou do namorado. Mas o fato é que os casos continuam assustando e atingem uma geração teoricamente melhor informada. O volume de denúncias à Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher de Campo Grande é prova disso e mostra o quanto essas ocorrências aumentaram, inclusive entre casais de adolescentes.

Em 2010, foram 88 registros que abrangiam a faixa etária de 12 a 17 anos. Em 2011, esse número subiu para 102. No ano passado saltou para 154 e até o último dia 11 de abril, a Deam registrou 68 boletins de ocorrências de violência entre casais nessa faixa etária.

Entre jovens de 18 a 25 anos, em 2010 foram 884 boletins de ocorrência por violência. Em 2011, foram 1.141 registros. No último ano o número subiu para 1.252 e até o dia 11 de abril, já foram 359 boletins.

Uma pesquisa realizada pela Fiocruz, com 3,2 mil jovens de 15 a 19 anos, comprova que a violência contra a mulher começa bem cedo, em muitos casos ainda na época do namoro. Dados que fazem a delegada adjunta da Deam (Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher), Marília de Brito Martins, alertar para novos conceitos de relacionamentos, que atingem diretamente aos jovens e criam novas formas de violência.

Ela diz que os casais "juntam as escovas de dentes" cada vez mais cedo, mas isso não significa que a relação seja duradoura, pois ao mesmo tempo que há essa intimidade precoce, as uniões estão mais provisórias. Contudo, a delegada afirma, fundamentada na pesquisa, que alguns padrões tradicionais ainda são preservados nos relacionamentos, como o machismo. 

"É algo cultural, a pesquisa aponta que os homens têm as mulheres como objeto, e podemos ver essa realidade claramente em músicas e programas de televisão", explica a delegada Marília.

Delegada Marília alerta para novos conceitos de relacionamentos, que atingem diretamente aos jovens e criam novas formas de violência. (Foto: Simão Nogueira)Delegada Marília alerta para novos conceitos de relacionamentos, que atingem diretamente aos jovens e criam novas formas de violência. (Foto: Simão Nogueira)

Ainda conforme a pesquisa da Fiocruz, entre os casais contemporâneos a mulher ganha um papel questionador na relação, e, principalmente entre os mais jovens, ela também vai se transformando em uma agressora. "Mas não se compara a lesão corporal provocada por um homem, que são mais fortes e agressivos", diz a autoridade.
De acordo com os dados da Deam, as denúncias mais comuns são de lesão corporal, injúria, ameaça e viasde fato. E neste contexto, surge uma nova forma de agressão, a virtual. "Está se tornando cada vez mais comum a humilhação pública via internet, com jovens jogando em redes sociais vídeos e fotos dos parceiros em situações que constrangem o parceiro", alerta a delegada.
E o combustível das brigas, na maioria dos casos, é o ciúmes. Mas claro que o convívio social e familiar interfere na reação a esse sentimento, que por vezes também é confundido com afeto e carinho por parte do parceiro. "Geralmente o agressor vem de uma família com histórico violento, de pais que se agridem, fisica e verbalemnte", completa a delegada.
Apesar de todos os números crescentes, a delegada ressalta que não foi a violência contra a mulher que aumentou, mas sim o número de denúncias. "Tudo o que se refere à intimidade há dificuldade em expor, a mulher se sente envergonhada, mas hoje temos amparo legal que encoraja a denúncia", afirma a delegada, relembrando a Lei Maria da Penha.
A violência contra amulher, como é bem detalhada na pesquisa da Fiocruz, de acordo com a delegada adjunta da Deam, está inserida no contexto social como um todo e não é separada por raça ou classe social.
A denúncia é importante para o combate e em Campo Grande ela pode ser feita pelo telefone 3384-1149, ou na própria delegacia, localizada na rua 7 de Setembro, 2421, Centro.

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