sábado, 14 de julho de 2012

Mais de 500 queixas de violência contra crianças em Aju

Só em 2012 já foram registrados 562 boletins de ocorrência
Delegada afirma que número de denúncias aumentou (Foto: Portal Infonet)
O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) completa 22 anos, mas apesar de muitas transformações ao logo desses anos, o aumento da violência doméstica tem crescido assustadoramente. Segundo a delegada da Delegacia de Criança e Adolescente Vítima (DEACAV) Mariana Diniz, só em 2012 já foram registrados 562 boletins de ocorrência de violência contra crianças e adolescentes.

As famílias devem está alertas para a mudança de comportamento das crianças e adolescentes em casa. Os principais sintomas da agressão são baixa auto-estima, comportamento agressivo ou depressivo, tristeza profunda, baixo aproveitamento escolar e fuga do lar.


A delegada ressalta que a  maioria dos casos que tramita na Deacav diz respeito à prática de maus tratos e de violência doméstica- física e sexual- contra crianças e adolescentes. As agressões de pais contra as crianças ainda são comuns mesmo com 22 anos do ECA. “O agressor defende a aplicação de disciplina severa na criança e cobra desempenho físico e intelectual acima de sua capacidade. Além de possuir um temperamento autoritário e controlador”, afirma Mariana.


A violência física pode ser definida como o uso da força física de forma intencional praticada por pais, responsáveis, familiares ou pessoas próximas com o objetivo de ferir. Segundo a  delegada Mariana Diniz, a criança é vista pelo agressor como objeto que lhe pertence. Além da violência física, há uma grande demanda de denúncias de violência sexual contra crianças e adolescentes.


Violência sexual


De acordo com dados da Deacav, o número de denúncias anônimas tem aumentado.  “A demanda está aumentando muito, mas não é porque a criminalidade está maior, e sim porque as pessoas estão mais conscientes. Recebemos muitas denúncias anônimas. Já chegamos a apurar vários crimes através da colaboração das pessoas”, afirma  Mariana.


Não há uma faixa etária para o agressor que comete abuso sexual contra crianças e adolescentes. As estatísticas  apontam que a maioria dos casos acontecem no ambiente familiar, sendo os  pais e padastros os principais agressores.

“A maiorias das mulheres que denunciam  a violência apoiam os filhos, porém há muitos   casos em que a mãe é conivente com o agressor. Mulheres que afirmaram que não deixam o esposo por nada. Elas preferem não acreditar para não modificar toda estrutura familiar”, conta a delegada Mariana.

Denúncia


As vítimas possuem muita dificuldade em relatar o abuso, pois os agressores  são pessoas próximas. A delegada Mariana Diniz que o apoio familiar a vítima é de extrema importância para que ela possa sentir segurança para narrar a agressão “A família precisa estar atenta a toda mudança de comportamento e adotar postura de atenção  e fazer com que eles sintam segurança. Muitas relatam a dificuldade de contar para a mãe, que pode não acreditar. Além da pressão psicológica do agressor que afirma que a criança vai para o abrigo, a mãe vai para cadeia, até ameaça de morte. Com isso a cabeça da criança fica um caos”, relata.
Aniversário do Eca

Coordenador conta avanços ao longo de 22 anos
O Estatuto da Criança e Adolescente (ECA) foi criado no dia 13 de julho de 1990  com o objetivo de garantir os direitos a criança e adolescente. “ Passamos por uma ao  sair do Código de menores para o ECA. O Código de Menores só garantia proteção a criança e adolescente  em  situação de vulnerabilidade ou situação de risco. Já o Eca  garante que toda criança e adolescente  é sujeito de direitos”, afirma o presidente do Conselho estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente, Danival Falcão.

Em Sergipe são 87 conselhos tutelares distribuídos no Estado. Os municípios que mais possuem conselhos tutelares são Aracaju com cinco e Nossa Senhora do Socorro com  quatro.  O Conselho Tutelar tem o papel de requisitar os serviços públicos para que nenhum  direito da criança seja violado.


Evasão das vítimas


Em casos de violência sexual a crianças e adolescentes, o Conselho Tutelar aciona a delegacia especializada que requisita o exame de corpo de delido, depois a vítima é encaminhada à maternidade Nossa Senhora de Lourdes .

O presidente do Conselho Estadual  ressalta que quando a família descobre a violência sexual há um cuidado imediato  com a criança, que é encaminhada para a maternidade, mas após o tratamento há uma evasão. “A luta da rede de proteção é para que no momento que chegue o conhecimento do conselho tutelar que este caso não volte atrás. Por isso em muitos casos o inquérito policial não é instaurado”, conta Falcão.

Educação


O papel do educador na escola é apontado pelo presidente do Condeca como principal fator de prevenção para os casos de violência contra crianças e adolescente no ambiente familiar. É necessário qualificar o olhar do educador para identificar a agressão. Precisamos trabalhar a prevenção, a escola precisa conhecer cada aluno. Porém é necessário a capacitação desses profissionais oferecendo melhores condições de trabalho.


Em agosto Sergipe fará parte da campanha contra os castigos físicos.“ Pretendemos trazer ainda em agosto a rede ‘Não bata, eduque’ porque é preciso refletir sobre esta violência  física.  O que mais percebemos é naturalização da violência no ambiente familiar. Quem disse que violência é sinônimo de amor?”, questiona Falcão. A população pode denunciar os casos de violência contra crianças e adolescentes através do Disque-Denúncia 181 ou 100.
 Por Adriana Freitas e Kátia Susanna

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