quinta-feira, 5 de julho de 2012

Bullying: sofrimento infantil

Quem passa por esse processo geralmente se torna triste e introspectivo. Aprenda a identificar se seu filho sofre com esse problema na escola ou em outros ambientes

Por Ivonete Lucirio | Ilustração Mauro Nakata


A situação não é nova. O que se sabe é que, desde sempre as crianças sempre atacaram umas às outras, e os mais fracos viraram vítimas. Por anos e anos, muitos sofreram calados como se isso fosse natural. Nos últimos tempos o fenômeno começou a ser mais bem estudado, o que é uma boa notícia, porque o sofrimento pode ter fim antes que cause um mal mais profundo. Mas uma coisa é certa: os problemas físicos e psicológicos podem ser grandes. Segundo um estudo publicado em abril no British Medical Journal, as crianças que sofrem bullying são três vezes mais propensas a machucarem a si mesmas. O estudo foi conduzido pelo Kings College, de Londres. Foram avaliadas cerca de 2 mil crianças com idade entre 5 e 12 anos. Dessas, 237 sofriam bullying e 18% delas tinham o hábito de se ferirem propositadamente. Entre os ferimentos estavam cortar os braços, arrancar os cabelos e bater a cabeça na parede. O estudo revelou ainda que um quarto das crianças inglesas sofre com esse tipo de molestação.

Nem sempre as ameaças são físicas, muitas vezes se caracterizam por humilhação, adjetivos depreciativos. É um ataque à autoestima


 
A falta de dados
No Brasil não existem pesquisas precisas que possam indicar a quantidade de crianças ou adolescentes que passam ou passaram por esse tipo de constrangimento. "Sabe-se muito pouco sobre o bullying escolar por aqui. Este fenômeno começou a ser estudado há cerca de 30 anos lá na Europa, e há menos de dez anos aqui no Brasil", declara o promotor de Justiça de Minas Gerais, Lélio Braga Calhau, especializado nesse assunto.
"E somente nos últimos três anos aumentaram as pesquisas nacionais. Portanto, ainda não há números comparativos para saber se, realmente, o problema está mesmo crescendo." Além disso, ainda não se sabe precisar as consequências físicas e psicológicas em grande escala. "O que se pode afirmar é que o estresse pode fazer que a criança desenvolva até mesmo sintomas físicos, como dores de cabeça, gastrite e outras doenças psicossomáticas", diz a psicóloga Maria Isabel da Silva Leme, especializada em psicologia da aprendizagem, da Universidade de São Paulo (USP).


De olho nos sinais
O limite entre o bullying e as brincadeiras algumas maldosas típicas das crianças é algumas vezes difícil de ser identificado. "Um ato isolado não pode ser considerado bullying. Ele caracteriza-se sempre pela repetição da agressão", diz Calhau. Ou seja, não é porque a criança foi chamada de gordinha uma vez que ela está sofrendo esse tipo de admoestação. "Um caso isolado, se for extremo, pode configurar um crime, como difamação, ameaça ou constrangimento ilegal", completa o promotor. O fenômeno envolve uma intenção de dominação de um o autor sobre o outro  a criança que recebe a carga agressiva e sofre.

Acontece sempre entre iguais, não se trata de uma questão de hierarquia. Nem sempre as ameaças são físicas, muitas vezes se caracterizam por humilhação, adjetivos depreciativos. Na verdade é um ataque à autoestima. Alguns sinais são indícios claros de que a criança passou a ser molestada. "Se ela gostava de ir à escola e passa a não querer ir mais, arrumando pretextos como dor de cabeça e dores de estômago, há um forte indício", explica a psicóloga Maria Isabel. "Ela pode também se tornar retraída e quieta", completa. No caso dos meninos, podem aparecer em judicial que seja totalmente efetiva para o caso", casa com escoriações ou marcas roxas. Já no caso das meninas, as marcas físicas são menos comuns, já que as agressões são morais como xingamentos e difamação. Além dos sinais psicológicos, certos sintomas físicos podem surgir. Algumas perdem o apetite e outras passam a ter pesadelos frequentes.


Fale com eles!
Se há suspeita de que a criança esteja sofrendo algum tipo de constrangimento na escola, o melhor a fazer é falar com ela. "Converse com calma num diálogo franco e aberto, olhos nos olhos. Deixe-a à vontade. Anote datas, horários e nomes. Assim, fica fácil checar a veracidade dos fatos", diz Calhau. Na sequência, os pais devem procurar a escola. "Verifique antes o regimento interno para saber se existe um procedimento para reclamações sobre os casos de bullying. Não vá à escola ameaçando entrar com processos judiciais  seus representantes podem agir mais para defender-se do que para ajudar a criança", completa o promotor.
 

MALDADE NA REDE
cyberbullying é ainda mais nocivo devido à sua alta capacidade de contaminação. Depois que se coloca algo na rede, perde-se o controle sobre ele. Esse é um dos motivos pelos quais o cyberbullying - o bullying com o uso das ferramentas da internet - é tão nocivo. Pelo menos quando o bullying acontece apenas na "vida real", a criança tem uma folga quando está em casa. Na internet, ele se perpetua. As redes sociais são especialmente nocivas porque é lá que os amigos se encontram. "Antes as agressões eram apenas nas salas de bate-papo, fóruns, e-mails. 

Hoje, com as redes sociais, as postagens podem se multiplicar velozmente. Depois não há decisão judicial que seja totalmente efetiva para o caso", diz o promotor Calhau. O cyberbullying é também bastante ligado ao ambiente escolar, segundo uma pesquisa realizada na Universidade de Gothenburg, na Suécia, em 2010. Os pesquisadores perceberam que o assédio cai muito no período de férias. No caso das crianças, o melhor que os pais têm a fazer para evitar o cyberbullying é só permitir que elas acessem redes específicas para sua idade. No caso dos adolescentes, mais sujeitos a esse tipo de violência, os pais devem ficar atentos a qualquer tipo de alteração de comportamento.

Fonte: Revista Viva Saúde

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