sábado, 10 de março de 2012

Bullying, implicações e impactos na aprendizagem e na saúde.


            Fenômeno presente em muitas escolas do país, o bullying tem sido fonte de preocupação de educadores e profissionais de saúde, e mobiliza diversos segmentos da sociedade pela violência com que é praticado, e pela gravidade de suas conseqüências.
            Lisboa, Braga e Ebert (2009) definem o bullying como o fenômeno pelo qual uma criança ou adolescente é exposta a um conjunto de atos agressivos (diretos ou indiretos), que ocorrem sem motivação aparente, mas de forma intencional, protagonizado por um ou mais agressores.
            O bullying se diferencia de outros tipos de agressão por seu caráter repetitivo e sistemático e a intencionalidade de causar dano ou prejudicar alguém que normalmente é percebido como mais frágil e que dificilmente consegue se defender ou reverter a situação.
Os atos agressivos são baseados em uma relação desigual de poder e ausência de reciprocidade, nela a vítima possui pouco ou quase nenhum recurso para evitar ou defender-se da agressão que sofre. Mesmo que não aparente, as agressões podem ter as mais variadas motivações, como estatura física, peso, deficiências visuais, auditivas, raça, credo religioso, origem social ou geográfica, sexo, gênero e orientação sexual. Infelizmente tais práticas são tradicionalmente admitidas como naturais, sendo habitualmente ignorados ou não valorizados, tanto por professores quanto pelos pais, o que acaba por facilitar sua continuidade.
Lopes (2005) afirma que o bullying pode ser classificado como direto, ou seja, aquele em que as vítimas são atacadas diretamente, como a imposição de apelidos depreciativos, agressões físicas, ameaças, roubos, ofensas verbais  ou expressões e gestos que causem mal estar ao alvo; E indireto, que compreende atitudes de indiferença, isolamento, difamação e negação aos desejos. Além disso, atualmente observa-se uma nova modalidade dessa prática, denominada cyber-bullying, que consiste no uso da tecnologia de comunicação e informação (e-mails, telefones celulares, mensagens de texto, fotos digitais, sites de relacionamento, entre outros) como recurso para a adoção de comportamentos deliberados, hostis, de um indivíduo ou grupo, que pretende causar dano ao outro.
            As conseqüências do assédio moral e físico sofrido por crianças e adolescentes no ambiente escolar são inúmeras. No ambiente escolar vão desde a queda do rendimento, passando pela dificuldade de concentração e culminando com a evasão escolar. O bullying no ambiente escolar acaba criando um ambiente desmotivador, levando o estudante a não se sentir seguro em um lugar que deveria favorecer sua aprendizagem, onde suas potencialidades deveriam ser estimuladas, acaba por se mostrar um ambiente ameaçador.
 No que tange aos aspectos físicos e psicológicos a criança vitimizada acaba por ter comprometida a sua auto-estima, poderá constantemente se sentir ansiosa, insegura. Pode apresentar enurese noturna, alterações no sono, cefaléia, dor epigástrica, desmaios, dores nas extremidades, paralisias, hiperventilação, queixas visuais, síndrome do intestino irritável, vômitos, futuramente pode apresentar quadros de Depressão, Transtornos de Ansiedade, Síndrome do Pânico, Bulimia, Anorexia, e em alguns casos levar ao suicídio.
O bullying por suas características e por seus efeitos na vida, na aprendizagem e na saúde das pessoas acaba por confundir os profissionais da educação e da saúde.
Em geral, entre médicos e psicólogos há divergências se o bullying é um problema de saúde ou não, o padrão de diagnóstico no sistema de saúde não é claro, e é nítido que educadores e outros agentes da educação precisam de melhor formação para identificar e restringir a prática. Ou seja, as conseqüências do assédio moral e físico sofrido por crianças e adolescentes no ambiente escolar extrapolam os limites da educação e avançam sobre os segmentos da saúde, assistência social e segurança, exigindo destes setores a imediata formulação de políticas que combatam o bullying e assegurem a aprendizagem.
Neste sentido há a necessidade de uma intervenção multidisciplinar sobre o fenômeno, que possa capacitar os profissionais da educação para identificar e combater a ocorrência de bullying nas escolas, e envolva profissionais de outras áreas que possam oferecer suporte àqueles que se encontram envolvidos nestas situações.
 Assim é indiscutível a importância da escola e da comunidade no combate ao bullying, é fundamental  que na sala de aula haja espaço para a expressão do afeto, à educação dos sentimentos e à valorização das amizades, bem como que a escola mobilize e garanta a participação das famílias na vida escolar. A escola deve contar com um espectro amplo de possibilidades, como, por exemplo, satisfazer necessidades básicas dos alunos, criando ambientes cooperativos, estimulando relações positivas e oferecendo modelos não agressivos de resolução de conflitos (Lisboa, Braga e Ebert, 2009).
O envolvimento de professores, funcionários, pais e alunos é fundamental para a implementação de programas e projetos de redução do bullying. A participação de todos visa estabelecer normas, diretrizes e ações coerentes. As ações devem priorizar a conscientização geral, o apoio às vítimas, fazendo com que se sintam protegidas, e a conscientização dos agressores sobre seus atos (Lopes, 2005)
Aos profissionais de outras áreas, médicos, psicólogos, assistentes sociais, advogados, cabe oferecer suporte aos educadores na elaboração de estratégias que previnam e combatam o bullying, ofereçam o atendimento adequado às vítimas e seus familiares, uma vez que os impactos da violência escolar acabam por envolver toda a família, e também ao agressor, que por vezes sofre tanto quanto sua vítima. Ao poder público fica a responsabilidade de formular políticas públicas de combate a todo e qualquer tipo de violência e criar as condições necessárias para que tais políticas encontrem ressonância nas escolas e na sociedade.

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REFERÊNCIAS

LISBOA, C; BRAGA, L.L.; E EBERT, G. O fenômeno bullying ou vitimização entre pares na atualidade: definições, formas de manifestação e possibilidades de intervenção. Contextos Clínicos, São Leopoldo/RS, 2 (1): 59-71, janeiro-junho, 2009.

LOPES NETO, A.A. Bullying – comportamento agressivo entre estudantes. Jornal de Pediatria, Rio de Janeiro, 81 (5 supl):S164-S172, 2005.

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 NOTA: 

Produzi este texto em julho de 2011 para a Revista de Medicina do Centro Acadêmico Antônio Prudente da Universidade de Mogi das Cruzes, à convite de seu editor.
Hoje o republico aqui em virtude do suicídio de um menino de 12 anos em Vitória/ES, que não suportando mais as intimidações e não vendo mais saídas, optou por se matar como forma de acabar com o seu sofrimento.
 
O bullying oprime e mata! É preciso criar formas de combatê-lo e evitar que mais pessoas percam a vida por causa dele!

Fonte: Idéias Canhotas

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