quinta-feira, 22 de março de 2012

Bullying Ideológico

Autor: Gualter
A pouca amplitude de tolerância para com opiniões diferentes ainda surpreende. Estamos muito verdes no que diz respeito a liberdade de expressão e opinião. Há sempre uns indignados que se levantam quando confrontados com uma oposição ao establishment.

As recentes afirmações de Otelo Saraiva de Carvalho acerca da necessidade de uma nova revolução, de um golpe militar são disso exemplo. Pode-se discordar? Pode. Rebata-se então a ideia. Não se persiga quem a expressou.

Contudo, o veicular desta opinião levou um grupo de cidadãos ofendidos a queixar-se ao Ministério Público, o que fez com que este abrisse um inquérito para apurar sabe-se lá o quê. Se Otelo falava a verdade? Se estava já a preparar o dito golpe militar? Quem se juntaria nesta nova vaga revolucionária?

Sabemos que isto se insere numa estratégia de marcar posições de um e de outro lado da barricada (ou da barracada) dos poderes de influência. E sabemos também como a comunicação social gosta de se prestar a este tipo de serviço: ser o megafone dos diversos players, sejam eles políticos, económicos, religiosos, etc. Mas isso dava outra conversa.

Mas porquê tanto barulho contra opiniões diferentes? Ao longo dos últimos tempos a sociedade portuguesa sofreu como que uma formatação ideológica. Aquilo que transborda da linha do convencional é atacado, e pior, muitas vezes ridicularizado em praça pública. Quem sabe se por causa disso não temos uma classe política mais relevante, produtiva e verdadeiramente ao serviço do país. Talvez este movimento se afigure reactivo perante o desmoronar das instituições na sociedade presente. Tratando-se de uma nova ordem política ou social o que aí vem, podem ficar descansados os detractores de Otelo: não será por meios militares que esta revolução se fará. Os tempos são outros. Porventura mais cruéis.

Este ridicularizar de pontos de vista, ou pensamentos diferentes deveria sim, ser fruto de protesto e motivo de ofensa. Trata-se de autêntico bullying ideológico, aquilo que por vezes acontece dos nossos media, e até nas conversas de café que tanto nos dão prazer. Não passamos de adolescentes ululantes, fanáticos perseguidores de quem não está alinhado pelo pensar comum ou maioritário.

Aprecio rebanhos. Mas sinto repugnância por carneiradas, isto é, o acto de fazer o mesmo que os outros por imitação, ignorância ou servilismo.

É importante esgrimir argumentos. É vital para a saúde mental de um país. O exercício de fazer queixinhas ou ridicularizar o pensamento de outros é apenas a constatação do medo de perder a comodidade e o status, e revela uma certa demência intelectual.

Aumentar a amplitude da nossa tolerância exige exercício. Da nossa liberdade, e do conceder espaço de liberdade ao outro, por mais que isso nos faça confusão.
 

Fonte: PT Jornal

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