O levantamento ouviu 109.104 estudantes e apontou que a maioria dos que cometeram tal violência é do sexo masculino
TATIANE CALIXTO A Tribuna
A escola de Enfermagem da Universidade de São Paulo (USP) realizou uma pesquisa com estudantes do 9º ano do Ensino Fundamental de escolas públicas e privadas do País. Nela, concluiu que 20,8% dos estudantes (um em cada cinco) já praticaram bullying contra os colegas. O levantamento ouviu 109.104 estudantes e apontou que a maioria dos que cometeram tal violência é do sexo masculino.
O estudo ainda mostra que 51,2% dos alunos que praticaram bullying contra outro estudante não souberam dizer por que o fizeram. Entre os que conseguiram identificar o motivo da agressão, a maior parcela diz que o caso estava relacionado à aparência do corpo (18,6%), seguido da aparência do rosto (16,2%), raça/cor (6,8%), orientação sexual (2.9%), religião (2,5%) e região de origem (1,7%).
A pesquisa revela também que, entre as vítimas, a maioria foi de meninos cujas mães têm baixa escolaridade e são negras ou indígenas.
Bullying
O bullying caracteriza-se por agressões intencionais (verbais ou físicas) cometidas, de maneira reiterada, por alunos contra alunos. A palavra é de origem inglesa – e significa valentão, brigão.
“O bullying manifesta-se por meio de diferentes signos, comportamentos e preconceitos nas relações interpessoais entre escolares”, afirmam os autores do estudo da USP.
No caso de um garoto de 11 anos, que estudava na UME Ayrton Senna, em Santos, a situação aconteceu em forma de insultos e até agressões. E o motivo foi porque o garoto era de escola particular.
Esse problema foi relatado por A Tribuna na semana passada. Após a terceira agressão, o pai decidiu resolver a situação matriculando o filho em uma escola particular.
Para Luma Guedes Nunes, a solução do problema demorou mais. Aos 13 anos, ela era xingada de “gorda”, “feia” e “monstro” pelos colegas da escola. Durante anos ela amargou o sofrimento e, como relatado em reportagem em dezembro do ano passado, a hoje advogada, com 24 anos, ganhou em segunda instância uma ação na Justiça (iniciada em 2004) contra o colégio que estudava. A escola foi condenada a lhe pagar R$ 30 mil. “Minha vontade era ir à porta da escola e dizer: ‘Vocês erraram’”.
“Ações de educação e promoção de saúde na escola são modos diferentes de atuar na atenção primária, que podem resultar na construção de novas formas de os estudantes relacionarem-se com o mundo e entre si”, defende o estudo.
Controvérsias e atenção
Para a socióloga e coordenadora da área de Estudos e Políticas sobre a Juventude da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso-Brasil), Miriam Abramovay, o termo bullying acabou ficando banalizado e esvaziado, hoje, no Brasil. “Até por isso prefiro dizer que o que acontece no Brasil é violência escolar”, explica.
Segundo ela, cada pessoa encara essas agressões de uma forma e, na maioria das vezes, as que mais sofrem são as que não reagem respondendo nem procurando ajuda. Para ela, a reação prática precisa ocorrer.
“É uma situação que tem várias nuances, mas isso não significa que a escola não precisa ficar atenta a cada uma delas e agir. Estamos trabalhando junto com o MEC (Ministério da Educação) a questão da violência nas escolas em algumas capitais do País. O que vemos é que ainda existe uma confusão muito grande em relação ao assunto. Alguns extrapolam, outros têm ações invisíveis. Precisamos discutir mais a situação” diz.
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