Raquel Elizabete - subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica de Minas
Por Pablo Cordeiro
A violência nas escolas de Minas segue escala ascendente tanto em relação ao número de registros quanto no que diz respeito à gravidade das ocorrências. Somente na rede municipal de ensino, o número de registros saltou de 31 em 2010, para 95 no ano seguinte. De 1° de janeiro a 8 de agosto de 2012, já houve 38 comunicações de agressões envolvendo alunos e professores. Na avaliação da Secretaria de Educação do município, a criação do Departamento de Supervisão para atender denúncias deste tipo explica em parte o aumento dos casos comunicados oficialmente.
Em busca de caminhos para mediar e minimizar os conflitos, edições regionais do Fórum de Promoção da Paz Escolar (Forpaz) estão sendo realizadas em todo o Estado. O objetivo central é ensinar o corpo docente a lidar com as adversidades. "Há casos em que, se a diretora ou o gestor não tiverem conhecimento da situação, o quadro piora, principalmente quando se chama a polícia. Polícia age como polícia", afirma a subsecretária de Desenvolvimento da Educação Básica de Minas, Raquel Elizabete de Souza Santos. Além do confronto direto, a educadora chama a atenção para a "violência oculta", que pode vitimar o estudante. "Se o aluno vai para a escola todo dia, chega no fim do ano, não é aprovado e não aprendeu nada, isso também se caracteriza como um tipo de violência", define.
Raquel esteve na cidade no mês passado para a primeira capacitação regional do Forpaz, que reuniu professores, diretores, técnicos de superintendências e secretários municipais de cidades vizinhas. O fórum é uma parceria entre a Defensoria Pública Estadual, a Assembleia Legislativa e as secretarias de Estado de Educação e de Defesa Social.
Tribuna - Como o Estado enxerga a violência nas escolas?
Estamos nos organizando para preparar todos os profissionais da rede para lidar com essa demanda. Acabar com a violência, infelizmente, a gente nunca vai conseguir. Mas temos que apreender a lidar com ela. Essa é a razão destas reuniões que estamos oferecendo para os nossos colaboradores, no sentido de capacitá-los para que possam mediar esses conflitos. A violência nada mais é do que o resultado de conflitos deixados, ou ilhados, de qualquer jeito. Então, o problema de violência na escola vem muito de uma situação ou de uma atitude que não foi levada a sério no momento em que aconteceu. Esses encontros têm o sentido de preparar mediadores para que nós possamos aprender a lidar com essa situação no dia a dia.
- Como é a atuação efetiva desses mediadores?
Há conflitos e situações que acontecem na escola que não serão mediadas por esse grupo. Por isso, estamos trabalhando em redes, com as secretarias de Educação, de Defesa Social e com a Defensoria Pública. Então, se for uma violência mais grave, temos que envolver a quem de direito. O objetivo é exatamente preparar esses diretores para mostrar: 'você pode ir até aqui. Daqui pra frente você tem que chamar a PM ou a Defensoria Pública.'
- Em Juiz de Fora, há registros de brigas recorrentes e agressões entre alunos e professores. Nesses casos mais extremos, as soluções seriam as mesmas, de mediação, ou existe um caminho mais efetivo?
Tem casos complicados de violência que vão fugir das nossas alçadas e do nosso conhecimento. Por isso, o fato de estarmos em rede é fundamental. Não vamos colocar policiamento direto nas escolas ou portão com detector de metais. A preocupação nessa formação é isso. Há casos em que, se a diretora ou o gestor não tiverem o conhecimento da situação, o quadro piora, principalmente quando se chama a polícia. Polícia age como polícia. Então, a nossa preocupação é mostrar para todos os gestores, os professores e para a comunidade escolar, o que é a violência e quais são os quesitos que levam à violência. Porque, para mim, quando o aluno vai para a escola todo o dia, chega no fim do ano, não é aprovado e não aprendeu nada, também ocorre um tipo de violência. Então, temos que trabalhar com a escola nesse sentido. A violência não é só agressão física.
- Como funciona essa questão da violência sem agressão física, em que o aluno se sente acuado na escola?
Ela (a violência) tem vários segmentos e várias etapas. Um aluno que vai à escola todo santo dia, é deixado de lado e só no fim do ano o professor chega e diz: 'aqui, você vai ser reprovado'. Isso é uma violência, porque, durante o ano todo, nunca ninguém chamou o pai ou tomou outra providência. Esse é um tipo de violência que acontece no nosso meio há algum tempo. Nós chamamos de 'violência oculta'. A gente precisa conhecê-la para não deixar que isso tome um rumo maior. Por isso, nossa preocupação é também levar esse diálogo para as famílias. Às vezes, o conflito já chegou com o aluno na escola, então, quando o estudante chega, senta na carteira e não sai do seu lugar, e depois dá um murro no professor, tem alguma coisa que não está certa. Esse pode ser um somatório que vem se formando, e que ninguém ficou atento.
- Em relação a essa violência oculta, existe alguma maneira de os professores e gestores ficarem mais atentos?
A ideia inclusive é essa. Ficar atento, ouvir as pessoas, saber o que está acontecendo. Na escola não é natural o menino ficar quieto. Se ele estiver muito quieto ou agitado, você tem que saber que tem alguma coisa anormal. A equipe da escola tem que estar atenta a todas essas reações.
- Essa preparação deve ocorrer de dentro para fora da escola, para que possa refletir na sociedade?
A partir do momento que a escola lida melhor com a situação e prepara melhor seus alunos, é claro que isso vai refletir na sociedade. Mas a sociedade também tem que ajudar a escola. Por isso existe o trabalho no entorno. Então essa mediação não é só com os alunos. Há momentos de o colégio se reunir com os pais. A gente já está trabalhando isso nos fins de semana. Algumas escolas já estão desenvolvendo palestras, porque na educação, a escola não dá conta de resolver o problema social. Todos têm que estar resolvido.
Fonte: Tribuna de Minas
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