terça-feira, 11 de outubro de 2016

Aprenda a se defender do assédio moral

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Por Mariza Tavares 

Quero começar esta coluna com uma frase de Eleanor Roosevelt, primeira-dama dos EUA entre 1933 e 1945: “Lembre-se de que ninguém pode fazer você se sentir inferior sem o seu consentimento” (“Remember no one can make you feel inferior without your consent”). Não guarde a citação apenas como uma declaração histórica. Transforme essas palavras numa arma para se defender do assédio moral, que vem se alastrando como uma epidemia no mundo corporativo.
Tecnicamente, o assédio moral é a exposição do trabalhador a situações humilhantes e constrangedoras no ambiente de trabalho. O problema é que nem sempre a situação de humilhação é explícita ou fica clara para todos na empresa. Conheci uma diretora de RH que passou a ser ignorada pelo novo diretor geral quando havia necessidade de contratar profissionais para cargos estratégicos, atribuição que sempre tinha sido da sua alçada. Ele se limitava a dizer que já tinha tomado as providências necessárias e que ela ficaria apenas com a parte burocrática da admissão. As críticas ao setor eram constants e progressivamente duras, até que ela acabou pedindo demissão.
Esse é um comportamento clássico, embora relativamente sutil, de constrangimento, mas há inúmeras ações mais explícitas que se caracterizam como assédio: por exemplo, não designar qualquer tarefa à pessoa, que passa a dar a impressão de ser inútil, ou dar instruções erradas com o objetivo de prejudicar o empregado; ridicularizar, fazer brincadeiras de mau gosto ou críticas injustificadas ou acima do tom em público; impor horários descabidos na jornada. Há crueldades ainda maiores, como retirar os instrumentos de trabalho do colaborador, como telephone e computador ou até a mesa; ou proibir colegas de falar ou almoçar com a pessoa; e inclusive criar boatos e calúnias – a maldade humana não tem limites mesmo!
O que está por trás desse comportamento? Desestabilizar emocional e profissionalmente o indivíduo; pressioná-lo para pedir demissão; “quebrar” a autoestima do trabalhador de forma que ele se submeta a más condições de trabalho sem qualquer reação. Recentemente soube de um caso bizarro envolvendo uma estagiária durante a Olimpíada no Rio: ela foi comunicada, por e-mail, que deveria dormir no trabalho em determinadas noites da semana porque não haveria transporte para levá-la para casa depois de meia-noite. Felizmente, a jovem desobedeceu e a ordem era tão fora de propósito que nada aconteceu.
Uma empresa onde há assédio moral é uma empresa doente. E se tornará um organismo terminal se um pacto sinistro de silêncio subjugar a equipe, porque o medo só reforçará o poder do agressor. Por isso volto à frase de Eleanor Roosevelt, que aponta o caminho: jogar luz em cima do fato, desmascarar o assediador. A primeira alternativa, se houver possibilidade de diálogo, é conversar com o próprio chefe que assedia. Muitas vezes ele recua ao encontrar um subordinado que, de forma equilibrada, consegue confrontá-lo. Além disso, não se cale: fale com os colegas, com amigos, familiares – busque apoio. As agressões também podem ser relatadas à ouvidoria ou ao setor de compliance, se a companhia tiver esse serviço. E guarde todas as provas que puder, se a situação gerar uma ação trabalhista e você tiver que procurar o sindicato ou Ministério Público.

A humilhação repetitiva tem um impacto devastador na saúde física e mental do indivíduo. Pode levar a um quadro de depressão que compromete a capacidade de trabalho da pessoa para o resto da vida. É nesse ambiente tóxico que você pretende passar boa parte da sua vida?

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