Após títulos consecutivos, atleta leva o nome de Cuiabá a patamares internacionais e escreve seu nome no esporte
“Cuiabana de coração, para mim é uma honra representar nossa região nos campeonatos que disputo”. Assim considera Michelly Matos, atleta que ganhou todas as competições em que participou este ano, incluindo o estadual, brasileiro e o Arnold Classic – campeonato internacional disputado no Rio de Janeiro. E ela quer mais: a atleta está em fase de concentração e treinos para chegar com força total no sul-americano, que acontece de (08) a (12) de setembro, em Cuenca, no Equador.
A cuiabana se apresenta no sul-americano logo no segundo dia de competição e está contando com o peso a mais do troféu em sua bagagem de retorno. “Estou indo pra ganhar. Não vou sair de Cuiabá para perder. O campeão já pisa no palco campeão e isso eu percebi ao longo das competições em que participei”.
A atleta vem de uma sequência de campeonatos e ainda não descansou este ano. Ela explica que começou a pensar na competição do Equador há apenas um mês, e só conseguiu apoio para os custos com a ajuda de muitas pessoas. “O sul-americano é um campeonato caro e foram mais de R$ 6 mil só de passagem. Achei que não conseguiria ir porque não tinha apoio. Até que fui conseguindo os apoios picados, de várias pessoas e graças a Deus eu consegui”.
Caminho das pedras
Aos 31 anos a atleta lembra com precisão os motivos que a levaram a treinar e o prazer em ter se tornado uma adepta do fisiculturismo. “Há dezesseis anos eu comecei por questão do preconceito. Eu era muito magra, comecei a treinar e as mudanças no meu físico foram acontecendo. Aí fui gostando e me motivando cada vez mais”, conta.
Emocionada, com lágrimas nos olhos, a campeã relata que sofria bullying na juventude por conta de seu físico magro. “Chego até me emocionar, porque eu não tinha expectava nenhuma, era uma menina magricela e sofria bullying de tanta magreza. Comecei por conta e me dediquei sem recursos aqui em Cuiabá, diante de atletas com muito mais recursos”.
O ponto chave nessa trajetória foi quando a fisiculturista começou a treinar na academia do presidente da Federação Mato-grossense de Culturismo, Musculação e Fitness - IFBB-MT, Kinssiger Alencastro, chamando sua atenção pelo seu físico. “Ao me ver, ele não pensou duas vezes e me convidou para competições”.
“inicialmente pensei que não, porque eu treinava pra mim mesmo. Ainda assim ele afirmou que meu físico estava muito bom e que eu estava praticamente pronta”. Segundo o treinador, faltavam apenas alguns ajustes e ela já poderia disputar na categoria estreante.
Início das competições
Body Fitness: Michelly confessa que chegou a desistir no início dos treinos, mas amadureceu a ideia e seguiu firme nos treinos. Ela começou direto no brasileiro de 2013. À época, ela disputava na categoria Body Fitness - categoria onde o físico precisa estar em “Y”, com as pernas finas e o tronco muito mais largo e aparente.
Nesse brasileiro a atleta não chegou a sequer ser classificada. “Estava linda, mas para os padrões de uma mulher do dia a dia, não para a categoria”, explica.
Michelly ainda permaneceu por dois anos no Body Fitness e sofria muito para se encaixar nos padrões exigidos. “Eu fazia um esforço muito grande para ficar na categoria. Fiquei praticamente um ano e meio sem treinar perna e glúteo e pra uma mulher isso é muito complicado”. Com os esforços a atleta foi bicampeã estadual nessa categoria, mas sempre batia na trave nos campeonatos maiores.
Vitoriosa troca de categoria
Women’s Physique: Era certo que uma mudança precisava ser realizada para que os títulos viessem, e foi feito. Michelly ingressou na categoria Women’s Physique e estreou logo no Arnold Classic, ocorrido no Rio de Janeiro este ano. “Sagrei-me campeã no Arnold entre 17 mulheres do mundo inteiro. Isso na minha primeira competição nessa categoria”, relata orgulhosa do feito.
Nessa categoria o físico do atleta precisa estar em “X” e todos os membros precisam estar proporcionais. Ele começa de um tamanho e termina do mesmo. Perna, tal qual panturrilha, ombro, glúteo, etc.
A categoria favoreceu perfeitamente a estrutura da atleta, que ganhou nela outro título de grande expressão. Michelly levou o brasileiro disputado em julho deste ano, em São Paulo, com louvor. A atleta foi campeã em sua faixa de altura e, ainda, foi escolhida a melhor da noite na disputa com outras faixas de altura, sagrando-se campeã Overall.
Essência feminina
Além dos músculos bem definidos, Michelly se destaca pela feminilidade, critério de desempate em determinados confrontos. “Muitos árbitros me procuram depois dos campeonatos para elogiar meu físico, falando que eu sou o que eles estão buscando de Physique, que vai além do físico, como a feminilidade, por exemplo”, observa a fisiculturista.
Formada em administração e pós-graduada em gerenciamento de projetos, a atleta possui um restaurante de comida saudável, e, segundo ela, comer bem seria um dos fatores a contribuir na manutenção da essência feminina.
“Manter a feminilidade nessa categoria é muito difícil porque as mulheres fazem muito compensação. Acho que me sobressaí porque eu me alimento de forma saudável há muito tempo”, acrescenta Michelly, ressaltando que os esteroides e anabolizantes - alguns permitidos - tiram a feminilidade das atletas.
E acrescenta: “Eu penso que as minhas adversárias comem muito ‘lixo’, comidas gordurosas e temperadas em excesso e depois compensam com o uso de manipulados, o que deixa a mulher cada vez menos feminina”, explica.
Preconceito
Apesar de ser um esporte que exige dedicação total do atleta - que muitas vezes abdica de coisas como família, passeios e festas para manter o foco no esporte – grande parte dos fisiculturistas ainda sofrem preconceitos da sociedade.
“Fisiculturismo é como qualquer outra coisa e não vai agradar a todo mundo. Existem pessoas que acham lindo, pessoas que acha estranho e tem aquelas que não gostam. Uma questão de opinião, simples assim”, rebate a atleta.
Michelly garante que vai continuar enquanto se sentir bem com os benefícios que o esporte traz. “Não faço para ter o aval de alguém, eu faço porque estou me sentindo bem. Enquanto eu gostar do que faço, me sentir bem ao olhar no espelho e sentir que isso faz bem pra mim, vou continuar fazendo”.
Valorização do atleta e do esporte
Michelly afirma que as pessoas precisam olhar mais para o esporte que tem crescido no Brasil, mas que está longe de se comparar ao reconhecimento que os atletas ganham em outros países. “Os atletas são muito mais conhecidos fora do País do que aqui mesmo, onde sofrem preconceitos na maioria das vezes. Lá fora, eles são tão bem valorizados que chegam a receber dinheiro para tirar foto e dar autógrafos”.
Ela diz estar esperançosa e acredita que o fisiculturismo deve entrar nas próximas olímpiadas, já que o esporte exige do atleta tanto quanto qualquer outro. “Será uma alegria enorme para nós, porque é um esporte que exige muito, talvez, até mais dedicação do que outros”.
Segundo a atleta, treinar é a parte mais fácil, pois é um esporte que precisa de dedicação 24h por dia do atleta, à hora que acorda, se alimenta e dorme.
“É um esporte muito lindo porque te tira do ‘mundo’, da bebida e de um monte de coisas ruins. Você passa a se cuidar mais. Melhora seu foco e determinação. O esporte trouxe mais tranquilidade na minha vida, mais individualidade”, explana Michelly.
Graças ao esporte, ela deixou de pensar em coisas ‘que não agregam’. “Você perde noite de sono ao lado de um monte de gente que, de certa forma, ficam te sugando. Você chega em casa sozinha, e seus sonhos e planos vão ficando de lado e seu trabalho fica comprometido por isso”.
“No esporte você faz tudo tão certo porque você precisa vencer, seja no trabalho, na relação amorosa, familiar ou com Deus”.
Michelly elenca com firmeza os benefícios adquiridos na vida pessoal com o esporte. “Com o esporte é diferente, você faz tudo tão certo porque você precisa vencer e tudo que faça tem que ser bem feito, seja no trabalho, na relação amorosa, familiar ou com Deus”, finaliza.
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