segunda-feira, 29 de agosto de 2016

Pesquisa mostra alta no consumo de drogas e sexo sem camisinha entre estudantes



Elisa Clavery - EXTRA

Consumo de drogas, alimentação, prática de atividades físicas e vida sexual de estudantes da rede pública e privada do ensino fundamental foram destrinchados na Pesquisa Nacional de Saúde do Escolar (PeNSE), do IBGE, divulgada nesta sexta-feira. Os hábitos destes jovens, se comparados à pesquisa anterior, de 2012, pioraram ou melhoraram muito pouco. Isso levanta o debate sobre a saúde dos adolescentes e, a longo prazo, as consequências para a vida adulta.

— Avançamos pouco. Se o adolescente não formar hábitos saudáveis, vai se tornar um adulto doente. Alcoólatra, com problemas de fígado, maior probabilidade de ter câncer, obeso, com problemas cardíacos, depressão — avalia a professora e pediatra do Núcleo de Estudos da Saúde do Adolescente (Nesa) da Uerj, Evelyn Eisenstein, que acredita que o resultado mostra pouca eficácia nas políticas públicas: — A culpa não é do adolescente, a gente já sabe que é uma fase de experimentação.

Apesar de o consumo de cigarro ter uma pequena queda, o de bebidas alcoólicas aumentou. E um a cada cinco jovens teve, pelo menos, um caso de embriaguez em 2015.

— O cigarro tem sido enfrentado como um mal no Brasil, e isso teve êxito. Já o álcool não sofre essas campanhas de conscientização. Nos adolescentes, o consumo precoce é muito prejudicial, estimula o vício logo cedo — diz o pesquisador Marco Andreazzi, gerente da PeNSE.

Sobre gravidez na adolescência, o pesquisador diz que o resultado pode estar ligado à educação sexual:

— Há uma relação entre informação e casos de gravidez. Onde ela é um pouco menor, normalmente Norte e Nordeste, há risco maior de gestação na adolescência — diz o pesquisador, que também comentou sobre o percentual de estupros: — É um questionário autoaplicado, com a pergunta “alguma vez na vida você foi forçado(a) a ter relação sexual?”, o que deixa livre para o escolar a interpretação do que ele considera relação forçada. Mas, o que surpreendeu foi o percentual de meninos (que sofreram estupro), semelhante ao das meninas. É uma realidade que talvez seja ainda mais escondida.

Dados sobre a higiene também impressionaram, diz o pesquisador. E o pior: grande parte diz respeito à falta de estrutura das escolas — 45% dos estudantes da rede pública afirmaram não ter acesso à pia ou lavatório com água e sabão.

— O número de escolares que raramente lava a mão, depois de ir ao banheiro por exemplo, é expressivo. O problema nem é a água, é o sabão. A oferta é pequena e, além disso, há a questão do hábito. Não parece haver um estímulo — explica Marco.

Já com relação à atividade física, um dado chamou atenção: a taxa de meninas ativas (25%) é muito menor que a de meninos (44%).

— Existe uma cultura discriminatória, não igualitária. A garota vai dançar balé, brincar de boneca. Isso há 40, 50 anos. Ou o Brasil muda e investe em saúde ou vai pagar pelo custo da doença na vida adulta — alerta Evelyn.

Bullying pode causar depressão no jovem
Quase metade dos alunos afirmaram ter sido humilhados pelo menos uma vez, e mais de 7% sofreram bullying com frequência no 30 dias que antecederam a pesquisa — sendo os principais motivos a aparência do corpo (15,6%) e do rosto (10,9%).

— Não adianta ter uma lei de combate ao bullying se ela não é praticada. O professor não é treinado, as escolas não estão compromissadas com a saúde do adolescente. O bullying que começa nas escolas é um potencial de violência na idade adulta — diz Evelyn.

A especialista alerta que o bullying está ligado a depressão em adolescentes. Além disso, pode estar conectado a casos de transtorno alimentar — 7% dos estudantes induziram o vômito ou tomaram laxantes no mês que antecedeu a pesquisa, para emagrecer ou de evitar ganhar peso.
Os dados equivalem a respostas de 2.630.835 alunos matriculados no 9º ano do ensino fundamental da rede pública e privada, a maioria entre 13 e 15 anos. Para ver a pesquisa na íntegra, clique aqui.

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