quarta-feira, 31 de agosto de 2016

Dissertação de mestrado pesquisa modo de falar dos assentados em Mato Grosso do Sul


Ray Santos do Jornal Dia a Dia

A professora do ensino fundamental, Andréia Angela de Oliveira, de 25 anos de idade, pesquisa para sua dissertação de Mestrado, há 18 meses, sobre a maneira de jovens e adultos assentados se expressarem verbalmente no dia a dia. Ela viveu até os 14 anos, morando com os pais no Projeto de Assentamento Jibóia – situado no município de Sidrolândia, distante 70 quilômetros da capital Campo Grande (MS). Andréia deixou o local para concluir o Ensino Médio e a faculdade. Atualmente é formada em Letras e dá aula para 150 alunos no Projeto de Assentamento Eldorado, vizinho ao Jibóia.

Desde criança, segundo ela, observou o vocabulário errado dos coleguinhas de escolas e vizinhos ainda na fase de criança. São exemplo destas maneira “erradas” de falar: “tomemos café e fumo” (ou seja – tomamos café e fomos/saímos), “brinjela” (beringela), “mortandela” (mortadela). “Certa vez, já na faculdade, fui vítima de bullying, porque durante uma prática oral, errei na pronúncia da palavra acerola. Eu disse acelora, com o “L” e não com o “R”, afirmou.

Foi neste ponto de sua vida escolar que resolveu fazer mestrado e utilizar esse tema para a dissertação. O mestrado já dura um ano e meio. Quando terminar, fará o mesmo estudo para doutorado. “No caminho das pesquisas, descobri muitos preconceitos sobre o que defendem grandes pesquisadores do “falar errado está certo”. Entre eles posso citar o livro adotado pelo Ministério da Cultura “Por uma Vida Melhor” que afirma inclusive “não existir o certo ou errado em nossa língua”.

Andréia ressalta que esse tipo de comportamento citado no livro tem reforçado o preconceito e a discriminação. “Hoje, principalmente nas escolas do interior do Brasil, no meio rural, quem fala errado é chamado de glebeiro (quem vive em uma gleba de terra), no mau sentido, em tom de humilhação e não raramente desprezado pelos colegas de escola, trabalho, amigos, vizinhos que se julgam estarem em nível social mais alto que o da vítima”.

A professora está a um semestre da conclusão de sua dissertação para mestrado, cujo título é “Variação Linguística em Livros Didáticos”, que pode ser vista como uma abordagem sócio linguística, destacando o preconceito com quem fala errado. “Quero realizar um trabalho nessa dissertação, deixando bem claro a minha disposição de desmistificar o preconceito e diminuir o bullying. Há pouco tempo, uma das minhas alunas, com 20 anos de idade, que sempre viveu na vida rural, abandonou os estudos por causa da série debullying que sofreu dos colegas”, afirmou.

Fonte: Incra-MS

Nenhum comentário:

Postar um comentário