Curitibana mira adversária no top 10 do peso-galo e comenta repercussão de brincadeira sobre gravidez de Ronda: "Não foi bullying. Não falei que ela tinha pênis"
Fonte: Evelyn Rodrigues, em Costa Mesa, EUA
Crédito: Evelyn RodriguesCris Cyborg durante treino em Costa Mesa: sonho de voltar a lutar no Brasil
São 18h30 da tarde de sexta-feira e o céu começa a escurecer em Costa Mesa, cidade da Califórnia localizada na área metropolitana de Los Angeles, nos EUA. Vestindo um shorts com as cores do Brasil, Cris Cyborg chega à fábrica de uma famosa marca de roupas de surfe. É no fundo dessa fábrica que a curitibana vai fazer mais um treino de boxe em uma academia privada, sob os olhares atentos do treinador Jason Parillo, com quem já trabalha há cerca de cinco anos.
Ela chega sorridente e, enquanto calça as luvas, os dois brincam sobre uma publicação que Cris fez mais cedo em suas redes sociais, parabenizando Ronda Rousey por uma possível gravidez.
- Ah, ela pode dizer que eu tenho pênis e ninguém fala nada. Agora só porque dei os parabéns para ela porque ela pode estar grávida, o pessoal diz que é bullying - declara, arrancando uma gargalhada do técnico.
Nos 45 minutos seguintes, no entanto, o lado brincalhão de Cris dá lugar ao semblante sério e focado, enquanto ela passa a afiar as mãos e a esquiva em uma sessão de sparring com Nick Lauro, de 28 anos.
Depois de fazer cinco rounds de boxe, dois de manopla e um round de "pushing ball", Cyborg conversou, em entrevista exclusiva. Além de falar sobre a brincadeira com Ronda, ela disse estar treinando para voltar a lutar em setembro ou outubro em provável duelo no peso-casado pelo UFC. O sonho é de voltar a lutar no Brasil, que sedia um evento em Brasília no dia 24 de setembro.
Fale um pouco sobre o treino de hoje e os treinos em geral. Você já começou seu camp para a próxima luta ou esse é o seu treino de rotina?
Eu sempre gostei da parte em pé, do boxe, do muay thai, estou trabalhando com o Jason Parillo há mais ou menos cinco anos. E as minhas lutas, a maioria eu ganho no boxe, nocauteando e eu gosto de lutar em pé, procuro melhorar cada dia mais. Independente de ser campeã ou não, as minhas adversárias estudam o meu jogo e você tem que ficar dando um upgrade. Igual a gente faz no telefone, no seu jogo você também tem que melhorar cada vez mais. E eu também faço judô, wrestling, jiu-jítsu...mas eu gosto do boxe. Acho que faria uma luta nessa modalidade...antes de encerrar a minha carreira eu quero fazer uma luta de boxe.
Sua próxima luta vai ser para defender o cinturão peso-pena do Invicta ou será pelo UFC?
Então, era para eu defender o cinturão do Invicta, mas o UFC conversou comigo... Talvez eu faça a minha próxima luta no peso-casado novamente. Então, estou apenas treinando e esperando a oportunidade. Na verdade, eu quero fazer uma luta no peso-casado com uma adversária especial, quero as top do peso-galo, porque é um sacrifício bater 63kg para mim, mas quero fazer superlutas para os meus fãs. Independente do cinturão, se eu puder fazer superlutas, acho que vai ser mais interessante.
Temos alguma chance de te ver no card do UFC Brasília, em setembro?
No meu contrato, eu tenho que lutar a cada cinco meses, mais ou menos. Então, acho que luto em breve. Estou treinando, procuro ficar treinando sempre e quando souber com quem vou lutar ou quando vou lutar eu começo a acelerar os treinos e a mudar. Agora eu procuro treinar separado. De manhã eu faço wrestling, agora à noite fiz boxe, amanhã é a parte de preparação, depois muay thai, mas logo que fechar minha luta, dois meses acho, aí a gente treina tudo, treina junto, é a parte de MMA.
Setembro não daria tempo pra você, então…
- (risos) Estou treinando para a possibilidade de lutar em setembro. Tenho que estar preparada, né? Estou treinando no gás. Tenho que lutar em mais ou menos cinco meses. Agora acho que setembro ou outubro deve fazer cinco meses. Se eu não lutar no peso-casado, com certeza vou defender meu cinturão. Eu tenho que estar treinando só, para não me avisarem em cima da hora. Ainda mais se for no peso-casado, se for no peso-casado tem que cortar tudo (risos).
Como seria para você voltar a lutar no Brasil depois de toda a recepção da torcida no UFC 198?
- Foi muito especial, principalmente pelo carinho todo da torcida. Eu ficava pensando: “Vou ficar emocionada, vou fazer como se tivesse treinando ou fazendo sparring na academia”, tentava não colocar essa pressão na minha cabeça. Às vezes, vinham uns pensamentos assim: “Faz 10 anos que você não luta aqui, vai estar todo mundo te vendo, sua família”. Minha mãe estava lá, meu pai, meu irmão, todo mundo estava lá. E eu coloquei todo mundo separado e longe do octógono, vai que querem me agarrar antes da luta (risos). Coloquei todo mundo separado para eu não ver…Vai que a minha mãe desmaia quando eu estou entrando (risos), não sei, né? Mãe é mãe…Mas eu me emocionei quando entrei, vi uma galera, depois comecei a entrar correndo. Queria entrar séria, como sempre faço, mas não consegui, comecei a correr, estava feliz, acho que foi muito bacana lutar no Brasil. Acho que todas as pessoas que estiveram lá, na minha cidade, acompanhava um pouco do meu trabalho desde o começo. Na época em que eu comecei a lutar o Storm, que o mestre Rudimar fazia em Curitiba, o Samurai…então muita gente tinha ido nesses eventos. Eu não via a hora de estrear no UFC. Era um sonho meu, mas era de todos, todo mundo falava que um dia eu estaria no UFC e foi muito especial a minha estreia ser bem em Curitiba, no Brasil. Quanto a voltar a lutar lá, você tem que estar preparada. Continuo treinando bastante, não sei se isso vai acontecer, mas se acontecer acho que o Giovani Decker, presidente do UFC no Brasil, vai ficar muito feliz. Essa primeira luta no UFC 198 abriu as portas, por isso que eu estava tão preocupada em bater o peso, corria 50 km toda semana para bater o peso e não ficar mal na luta. Faz dois anos que estou fazendo dieta para baixar para a categoria da Ronda e estava bem difícil, até que eu vi que conseguiria chegar em 63 kg. Eles me deram a oportunidade de lutar nesse peso e eu disse que se tiver a oportunidade de lutar de novo eu vou bater o peso, acho que é onde tem mais lutas para mim. Quero continuar na minha categoria, mas se tiver lutas casadas que os fãs gostem eu quero fazer.
Tem algum nome no peso-galo que te interessa mais em uma luta no peso-casado?
Eu não gosto de escolher minhas adversárias, mas como sou a campeã da minha categoria, eu queria lutar com as meninas top 10 do peso-galo. Não posso escolher, porque na verdade já é difícil ter menina para lutar. Se eu começar a escolher a dedo quem eu quero enfrentar…Mas seria bom uma luta com a Ronda, com a Holly, com a Miesha, com a Sara McMann, tem várias meninas ali que são top 10 do peso-galo e que fariam uma luta interessante, porque estão no num nível melhor e eu acho que a gente faria uma luta bem parelha.
A Sarah Kaufmann também disse que aceitaria te enfrentar. Teria interesse nessa luta?
Seria uma luta bacana também, ela era do wrestling, do boxe…eu conheço a Sarah, seria uma luta boa. A gente fez uma propaganda juntas para uma marca de roupas. Eu a conheço, é bacana…ela é profissional, né? Nada pessoal.
Quando você foi lutar no UFC 198, o Giovani Decker, presidente do UFC no Brasil, disse que teve dificuldades para encontrar adversária para você e que chegou a oferecer a luta pra mais de dez meninas e apenas a Leslie Smith aceitou. Por que você acha que isso acontece?
Eu aceito lutar…não tinha luta marcada, mas fui lá lutar com a menina campeã do muay thai. Ela tinha 40 lutas, 11 cinturões, eu estava sem luta de MMA e quando você luta, você melhora o seu jogo. Meu jogo é MMA, mas eu melhorei o meu muay thai. Me coloquei numa posição que nunca tinha me colocado antes, levei knockdown no round, você se coloca em outras posições na luta e isso te dá mais confiança depois. Eu gosto, mas acho que depende de cada atleta. Tem gente que não quer se arriscar ou se expor. Depende do atleta mesmo.
Você "causou" um pouco nas redes sociais com aquela foto em que insinua que a Ronda Rousey estava grávida. Explica um pouco como tudo começou...
Eu estava treinando aqui e aí chegou um menino e falou que viu a Ronda. Ele disse: “Ah, acho que a Ronda está meio pesada, acho que ela está grávida”. E ela tinha falado na entrevista que queria ter filho e tal, depois que ela perdeu a luta e chegou a pensar em se suicidar, disse que queria ter um filho. Aí o cara falou: “Acho que não vai ter luta, Cris. Acho que ela vai ter um filho, acho que ela está grávida”. Eu falei: “Será?”. E aí todo mundo começou a falar no Twitter e eu pensei: “Ah, se ela está grávida, vai ser uma nova vida”. Eu penso em ter um filho também, é bacana, é uma outra etapa da sua vida. E quem sabe? Não sei, né? Mas aí falaram que não, que ela não está. Então, galera, ainda tem uma esperança aí de ver a luta entre Cyborg e Ronda.
Muita gente levou na brincadeira, mas muita gente não aprovou, acharam que você pegou pesado com a foto...
Na verdade, esse negócio de grávida não foi bullying não. Eu perguntei se ela estava grávida e ainda dei os parabéns para ela, que era o que ela queria, o que ela quer, não sei…Eu não falei que ela tinha pinto, pênis, que nem ela falou de mim. É totalmente diferente. A partir do momento em que você desrespeita a família ou desrespeita desse modo, acho que é bullying, só que você tem que saber segurar a onda disso. Quantas vezes eu fiquei louca e tal, mas fazer o que…continuava treinando. Não revidava do jeito que ela falava, nunca falei pra ela da forma que ela falava as coisas de mim, então por isso que a galera pergunta se eu quero lutar com a Ronda. Eu acho que a gente tem que lutar, acho que a nossa novela não acabou. Ela começou a novela toda, está na metade da novela e a novela tem que acabar. Acho que a gente tem muita coisa pra resolver, mas não resolver batendo boca, mas no octógono. Acho que essa é a luta que todo mundo quer ver, é a luta histórica do MMA feminino.
Acha que ela volta a lutar ainda esse ano?
Não sei…estou aprimorando o meu judô, esperando a próxima oportunidade, treinando…e espero que sim. É um esporte na verdade, não sou inimiga dela, não torço contra ela, acho que somos duas atletas e, ganhando ou perdendo, ninguém é perfeito. Acho que vai ganhar quem treinou mais, quem se preparou mais para essa luta. Mas eu espero que essa luta aconteça, porque vai ser uma luta boa para todo o mundo do MMA. Acredito que ela fez muita coisa pro MMA, ela ficou triste porque perdeu, mas é do esporte. Um dia você perde, no outro você ganha. Mas você precisa passar isso. Espero que ela volte, espero que ela se recupere. Olha a Holly Holm, ela é um exemplo. Ela perdeu, voltou, é normal. É difícil perder, ninguém gosta.
A Holly ficou bem chateada com essa derrota para a Valentina Shevchenko. O que você achou dessa luta?
Eu fiquei triste, na verdade. Quando a Holly lutou com a Ronda, foi uma felicidade pra todo mundo, né? Ninguém acreditava que ela iria ganhar e, na verdade, era para ela esperar para lutar com a Ronda. Não era para ela ter feito todas essas lutas, era pra ela esperar pela revanche, e ela não quis. Eu concordo com ela, porque todo mundo tem que trabalhar. Foi uma má sorte ali. A Miesha fez o jogo dela, com a Valentina ela perdeu em pé, mas foi uma luta boa pro MMA, foi bem técnica. Acho que ela precisa melhorar o jogo no MMA em geral…
Falando da categoria peso-galo do Ultimate, o que você achou da vitória da Amanda Nunes sobre a Miesha Tate no UFC 200?
Eu achava que a Amanda ia ganhar. Eu, inclusive, estava lá na luta. A Miesha é mais a parte de chão, ela tem coração, aguenta as porradas, mas eu sabia que no primeiro round a Amanda é perigosa. Depois, nos outros rounds, ela não é tão perigosa, mas no primeiro ela é. E eu não sabia se a Miesha ia segurar a onda no primeiro round. Se ela passasse pelo primeiro, talvez até conseguiria tentar finalizar. Mas a Amanda também tem chão, é faixa-preta de jiu-jítsu, ela tem condições de parar a Miesha. Tem que honrar o jiu-jítsu brasileiro, né?
Acha que a Amanda tem condições de manter o cinturão por bastante tempo?
Quando eu comecei a lutar, acho que pouco depois a Amanda começou a carreira. Ela era a leoa mesmo, ia para cima. Chegaram a perguntar se a gente ia se enfrentar, até porque, se não me engano, ela lutava na minha categoria e depois desceu. Conheço a Amanda, acho que ela batalhou muito para estar onde está. Ela teve uma derrota, veio embora para a Flórida, e melhorou muito tecnicamente, está muito mais profissional do que antes. Quero que ela continue campeã. Até escrevi no Twitter, quando ela ganhou, que eu defendo a mesma bandeira. Tudo bem, depois que acabar todas as gringas a gente até pode lutar, mas senão a galera já quer colocar Brasil contra Brasil. Quero que ela continue treinando firme, acho que ela tem muita coisa para fazer no UFC e ficar com o cinturão. Não é a cada dois meses o cinturão mudar de mãos, acho que tem que ficar ali no Brasil, treinar, e esse cinturão agora significa uma nova batalha. Agora que você ganhou o cinturão, todo mundo vai querer ganhar de você, então não é para parar no tempo, continue treinando muito e focada.
Como avalia o MMA feminino hoje?
O MMA feminino ainda está crescendo. Tem uma que é boa de judô, outra que é boa de muay thai, ainda está como era o masculino antes. Não é bom o cinturão ficar passando de mão em mão, mas agora vai parar no Brasil e ficar um tempo. Acho que vão pintar várias meninas ainda, espero que o UFC abra outras categorias, afinal não tem só menina leve. Eu sou mais pesada e sei que se abrir a minha categoria vai aparecer mais meninas para treinar e lutar.
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