sexta-feira, 8 de junho de 2012

Quase aos 14

Daqui a pouco, minha linda, você vai completar 14 anos e por isso queria te dizer algumas coisas, pois na sua idade decidi meu rumo. Aos 13, eu não era da turma mais legal. Em casa, a relação com meu pai não era perfeita. Às vezes, eu sentia a ausência dele. E também tinha o problema do dinheiro. Não que faltasse para um lanche ou cinema, pois eu já trabalhava. Mas, não tinha grana para as roupas legais, para as viagens mundo afora ou para o intercâmbio nos EUA que nunca passou de um sonho. Meu pai não me pôs na melhor escola de inglês e não era sócio do Praia. Enfim, eu não tinha muita coisa que meus amigos tinham e, para piorar, não era o primogênito ou o caçula. Aos 13, era eu e mais ninguém.

Vi então duas opções: revoltar-me com o mundo ou fazer a minha própria história, algo do tipo self-made man. Você sabe qual foi a minha escolha. Consegui entrar para a turma driblando o bullying inicial, pois levei tudo na esportiva e até devolvi algumas brincadeiras. Já na turma, tirei uma nota ruim só para impressionar meus novos amigos, mas eles não gostaram. Desde então, nunca mais fiz algo de ruim só para impressionar. Tomei um ou dois porres? Sim, tomei. Mas, nunca para chamar a atenção. Também ouvi muito rock, porque ninguém liberta sua fúria ouvindo sertanejo. Aprendi a vestir o que tinha. Namorei, terminei, chorei, quase morri, mas me reergui. Não vale a pena morrer nem pela gente mesmo, que dirá pelos outros. Briguei pelo que eu queria, entendi quando não compensava brigar. Não dá para lutar contra o mundo o tempo todo e por isso aprendi a recuar de vez em quando.

Detestava quando tentavam me impor disciplina, até que ouvi Renato Russo cantando que “disciplina é liberdade” e então tudo ficou mais suave. Tive pouco do que quis naquela época. Paciência: a gente não pode ter tudo na vida e, se não quiser que a vida vire um calvário, deve ser feliz com o que tem. Hoje, sou sócio do clube e já viajei muito. Não culpo meu pai de nada, nem dos erros que cometeu, pois quem sou eu para exigir que alguém me ame e, além disso, seja perfeito? Se ele não foi tudo o que eu queria, talvez hoje eu tenha me tornado quase tudo que ele sonhava. Mas, acredite em mim: fiz isso por mim mesmo, não para provar nada a ninguém.

É isso que eu espero que você faça. Encontre seu próprio caminho, sorria quando quiser, derrame suas lágrimas, não tenha vergonha de recuar quando for preciso e seja sempre você mesma. Não tente provar nada para o mundo e nem se revolte contra ele. Use a inteligência que Deus te deu e você verá, como cantava Renato Russo, que sua história “não estará pelo avesso assim, sem final feliz”. Até lá, simplesmente viva, pois você ainda tem muito para fazer. Beijos de quem te ama mais do que você imagina…

Alexandre Henry – Escritor
www.dedodeprosa.com


Fonte: Correio de Uberlândia

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