Assunto fará parte dos temas do 1º Seminário de Bullying e Assédio Moral na Mitra Diocesana
Há seis semanas, uma professora foi surpreendida em Joinville pelo ataque de um aluno em sala de aula, minutos após começar a apresentar a matéria. Acostumada a acompanhar episódios de agressão envolvendo colegas em dez anos de profissão, ela tentou manter a calma e conversar com o estudante, que não havia compreendido um texto.
A intensidade das acusações, no entanto, assustaram a educadora. Com o detalhe de que as histórias de professores destratados por alunos que ela conhecia haviam ocorrido em colégios; ela dá aula numa faculdade.
— Ele [o aluno] interrompeu a aula e questionou a minha competência para ensinar. Listei meu currículo para ele, com calma, mas ele continuou com agressões verbais. Quando pedi silêncio, ele se levantou. Disse que pagava o curso e que, sem isso, eu não teria o que comer —, conta ela, que não quis se identificar.
Ela procurou a direção, mas sabia a resposta que receberia: nada a fazer a não ser chamar a atenção do aluno.
— Eles compreendem a situação, mas não querem perder o aluno.
Na semana seguinte, estava de volta à sala, ensinando o autor dos insultos.
Episódios parecidos são rotina em escolas e faculdades, mas raramente discutidos. Uma exceção é nesta terça, quando o assunto fará parte dos temas do 1º Seminário de Bullying e Assédio Moral, na Mitra Diocesana, que reunirá educadores, psicólogos, advogados e representantes de sindicatos.
Nos 25 anos em que a professora de língua portuguesa Rosemar Lourdes Tonett trabalhou na rede pública de Joinville, nove deles na direção, recebia quase diariamente professores que reportavam agressões e ameaças. Ela era a primeira instância na hora de resolver o caso. Mas, se o problema era grave, podia parar no conselho tutelar ou na delegacia.
— Hoje, o professor não deixa passar em branco. Abre boletim de ocorrência se achar preciso —, diz ela, que, aposentada, dá aulas em escola particular.
Rosemar acredita que o aluno habituado a agredir quer chamar atenção.
— Com o tempo, percebíamos que eles tinham problemas, muitas vezes em casa. Fazem a cabeça do outros e formam uma teia para praticar as agressões. Precisam de plateia.
CONSEQUÊNCIAS PARA A SAÚDE
No consultório do cardiologista Osvaldo Soares Gonçalves, no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, é comum chegar professores acreditando estar à beira de um infarto ou com graves problemas no coração. Eles sentem pulsações e falta de ar, mas não estão doentes.
— É psicossomático, estão apenas estressados. Encaminho a maioria para psicólogos ou psiquiatras, dependendo da gravidade do problema —, afirma.
Segundo Gonçalves, a maior reclamação é o estresse por causa da carga de trabalho e da tensão diária.
— É reflexo do caos no ensino, das agressões verbais e até físicas que os profissionais sofrem.
A maioria dos professores que acreditam estar com problemas no coração tem a mesma doença: síndrome de burn out. O distúrbio é comum entre profissionais que trabalham diretamente com pessoas e sofrendo desgastes físicos e emocionais. Os professores estão no topo dessa lista, ao lado de profissionais da saúde.
— Eles estão sempre se sentindo pressionados e sobrecarregados. Como não podem enfrentar os alunos, acabam guardando a angústia e desenvolvem doenças por causa disso —, afirma Gonçalves.
Em alguns casos, os professores se descobrem com problemas como hipertensão – quando não tinham nenhuma predisposição para a doença.
ESCOLA NÃO DEVE SER OMISSA
O professor que sofre agressão e ameaças dos alunos pode procurar seus direitos e processar o agressor como qualquer profissional. Segundo o professor João Carlos Balsini, que ministra Direito do Trabalho na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), é dever do empregador garantir um ambiente de trabalho saudável e a lei deve ser aplicada também nas instituições de ensino.
Além disso, os artigos 932 e 933 do Código Civil mantém a responsabilidade dos pais pelos filhos menores de idade, independente da culpa direta dos pais.
— A situação é atípica e ainda não foi debatida no meio jurídico, mas se os professores são agredidos, cabe à empresa ou ao poder público tomar atitudes para resolver a situação —, afirma Balsini, convidado do seminário desta terça.
Ele acredita que, no caso dos professores, o termo certo para falar da agressão é assédio moral, quando a vítima é atingida no meio de trabalho, ainda que o assédio moral também seja um tipo de bullying, termo mais usado para tratar das agressões entre colegas de escola.
— O bullying é mais genérico, mas os dois são similares: são condutas agressivas que atingem a personalidade da vítima —, analisa.
Confira a programação do evento
Fonte: Diário Catarinense
Nenhum comentário:
Postar um comentário