Por Milagros Rodríguez para Infosurhoy.com
CARACAS, Venezuela – A violência responde “presente” nas escolas venezuelanas.
Dos 289 centros educacionais pesquisados pela Federação Venezuelana de Professores (FVM), 85% relataram a ocorrência de agressões em suas instalações. Seis a cada dez escolas disseram que incidentes do tipo acontecem pelo menos uma vez na semana.
Em 8 de janeiro, a aluna Michelle Buraglia, 15 anos, morreu depois de levar um tiro de outro estudante no Liceu Andrés Bello, um dos maiores de Caracas.
Depois do crime, foram realizadas palestras para os estudantes sobre questões como convivência pacífica, respeito e valores para desenvolver uma cultura de paz. O governo também planeja instalar detectores de metais na entrada dos estabelecimentos de ensino.
A morte motivou o debate público sobre o direito de portar facas e armas de fogo em instituições públicas e privadas na Venezuela.
Um estudo financiado pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) mostra que, para os estudantes, os locais mais perigosos das escolas venezuelanas são as saídas, seguidas dos banheiros.
No fórum sobre Violência Escolar, realizado em 28 de fevereiro em Caracas, a ministra da Educação, Maryann Hanson, disse que a pesquisa foi focada em determinar as percepções dos estudantes na faixa dos 12 aos 18 anos, além das reações e castigos que sofrem em casa.
Segundo o estudo, 73% dos adolescentes disseram que os pais não os punem por terem uma arma, enquanto 69% afirmaram que nada acontece quando saem de casa sem permissão.
Gabriela Sotillo, psicóloga de crianças e adolescentes, diz que o nível de belicosidade é tão alto entre a população que qualquer tipo de conflito pode resultar em briga.
“Começa com gritos e insultos, logo acontecem as agressões físicas com armas brancas e até armas de fogo”, diz Gabriela. “Eles buscam resolver o conflito a todo custo, sem nenhum tipo de mediação e sem deixar espaço ao diálogo ou outras alternativas.”
A professora primária Beatriz Marcano alerta que a violência escolar está crescendo assustadoramente.
“Tomamos precauções como proibir a entrada de bolsas que não sejam transparentes. Revistamos continuamente as salas e as áreas comuns. Praticamente nos tornamos a sombra dos estudantes, mas, quando menos se espera, acontece”, explica Beatriz, que prefere não divulgar o nome da escola onde trabalha.
Na instituição de ensino, localizada em Catia, área de baixa renda na zona oeste de Caracas, facas são tomadas de alunos quase todos os dias.
“Eles costumam trazer facas, lâminas, cortadores de unhas e navalhas. Quando perguntamos por que trazem essas coisas à escola, a resposta é simples: ‘Para me defender, caso me aconteça algo na rua ou na escola’”, conta Beatriz.
A professora afirma que a agressividade é também visível nas brincadeiras durante o recreio, quando as crianças se agridem mutuamente sem pensar nas consequências.
“Os xingamentos e as brincadeiras servem de desculpa para que os estudantes agridam uns aos outros”, diz Beatriz. “Começam brincando, mas de repente sobem os tons das ofensas e, apesar de tentarmos reprimi-los, esse comportamento costuma durar semanas.”
Lei do mais forte
Sempre que começa a estudar em uma nova escola, Gabriel, 13 anos, parte para a briga com o primeiro que tentar maltratá-lo.
“Não é que eu goste de brigar. Ao contrário, me dá medo”, afirma o estudante do ensino médio de Caracas, que prefere não revelar seu sobrenome. “Mas é a única forma de parar com as chacotas.”
As agressões físicas de estudantes contra professores, normalmente por terem tirado notas baixas, e os confrontos entre alunos de escolas rivais são outras formas de manifestação da violência escolar na Venezuela.
De 2010 a 2011, 153 roubos e nove tiroteios foram registrados em escolas públicas e privadas do país, segundo o relatório anual do Centro Comunitario de Aprendizaje (Cecodap), ONG que trabalha na proteção dos direitos humanos de crianças e adolescentes. Pelo menos duas denúncias de atos de violência de vários tipos são feitas todos os dias.
“Começa com algo leve, como uma brincadeira que pode se transformar em uma escalada de violência se não for contornada a tempo”, diz Francisco Pereira, coordenador-geral do Cecodap.
Pereira observa que a principal preocupação é a falta de reação dos pais à violência.
Apenas 30% dos pais ou representantes participam das atividades acadêmicas dos filhos, que incluem a revisão dos boletins e o comparecimento a reuniões ocasionais, de acordo com o Ministério da Educação.
“Os pais e guardiões devem ser mais participativos em relação aos processos educativos de seus filhos”, diz Maryann.
O governo, em coordenação com o Escritório Nacional Antidrogas, organiza reuniões, oficinas e palestras com os estudantes para ensinar o respeito aos direitos humanos e a cultura da paz, enquanto busca prevenir o consumo de drogas entre os alunos.
“É uma questão de formação permanente, de todos os dias, e deve ser tratada em conjunto com família, professores e autoridades”, afirmou Maryann no fórum.
Nenhum comentário:
Postar um comentário