Um dos grandes problemas em diversos lugares, principalmente no cenário escolar, é o bullying. A ex-aluna do mestrado em Desenvolvimento Regional e Meio Ambiente do Centro Universitário de Araraquara – Uniara e autora do primeiro trabalho acadêmico sobre o assunto no país, Juliana Munaretti de Oliveira Barbieri, explica que “o fenômeno está inteiramente ligado a várias ações maldosas que se expressam juntas ou isoladas”.
Segundo a ex-estudante, não há tradução da palavra para o português. “Porém, o bullying engloba humilhação, agressão, ofensa, ameaça, tirania, dominação, perseguição, isolamento, exclusão, discriminação, sofrimento, emprego de apelidos, amedrontamento, violência física, intimidação repetida, roubo de pertences, gozação e assédio”, explica.
Ela afirma que o fenômeno acontece por conta de problemas de socialização. Segundo a especialista, “a aprendizagem se inicia desde o nascimento do indivíduo e continua durante toda a sua vida”. Ela aponta que os agressores e vítimas do bullying se comportam de maneira contrária no espaço escolar. “Os primeiros se comportam de maneira agressiva, com dificuldades de adaptação social e respeito a normas. Já o outro grupo, tem atitudes pouco visíveis socialmente, com tendência à introversão, perturbações de personalidade, insegurança ou ausência de autoestima”, explica.
“Muitas respostas sociais são aprendidas pela observação e reprodução de comportamentos em outras pessoas, nos primeiros anos de vida e mesmo durante a época de frequência à escola primária. Os filhos são exatamente como seus pais que, por serem incapazes de estabelecer normas e limites às crianças, passam a ignorar suas transgressões, muitas vezes adotando posturas de falsa compreensão ou simplesmente ‘fechando os olhos’ para suas más atitudes”, relata.
De acordo com ela, existem três atores sociais que participam do bullying: quem o pratica, chamado de agressor ou intimidador; quem sofre, denominado como vítima, e quem vê e não faz nada para ajudar, reconhecido como espectador. “Os autores vitimizam pessoas que possuem características que sirvam de foco para suas agressões, pois não tiveram limite imposto por seus pais. As vítimas não tiveram o ensinamento adequado em casa para se defender e os espectadores, tornam-se omissos ou medrosos”, comenta.
“O bullying é notado com certa frequência no ensino médio, fase em que coincide com a adolescência, em que o indivíduo se encontra em transição física, emocional e psicológica entre a infância e a fase adulta”, relata a especialista.
Características
A ex-aluna afirma que, por possuir características particulares, o bullying não pode ser considerado apenas como violência escolar. “Não acontece a partir de um motivo pré-determinado e não se dá como conflitos normais e sim como atos de intimidação repetida contra vítimas vulneráveis e incapazes de defesa. O que acontece é que em um grupo determinado, por exemplo, em uma sala de aula, a classe se torna espaço para dinâmicas negativas, nas quais as relações internas se transformam em rituais de intimidação e de passividade dos espectadores. Então, para fugir dessas situações indesejáveis, as vítimas se isolam e mudanças de comportamento, como queda de notas, acontecem”, explica.
Segundo Juliana, o bullying é sentido da mesma maneira, tanto por meninos quanto por meninas. “Os adolescentes não se expressam ou reagem igualmente, porque, devido às regras impostas pela sociedade, a agressividade das meninas parece ser demonstrada diferentemente dos meninos. Elas tendem a crescer aprendendo a agir de maneira gentil, serem sorridentes e a fazer amizade com outras pessoas”, afirma.
“Assim, quando se cresce aprendendo isso, é preciso esconder os verdadeiros sentimentos que surgem na hora da raiva. As meninas têm os mesmos sentimentos dos meninos, mas precisam camuflar isso, disfarçando a raiva. Elas têm que usar os relacionamentos para ferir os outros, ao invés de usar métodos mais convencionais, geralmente associados aos garotos”, completa.
A especialista explica que há registros de ocorrências de pessoas que sofriam bullying e que, em atos de extremismo, para findar seu sofrimento, cometeram homicídio seguido de suicídio. “Conforme demonstrado na literatura, porém, nem sempre as vítimas desses crimes eram seus intimidadores. O objetivo deles era ‘matar a escola’ em que, pressupostamente, passaram momentos de frustração, vergonha, medo, humilhação e onde havia colegas omissos frente a seus sofrimentos”, conta.
Orientação
Para Juliana, a escola precisa estar preparada para combater o problema. “A vítima não encontra condições de se recuperar após as intimidações, pois se sente desprotegida fisicamente e psicologicamente e, mesmo reclamando, dificilmente ela encontra ajuda necessária no espaço escolar. Ao mesmo tempo, o agressor também não encontra quem o faça cessar e, os espectadores são coniventes por medo de sofrerem o bullying também. Então, o ambiente escolar passa a ser totalmente contaminado, pois todas as crianças são afetadas negativamente, experimentando sentimentos de ansiedade e medo”, completa.
Segundo a ex-aluna, o espaço escolar ideal para as vítimas é aquele que proporciona um ambiente que as proteja de humilhações e intimidações para, posteriormente, estimular a capacidade de defesa frente ao problema. “A ideia não é criar um sistema educacional milagroso e deixar a responsabilidade nas mãos apenas dos professores. A solução, ou pelo menos a sua minimização, necessita do desenvolvimento de um sistema resultante de um conjunto de esforços envolvendo pais, alunos, professores, funcionários, diretores e membros da comunidade. Para os intimidadores, o mesmo espaço tem que oferecer meios para que eles aprendam regras de conduta com o coletivo e neutralize as suas ações transgressivas”, finaliza.
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