Na semana da rentrée escolar, os especialistas em educação lançam um desafio às escolas - gerir as emoções também se ensina com manuais e exercícios e é o melhor caminho para prevenir a violência e aumentar o sucesso escolar
Aprender Matemática, Língua Portuguesa ou História é importante e ninguém duvida que esse é o papel da escola. Mas e se, além de operações aritméticas, dos cantos dos "Lusíadas", ou da fotossíntese, os professores ensinassem os alunos a entender o reboliço dos seus sentimentos, a explorar como lidam com os problemas ou a analisar como falam e como ouvem os outros? E se existisse um programa curricular com manuais escolares, trabalhos de casa, exercícios em sala de aula que permitisse aos adolescentes aprender no fim do ano lectivo que a agressividade não é afinal a única resposta ao stresse provocado pelos conflitos com os colegas?
É isso que 12 psicólogos educacionais defendem, depois de terem encafuado várias centenas de alunos em laboratório para dissecar como vivem as emoções, como reagem aos conflitos ou como mudam o comportamento ao aprenderem a olhar para dentro e descobrirem que até são criativos a resolver os problemas. Estes cientistas andaram de escola em escola a analisar as zangas juvenis. Os estudos empíricos (ver exemplos em baixo) estão reunidos no livro "Adaptação e Bem-Estar nas Escolas Portuguesas - dos Alunos aos Professores" (editora Coisas de Ler), coordenado por Alexandra Marques Pinto e Luís Picado.
Os especialistas em educação defendem que, ao apostar num programa curricular com estas características, as escolas estariam a dar um passo de gigante não só para prevenir a violência mas também para subir o rendimento académico dos alunos. São vários os estudos internacionais a demonstrar que entre 15% e 40% dos alunos aprendem melhor quando conseguem adaptar-se às adversidades, alertam os autores.
Aumentar a resistência dos alunos face aos obstáculos é como resolver uma equação matemática com a seguinte fórmula: testar programas de gestão de conflitos + incluí-los nos currículos escolares + formar professores = alunos com maior autoconfiança e também mais identificados com a escola e os estudos. E quanto mais imaginativo ou disponível estiver um adolescente para resolver os seus problemas maior a probabilidade de conseguir lidar com o insucesso.
A "aprendizagem emocional e social" é tão importante como aprender a ler ou a fazer contas e deve fazer parte do ensino, do pré-escolar ao fim do secundário, defendem os autores. Aulas, actividades dentro e fora da sala, exercícios com situações do dia-a-dia, a ajudar os alunos a gerir as emoções, a pôr-se no lugar dos outros ou a tomar decisões responsáveis tornam--nos mais assertivos, melhores comunicadores e ainda estudantes com melhor desempenho escolar, justificam os psicólogos educacionais.
Só que nas escolas portuguesas faltam programas publicados devidamente testados que possam ser incluídos nos currículos escolares. "O sistema educativo português tem revelado incapacidade relativamente à integração sustentada nas escolas de algumas investigações, sérias, realizadas em Portugal sobre a gestão dos conflitos e da violência escolar", explica ao i Luís Picado, um dos coordenadores do livro.
O que há são apenas "respostas fragmentadas" e, apesar das boas intenções, servem principalmente para resolver problemas pontuais. Enquanto não forem uma prioridade nacional - avisam os cientistas - dificilmente se vai promover a formação de técnicos nas escolas e permitir que estes projectos entrem nas salas de aula para fazer a diferença no ensino português.
Três casos:
Experiência 1 - Que vontade tenho de bater!
Objectivo: como é que os adolescentes e crianças lidam com conflito entre os colegas.
Amostra 443 crianças e adolescentes (225 raparigas e 218 rapazes entre os 9 e os 17 anos) de cinco escolas públicas dos 2.º e 3.º ciclos.
Resultados As raparigas revelaram sentir maior ansiedade perante o conflito e os rapazes demonstram mais a sua agressividade. Quanto maior é o número de repetências, mais agressivos tendem a ser. Facto que não surpreende os autores do estudo, tendo em conta as dificuldades de aprendizagem ou de integração escolar.
Experiência 2 - E se em vez de bater eu parasse para pensar?
Objectivo incluir no currículo do 3.º ciclo um programa com a duração de três meses, ensinando as estratégias para lidar com o stress provocado pelo conflito.
Amostra 153 alunos do 3.º ciclo (3 turmas acompanhadas na disciplina de formação cívica e 2 orientadas pela psicóloga da escola) participaram em dez sessões em que exploraram as formas de lidar com situações difíceis, analisando as estratégias para superar as adversidades, dissecando os seus sentimentos de forma a modificar a maneira de pensar. As aulas serviram igualmente para examinar como comunicam com os colegas e como estão receptivos a ouvir os outros.
Resultados Após frequentarem o programa, a baixa percepção que os alunos tinham face ao seu desempenho escolar diminuiu. Os adolescentes tiveram igualmente menos dificuldade em cumprir as tarefas escolares e sentiram-se menos sobrecarregados com as responsabilidades decorrentes da escola e da pressão para serem bons alunos. O rendimento escolar subiu e, três meses após o fim do programa, os alunos admitiram a importância de procurar ajuda para resolver os problemas.
Experiência 3 - Bons momentos não são eternos…
Objectivo analisar como desfrutam os adolescentes os bons momentos da vida.
Amostra: 285 alunos do secundário de escolas privadas e públicas – 54,6% são raparigas e 45,3% são rapazes, a maioria com idades entre os 15 e os 18 anos.
Resultados Desfrutar um bom momento passa sobretudo por partilhar com os outros essa experiência e pensar em como se vai recordar mais tarde esse momento. São essas as estratégias usadas pelos adolescentes, mas há uma nuvem negra a ensombrar as boas experiências. Os alunos não conseguem evitar pensar como tudo é passageiro ou como, afinal, essa experiência até podia ter corrido melhor ou não foi tão boa como estavam à espera. E é isso que os impede de desfrutar em pleno um bom momento. Mais do que uma característica, essa particularidade pode ser o resultado de uma herança cultural portuguesa, admitem os autores do estudo.
Fonte: ionline.pt de Portugal
É isso que 12 psicólogos educacionais defendem, depois de terem encafuado várias centenas de alunos em laboratório para dissecar como vivem as emoções, como reagem aos conflitos ou como mudam o comportamento ao aprenderem a olhar para dentro e descobrirem que até são criativos a resolver os problemas. Estes cientistas andaram de escola em escola a analisar as zangas juvenis. Os estudos empíricos (ver exemplos em baixo) estão reunidos no livro "Adaptação e Bem-Estar nas Escolas Portuguesas - dos Alunos aos Professores" (editora Coisas de Ler), coordenado por Alexandra Marques Pinto e Luís Picado.
Os especialistas em educação defendem que, ao apostar num programa curricular com estas características, as escolas estariam a dar um passo de gigante não só para prevenir a violência mas também para subir o rendimento académico dos alunos. São vários os estudos internacionais a demonstrar que entre 15% e 40% dos alunos aprendem melhor quando conseguem adaptar-se às adversidades, alertam os autores.
Aumentar a resistência dos alunos face aos obstáculos é como resolver uma equação matemática com a seguinte fórmula: testar programas de gestão de conflitos + incluí-los nos currículos escolares + formar professores = alunos com maior autoconfiança e também mais identificados com a escola e os estudos. E quanto mais imaginativo ou disponível estiver um adolescente para resolver os seus problemas maior a probabilidade de conseguir lidar com o insucesso.
A "aprendizagem emocional e social" é tão importante como aprender a ler ou a fazer contas e deve fazer parte do ensino, do pré-escolar ao fim do secundário, defendem os autores. Aulas, actividades dentro e fora da sala, exercícios com situações do dia-a-dia, a ajudar os alunos a gerir as emoções, a pôr-se no lugar dos outros ou a tomar decisões responsáveis tornam--nos mais assertivos, melhores comunicadores e ainda estudantes com melhor desempenho escolar, justificam os psicólogos educacionais.
Só que nas escolas portuguesas faltam programas publicados devidamente testados que possam ser incluídos nos currículos escolares. "O sistema educativo português tem revelado incapacidade relativamente à integração sustentada nas escolas de algumas investigações, sérias, realizadas em Portugal sobre a gestão dos conflitos e da violência escolar", explica ao i Luís Picado, um dos coordenadores do livro.
O que há são apenas "respostas fragmentadas" e, apesar das boas intenções, servem principalmente para resolver problemas pontuais. Enquanto não forem uma prioridade nacional - avisam os cientistas - dificilmente se vai promover a formação de técnicos nas escolas e permitir que estes projectos entrem nas salas de aula para fazer a diferença no ensino português.
Três casos:
Experiência 1 - Que vontade tenho de bater!
Objectivo: como é que os adolescentes e crianças lidam com conflito entre os colegas.
Amostra 443 crianças e adolescentes (225 raparigas e 218 rapazes entre os 9 e os 17 anos) de cinco escolas públicas dos 2.º e 3.º ciclos.
Resultados As raparigas revelaram sentir maior ansiedade perante o conflito e os rapazes demonstram mais a sua agressividade. Quanto maior é o número de repetências, mais agressivos tendem a ser. Facto que não surpreende os autores do estudo, tendo em conta as dificuldades de aprendizagem ou de integração escolar.
Experiência 2 - E se em vez de bater eu parasse para pensar?
Objectivo incluir no currículo do 3.º ciclo um programa com a duração de três meses, ensinando as estratégias para lidar com o stress provocado pelo conflito.
Amostra 153 alunos do 3.º ciclo (3 turmas acompanhadas na disciplina de formação cívica e 2 orientadas pela psicóloga da escola) participaram em dez sessões em que exploraram as formas de lidar com situações difíceis, analisando as estratégias para superar as adversidades, dissecando os seus sentimentos de forma a modificar a maneira de pensar. As aulas serviram igualmente para examinar como comunicam com os colegas e como estão receptivos a ouvir os outros.
Resultados Após frequentarem o programa, a baixa percepção que os alunos tinham face ao seu desempenho escolar diminuiu. Os adolescentes tiveram igualmente menos dificuldade em cumprir as tarefas escolares e sentiram-se menos sobrecarregados com as responsabilidades decorrentes da escola e da pressão para serem bons alunos. O rendimento escolar subiu e, três meses após o fim do programa, os alunos admitiram a importância de procurar ajuda para resolver os problemas.
Experiência 3 - Bons momentos não são eternos…
Objectivo analisar como desfrutam os adolescentes os bons momentos da vida.
Amostra: 285 alunos do secundário de escolas privadas e públicas – 54,6% são raparigas e 45,3% são rapazes, a maioria com idades entre os 15 e os 18 anos.
Resultados Desfrutar um bom momento passa sobretudo por partilhar com os outros essa experiência e pensar em como se vai recordar mais tarde esse momento. São essas as estratégias usadas pelos adolescentes, mas há uma nuvem negra a ensombrar as boas experiências. Os alunos não conseguem evitar pensar como tudo é passageiro ou como, afinal, essa experiência até podia ter corrido melhor ou não foi tão boa como estavam à espera. E é isso que os impede de desfrutar em pleno um bom momento. Mais do que uma característica, essa particularidade pode ser o resultado de uma herança cultural portuguesa, admitem os autores do estudo.
Fonte: ionline.pt de Portugal
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