*Messias Furtado de Souza
O presente artigo, baseado em pesquisas que fiz para ministrar palestras sobre o Bullying em escolas públicas e particulares, tem como objetivo tratar das questões sobre a problemática dos comportamentos que podem ser enquadrados como bullying, todavia, não têm a pretensão de inovar nem tampouco de esgotar o assunto, limitando-se a fazer uma abordagem didática ainda que superficial acerca do assunto.
Não da pra falar sobre comportamento bullying sem antes falar de um dos problemas que mais atinge a nossa sociedade nos dias atuais que é a violência, o gênero, do qual bullying é uma das espécies.
O uso da violência e os crimes bárbaros se multiplicam e se tornam tragicamente comum em nosso meio social, apavora, traumatiza e fere de morte a tranqüilidade social.
A violência esta tão banalizada em nossa sociedade que, parece que ela já passou a fazer parte do nosso quotidiano, ela é diária, esta em toda parte e estamos com a impressão de que isso já é algo natural em nossas vidas, ou seja, estamos perdendo a nossa capacidade de indignação diante de um quadro tão alarmante.
E o pior de tudo isso é que a violência vai se construindo em pequenas ações ou em grandes tragédias, da irritação no trânsito surgem verdadeiro monstros, dos bancos das escolas surgem assassinos contumazes e por ai vai, crescendo cada vez mais em nosso país, deixando o cidadão de bem como refém dessa escalada que parece não ter fim.
A indagação que se faz é a de que, quais seriam as causas, a gênese desse mal que assola a nossa população e coloca em xeque a capacidade do Estado em promover a tão sonhada paz social?
Uma das causa, acredito, se dá em razão de que há uma triste constatação que é a de que o nível de tolerância das pessoas diminuiu de sobremaneira e aumentou muito a sensibilidade à frustração e que as pessoas hoje têm tendência a responder com explosividade uma situação de frustração, por menor que ela seja.
E quem é que não fica frustrado no mundo de hoje? Num mundo em que o imediatismo é a palavra de ordem, que o consumismo e o modismo pregado diuturnamente pelos meios de comunicação gera constantes sensação de que eu preciso a cada dia ter mais e ter o melhor e que, se eu não tenho acesso às novidades sejam elas de que ordem for eu estou á margem do processo, estou excluído.
A propaganda violenta que entra pelas portas virtuais da nossa casa que são a televisão o rádio e pela rede mundial de computadores, (internet) me diz que eu não preciso ser mais eu preciso ter.
Eu tenho que ter o tênis, o carro o celular, o computador o Ipod o Iped e não importa a que custo ou a quem custe, se eu não tiver eu não sou. Então eu tenho necessidade e se a minha necessidade não é satisfeita eu me frustro e se eu me frustro eu posso responder com violência a essa frustração.
E é exatamente essa necessidade desmedida, não atendida e o meu despreparo para lidar com essa situação de frustração é que se manifesta muitas vezes como uma das causas desencadeante do aumento da violência e para o baixo grau de civilidade de nosso país.
O grau de civilidade de um país se mede pelo número de crimes com mortes que nele se registra. Em 2006 o Brasil registrou quase 50 mil assassinatos de acordo com a OMS, isso dá 137 nortes por dia. Para se ter uma idéia da gravidade que encerra esses números no Iraque em 2006, mesmo com a guerra o número de civis mortos foi de 34 mil de acordo com a ONU. Nós temos no Brasil aproximadamente 3 % da população do mundo e temos de 10 a 12 % do total dos assassinatos cometidos no planeta.
Outro fator que reputo importante para contribuir com o aumento da violência e do baixo grau de civilidade de nosso país é o fato de a violência estar muito banalizada.
Banalizada a violência começa cada vez mais cedo, e o que é pior, ela esta começando dentro da escola o local onde as pessoas deveriam aprender a serem tolerantes, ponderadas, diplomáticas e a conviver com as adversidades.
Vemos que não é bem assim. Quando um aluno zoa, ofende, ignora, exclui, humilha, fere, persegue, discrimina, ele está sendo violento, muito embora haja pessoas que consideram isso uma brincadeiras de escola, por isso mesmo visto como próprio da idade, da convivência entre colegas, isso não deixa de ser um ato de violência.
Na verdade, essas ações escondem uma violência silenciosa que é o comportamento bullying que envolve metade dos estudantes em todo país dizem as pesquisas.
O Bullying é um problema mundial, sempre encontrado em toda e qualquer escola, não estando restrito a nenhum tipo específico de instituição, primária ou secundária, pública ou privada, rural ou urbana, pode se afirmar que as escolas que não admitem a ocorrência de bullying entre seus alunos, ou desconhecem o problema, ou se negam a enfrentá-lo.
A terminologia Bullying começou a ser utilizada na Década de 80, por um psicólogo norueguês conhecido por Dan Olweus, que começa a fazer um estudo depois de um acontecimento muito trágico, quando na Noruega, um dos países com maior índice de desenvolvimento humano do mundo, 3 rapazes se suicidaram, juntos, eles deixaram uma carta dizendo que há cinco anos sofriam humilhações, perseguições, por parte de tais e tais e tais pessoas que eram um grupo grande da escola, a partir daí o cientista começou a fazer uma pesquisa profunda e usou o termo BULLY que significa em inglês, tirano, agressor, ditador, e derivou ele, por iniciativa própria Dan Olweus, criou o termo BULLYING, para determinar toda a agressão que ocorre dentro do território escolar e suas cercanias.
É importante frisar que para que uma conduta seja considerada Bullying é importante que satisfaça certas características: tem que ocorrer no ambiente escolar; tem que ser intencional; tem que ser repetitiva e a vítima não tem como fazer frente a seu ou seus agressores.
O Bullying em geral é coletivo mas pode ser praticado por um só aluno contra o outro. O agressor é geralmente intolerante, esta sempre metido em confusões, gosta de aparecer, age com o apoio de dois ou três colegas, precisa de platéia, a agressão pode ser física, verbal, moral ou psicológica.
Para combatermos efetivamente essa conduta que tem prejudicado muitas crianças e adolescentes indefesos nos temos que partir do princípio de que não há brincadeira quando alguém esta sofrendo e que essas práticas são mais comuns do que nós imaginamos e muitas pessoas estão sofrendo com isso.
Uma pesquisa do IBGE realizada em 2009 revelou que quase um terço (30,8%) dos estudantes brasileiros informou já ter sofrido bullying, sendo maioria das vítimas do sexo masculino. A maior proporção de ocorrências foi registrada em escolas privadas (35,9%), ao passo que nas públicas os casos atingiram 29,5% dos estudantes.
No Brasil, uma pesquisa realizada em 2010 com 5.168 alunos de 25 escolas públicas e particulares revelou que as humilhações típicas do bullying são comuns em alunos da 5ª e 6ª séries. Entre todos os entrevistados, pelo menos 17% estão envolvidos com o problema - seja intimidando alguém, sendo intimidados ou os dois. A forma mais comum é a cibernética, a partir do envio de e-mails ofensivos e difamação em sites de relacionamento como o Orkut.
Em 2009, uma pesquisa do IBGEapontou as cidades de Brasília e Belo Horizonte como as capitais brasileiras com maiores índices de assédio escolar, com 35,6% e 35,3%, respectivamente, de alunos que declararam esse tipo de violência nos últimos 30 dias.
Não se pode negar que o quadro é preocupante e que algo precisa ser feito o quanto antes para que o problema seja equacionado para que a médio e logo prazo possamos sentir os efeitos dessa medida.
Acredito que para minimizarmos esse problema precisamos focar nossas energias mais diretamente para a causa do que para os efeitos do problema da violência e que precisamos ser mais duros no combate a todo tipo de intolerância, seja ela de que origem, espécie ou natureza for e mais eficientes na formação das nossas crianças que são o nosso maior legado para a posteridade.
Temos visto que nos dias atuais que as pessoas estão preocupadas em transformar o mundo e não transformar os homens, nós estamos preocupados em deixar um mundo melhor para os nossos filhos ao passo que a nossa preocupação deveria ser exatamente ao contrário, deveríamos todos estar mais preocupados em deixar filhos melhores para o nosso mundo. Eis a questão!
Messias Furtado de Souza
Delegado de Polícia
Fátima do Sul - MS
Fonte: Fátima News
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