quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Grupo teatral expõe bullying com peça e debate nas escolas

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Professora Ana Paula Correa (de óculos), com a Cia Atores de Mar´,
na biblioteca que serviu de camarim. Ela patrocinou a vinda deles à Região dos Lagos

Foto: Reginaldo Coimbra


Depressão, traumas, comportamento anti-social, mortes por suicídio ou homicídio. Estas, infelizmente, são realidades que acometem pessoas que sofrem ou sofreram o bullying (palavra inglesa que significa violência física ou psicológica). A Cia Atores de Mar’, de Jacarepaguá, há seis anos viaja pelo Brasil, combatendo o problema, levando a peça ‘Bullying’ às escolas, empresas e igrejas. Encerrando a turnê pela Região dos Lagos, o grupo chegou em Búzios na última sexta-feira (22), tendo como palco o pátio da Escola Municipal Ciléa Maria Barreto, na Rasa, onde mais de 700 alunos assistiram e se reconheceram nas cenas do dia a dia escolar interpretadas por Patrick Moraes, Juliana Behla, Junior Beéfierri e Vanessa Palazzi, atores da peça.

Entre as sessões (três, uma em cada turno), o grupo encontrou tempo para conversar com o Primeira Hora. Patrick Moraes, único ator que integra o projeto desde o início, falou sobre a dinâmica das apresentações:

- Atualmente, trabalhamos com um espetáculo de 30 minutos, que são quatro esquetes. Na primeira, fazemos uma abordagem sobre o que é bullying, tipos, classificação, percentual de pessoas que praticam e que sofrem, e nas outras três são cenas que mostram apelido, discriminação, agressão física, mostrando o problema e, no final, a solução. Preferimos trabalhar ao ar livre, porque no palco fica uma coisa muito glamourosa, distante. A gente quer trabalhar no chão, com eles nos rodeando, pra olhar no olho deles.

Faz parte do trabalho, também, que, após cada apresentação, o assunto seja consolidado através de um bate-papo com os alunos, conduzido pelo diretor e roteirista Mar’ Junior. Ele declara:


- A ideia do tema surgiu quando um aluno, na Alemanha, entrou na escola e matou algumas crianças e professores. Aquilo alertou a gente. Bullying não é só violência escolar, ele acontece em casa (aliás, é onde começa), no trabalho, na igreja, mas nós resolvemos direcionar para a parte educacional. Antes do espetáculo ter esse nome, teve outros dois. Isso porque as escolas não reconheciam esse problema. Em 2008, dei o nome que eu sempre quis, e aí é que as escolas não contratavam mesmo. Mas esse ano, depois que a mídia começou a falar mais sobre isso, a gente começou a trabalhar direto.


Mar’ Junior, que assina os textos do espetáculo ao lado do jornalista Tiago Ferreira, conta que já sofreu na pele o bullying, tanto recebendo quanto praticando. Foi por isso que buscou as artes marciais. Seu prazer era derramar sangue. Hoje, com 50 anos, é um vencedor apontando o caminho para a vitória.

- O bullying é caracterizado de uma única maneira, que é a falta de amor. A solução está nos pais saberem dar amor e carinho aos filhos, para que a criança possa ter a segurança de saber que ela tem uma família.


Educador, aconselha que as instituições estimulem o serviço voluntário, que é capaz de mexer com os sentimentos e emoções de cada pessoa. Em seu discurso para o atento público do ‘Ciléa Barreto’, afirmou:

- Não estamos aqui para dar lição de moral, nem pra chamar atenção de ninguém, e sim porque queremos que o mundo seja diferente e vocês é que vão fazer esse mundo mudar.


Ao perguntar quem sofre e quem pratica o bullying, o diretor não mais se surpreende com as fortes manifestações da plateia. Mas, se depender de Walace, 15 anos, o mundo já está mudando:


- Gosto de jogar bola, e alguns amigos, às vezes, treinam mal e eu brinco. Mas sei como é ser zoado, eu não gosto. Hoje, aprendi que não se deve zoar. Na verdade, eu já sabia, mas não levava a sério. Agora, vou parar, vou brincar só até quando eles quiserem – revela o jovem, que cursa a sétima série.

Para a atriz Vanessa Palazzi, são desfechos como esse que fazem o trabalho ser ainda mais gratificante:

- Em um colégio no Rio de Janeiro, durante a conversa com o Mar’, uma menina levantou e foi pedir desculpa a outra, que ela perseguia botando apelido. Elas se abraçaram, foi muito bonito.

Alguns trechos do roteiro

‘Os agressores costumam ter em média 13 a 14 anos, capacidade de liderança e gostam de mostrar poder. Na maioria dos casos são mimados pelos pais, que exercem pouca ou nenhuma supervisão pelas suas atividades (...). As testemunhas, a maioria dos alunos, convivem com a violência e se calam pelo medo de se tornarem as próximas vítimas’.

‘Um detalhe curioso nisso tudo, é que frequentemente a vítima passa a ser agressora’.

‘Qual o papel da escola nesse processo? Conscientizar; monitorar recreios, pátios, banheiros freqüentados pelos alunos, permanentemente; ensinar aos alunos a conviver e a respeitar as diferenças’.

A Casa do Professor
O projeto só pôde chegar à cidade graças a iniciativa da arte-educadora Ana Paula Correa. Idealizadora da Casa do Professor (um lugar que abriga professores que moram longe e tem que vir à Região dos Lagos trabalhar), em Barra de São João, ela patrocinou a turnê. Além de Búzios, a Cia Atores de Mar’ esteve em Macaé e Barra de São João. Pra quem quiser contratar o espetáculo, o contato é ciaatoresdemar@gmail.com. Já o telefone da Casa do Professor é (22) 9894-1141

Fonte: http://www.jornalprimeirahora.com.br/noticia/51049/Grupo-teatral-expoe-bullying-com-peca-e-debate-nas-escolas

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