O amanhecer sempre nos faz crer que terá um novo sabor que se soma ao saber. Ele vem mesmo para aqueles desanimados, que preferem fechar as janelas, vivendo uma noite sem fim em uma escuridão involuntária. Não foram eles que fecharam as janelas, foram outros, e quando isso aconteceu, eram muito frágeis para se defender. O sabor do seu amanhecer foi violado. Isso é o bullying. Uma agressão à alma. Uma intrusão dolorosa nos sentimentos do ser humano, em que sofre o agredido, o agressor e a humanidade.
“Se se pudesse o espírito que chora, ver através da máscara da face, quanta gente que ri, talvez guarda consigo um atroz, recôndito inimigo como invisível chaga cancerosa”. Primeira estrofe de “Mal Secreto”. Raimundo Correia.
À depressão, também chamada de câncer da alma, junta-se agora o bullying, um câncer da alma também. Bullying é o comportamento agressivo intencional que pode se expressar de diversas maneiras: verbal, física, social, emocional; em relacionamentos pela Internet [cyber bullying] ou uma combinação de vários desses. É gerado pelo desequilíbrio de poder e ocorre repetidas vezes, durante um período de tempo.
BULLY (substantivo) indivíduo cruel, autoritário, violento. Plural: BULLIES.
O bullying não é algo novo, mas só recentemente as pessoas começaram a ter mais consciência de seu impacto negativo nas pessoas. Um grande problema é quando, nem todos têm força suficiente para impedir o bullying. Características mais comuns: discriminação, chacota, apelidos pejorativos, boatos, ameaças verbais, provocações, intimidação, isolamento ou exclusão e agressão. Pode ocorrer em qualquer lugar, sendo mais comum em locais onde há poucos adultos para supervisionar (no caso de crianças). Mas adultos também cometem o bullying, em proporções iguais ou até maiores do que entre os mais jovens. E também, o agredido, mesmo adulto, muitas vezes não sabe como se defender. Ou não pode. Fragilizado, perde até a voz, emudece.
Pesquisadores americanos o classificam como um conflito global. Antes da década de 1970, o bullying não era considerado um grande problema social. Somente quando o pesquisador sueco Dan Olweus, professor de psicologia da Universidade de Bergen, na Noruega, concluiu o primeiro estudo científico em larga escala sobre bullying entre crianças e jovens em escolas é que o público percebeu a magnitude do problema, que ocorre na maioria das escolas. Não só de crianças ou jovens, mas também adultos. Hoje, o pesquisador Dan Olweus é considerado a maior autoridade mundial no assunto.
O bullying é um problema social e deve ser encarado com seriedade por pesquisadores, educadores, legisladores, pais, alunos e pela sociedade em geral, com programas antibullying, pois trata-se de um problema de saúde pública. Pessoas que sofrem a ação de bullies na infância, têm mais tendência a sofrer de depressão e ter baixa autoestima. Os bullies têm mais tendência a desenvolver comportamento criminoso na idade adulta. Hoje, além de homicídio e suicídio, há o “bullycídio”. Este termo define crianças que cometem suicídio para escapar dos bullies.
ALLAN L.BEANE, Ph.D., atuou como professor até a morte de seu filho, Curtis - uma consequência indireta do bullying que este sofrera durante grande parte da infância e da adolescência. Atualmente, ele, Allan Beane, é um especialista em prevenção e repressão ao bullying, internacionalmente reconhecido. Hoje, ele se dedica exclusivamente ao bullying. Escrevendo, respondendo cartas, dando palestras. É um apaixonado pela ideia de impedir e deter o bullying, pelo fato acima mencionado. “Entendo a dor manifestada pelas crianças e o sofrimento experimentado por seus pais. Quero deter essa dor. Por favor, venham comigo levar luz à escuridão”.
No Brasil, temos a pioneira nesse assunto, Cleo Fante, uma das primeiras estudiosas desse assunto e disse: “prevenir a violência nas escolas e educar para a paz, que para muitos alunos e de todas as séries talvez seja a matéria mais difícil de ser aprendida”. De minha parte, digo em alto e bom som: lutemos juntos, pois “nada se iguala ao sabor do pão partilhado” (Saint Exupéry).
(*) Gilda Proença, licenciatura em Letras Anglo-Portuguesas - Universidade Estadual de Londrina – UEL – Paraná. Especialização em Metodologia Educacional - UFMT - Rondonópolis.
Fonte: A Tribuna Mato Grosso
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