Técnicos do Instituto de Apoio à Criança acompanharam em 19 agrupamentos mais agressores do que vítimas de intimidação continuada. E com bons resultados.
No ano passado foram acompanhados nas escolas 166 alunos por bullying. A maioria (93) eram agressores e os restantes 73 vítimas desta forma de violência continuada.
A coordenadora dos gabinetes de apoio ao aluno e à família (GAAF) nas escolas, Melanie Tavares, explica que "os agressores agem muitas vezes em grupo sobre uma única vítima", sendo por isso normal que o seu número seja superior ao dos alunos que sofreram intimidação.
O trabalho feito com os agressores, ao longo do ano, conseguiu que alguns se tornassem amigos das vítimas. "Não incentivamos a nada, nem a confessarem que são agressores, nem a pedir desculpa às vítimas. Mas muitas vezes eles tomam consciência daquilo que fizeram e acabam por pedir desculpa", adianta Ana Ferreira, coordenadora do GAAF de São João da Talha, Santa Iria da Azóia.
O principal objectivo das sessões organizadas pelos GAAF - que são coordenados pelo Instituto de Apoio à Criança - é levar os agressores a pensar nas suas atitudes, refere Ana Ferreira. "Conseguimos que eles tomem consciência através de actividades de turma em que alguns alunos fazem de vítimas e outros de agressores".
Na sua escola, Ana Ferreira já conseguiu reconciliar várias vítimas e agressores. João (nome fictício) é hoje amigo de quem antes lhe batia. "Era do pior que possamos imaginar. Percebemos em assembleia de turma, numa das actividades, que ele era vítima de colegas da turma. Mas conseguimos que ele se integrasse e que os agressores começassem a vê-lo como um par".
Hoje jogam à bola juntos e João até conseguiu passar de ano, melhorar as notas e a sua autoestima. "Agora até é um tagarela nas aulas e antes nem abria a boca", confessa orgulhosa a psicóloga.
A prevenção do bullying - violência física e psicológica de forma continuada sobre a mesma pessoa - foi uma das apostas dos gabinetes durante o ano passado e é uma das prioridades para este ano, explica Melanie Tavares. O objectivo é travar relacionamentos que são "grandemente marcados pela violência", quer entre colegas quer com os professores, justifica o relatório de actividades dos GAAF.
À prevenção de situações de bullying, estes gabinetes, que estão em escolas até ao 3.º ciclo, juntam este ano a prevenção do consumo de substâncias psicoactivas, a sexualidade e a segurança na internet.
Além destes casos, os gabinetes recebem e acompanham alunos com outros problemas. Ao todo, num universo de 20 557 estudantes foram sinalizados 1808 no ano passado. O fraco aproveitamento escolar é a situação mais frequente, seguido da desmotivação e de mau comportamento na aula.
Para os técnicos dos GAAF, muitos alunos têm "antecedentes de grande exposição a modelos de risco". De facto, muitas destas crianças são oriundas de famílias monoparentais, em que a mãe é a única responsável pela educação das crianças. A resposta está por isso no apoio às famílias. Ao longo do ano 2009/2010 , os psicólogos e técnicos fizeram 346 visitas domiciliárias de forma a incluir a família na vida escolar dos jovens e realizaram 1204 reuniões com os encarregados de educação das crianças e jovens.
Fonte: DN Portugal
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