segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Kevin Sussman, da “Teoria do Big Bang”: “Sofri bullying na escola, enfiaram-me num cacifo”


Há oito anos que Kevin Sussman nos entra pela TV adentro como o deprimente Stuart, da série "A Teoria do Big Bang". O ator esteve na Comic Con Portugal, cantou "Soft Kitty" e falou com o Observador.


"Gostava que o Stuart encontrasse o amor", admitiu Kevin Sussman
© Divulgalção

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Não foi só Colbie Smulders que encheu auditórios na Comic Con Portugal. Às 14h15 de sábado, o Auditório A da Exponor, em Matosinhos, estava à pinha e o entusiasmo em níveis máximos. Tudo para ver de perto Kevin Sussman, o ator que dá vida ao triste nerd Stuart Bloom, na série de sucesso “A Teoria do Big Bang”. O norte-americano confessou ter muito em comum com o personagem, mas mostrou-se sempre bem humorado, quer na entrevista ao Observador, quer nas questões do público. E até cantou “Soft Kitty”, apesar de confessar não saber a letra.
A frase “É a primeira vez que estou em Portugal” mereceu um ruidoso aplauso do público. A ideia seguinte, sobre ter estado na Livraria Lello, “com os seus tetos góticos” e inspiradores para J.K. Rowling, não ficou atrás. Quando a moderadora recebeu o ator — cuja fama se consolidou graças às nove temporadas que já fez como um infeliz proprietário de uma loja de banda desenhada — anunciou que Kevin tinha feito 46 anos há uma semana, não houve música de parabéns, mas as palmas não faltaram. Nunca faltaram. E uma música chegaria pouco depois.
Podes cantar o ‘Soft Kitty’?“, pediu uma das fãs que conseguiu chegar ao muito concorrido microfone das perguntas do público. “Hmmm, acho que não, não sei…”, respondeu, muito hesitante. Mas a rapariga não desistiu. “Não sei a letra!”, tentou Kevin. Era uma má justificação para quem faz parte do elenco há oito anos, mas uma ótima desculpa para se safar. Só que a fã já tinha mostrado que não ia arredar pé e ofereceu-se para lhe ensinar tudo. E ele lá cantou, timidamente ao princípio, mais confiante nas onomatopeias finais: “Soft kitty, warm kitty, little ball of fur! Happy kitty, sleepy kitty, purr, purr, purr“. “Acho que um dia vou ter de ver a série”, brincou no final.



A música de “A Teoria do Big Bang” é da infância de Sheldon. Stuart nunca se meteu nisso… Até este fim de semana, na Comic Con.
“Sou um geek genuíno”, confessou. E a plateia, cheia de geeks, agradeceu a confissão com um aplauso. Tal como o personagem, Kevin já tinha trabalhado numa loja de banda desenhada durante “quatro ou cinco anos”, em Nova Iorque, a sua cidade natal. “Por isso, posso dizer que passei a maior parte da minha vida adulta a trabalhar em lojas de comics“.
A maior parte das questões do público andou à volta da série. Por exemplo, haverá temporada 11? “Ainda estão a negociar, vamos saber nos próximos meses”. Não é que faltem ideias, nem certezas sobre o quanto “A Teoria do Big Bang” ainda tem a dar à comédia. O problema, segundo o ator, são “as muitas batalhas entre advogados“. Da Warner Bros. da CBS, dos argumentistas, dos produtores, dos atores. Garante que, segundo sabe, todo o elenco quer continuar.
Na negociação passada, as principais reivindicações eram salariais e Jim Parsons (Sheldon), Johnny Galecki (Leonard) e Kaley Cuoco (Penny) conseguiram um milhão de dólares para cada um, por episódio (são 24 episódio ao todo, é fazer as contas). Para que todos cheguem a acordo, “há muitos advogados cujos sentimentos serão magoados”, brincou Kevin Sussman.
Em Portugal, a série é transmitida pelo canal AXN White e a 10.ª temporada ainda não estreou (está a ser transmitida atualmente nos Estados Unidos). Por tudo isto, o ator não quis adiantar muito sobre o que vai acontecer na trama. “É muito difícil adiantar-vos alguma coisa porque eles escrevem cada episódio uma semana antes”, argumentou. Ao contrário da canção, desta vez safou-se.
Aos jornalistas, contaria mais tarde algumas novidades: Stuart está a viver em casa de Mrs. Wolowitz, para ajudar Howard e Bernadette com o nascimento do bebé. Não porque esteja a ter uma relação com Mrs. Wolowitz, já que, com a morte da atriz Carol Ann Susi, em novembro, Chuck Lorre decidiu que também a personagem teria de morrer. Por fim, antes da entrevista com o Observador, um desejo para os argumentistas: “Gostava que o Stuart encontrasse o amor”.
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Penny e Stuart, na loja de banda desenhada. Kevin, que dá vida a Stuart, é “um genuíno geek”. © Divulgação
Na sessão de perguntas e respostas, bem como na conferência de imprensa, falou-se muito nas semelhanças que há entre o Kevin e o Stuart. Por exemplo, ambos serem geeks, terem trabalhado numa loja de BD e frequentado uma psicóloga. Mas também há diferenças. O Kevin parece bastante mais feliz do que o personagem. Que outras diferenças existem entre vocês?
Sim, é verdade. Acho que tenho mais competências sociais do que ele, não tenho tanto medo de pessoas. Quer dizer, há sempre um medo na minha cabeça de que a pessoa me pode atacar a qualquer momento [risos]. Deixa-me ver que outras diferenças há entre nós… Eu tenho namorada, o que não é nada Stuartiano! E não odeio o meu trabalho.
Isso sempre me intrigou. Porque é que um nerd não é feliz por ter a sua própria loja de comics? O Stuart não deveria adorar o que faz?
Tenho de corrigir o que acabei de dizer. Ele adora livros de banda desenhada e arte. É um artista. Mas ser proprietário de uma loja de BD hoje em dia é muito difícil, tudo é digital, e ele está sempre sem dinheiro. Profissionalmente, as coisas só tendem a piorar para ele.
O Kevin é assumidamente um geek. Consegue aproveitar estes eventos de Comic Con como fã da cultura pop, ou com a fama que tem atualmente isso torna-se impossível?
Se eu fizesse Cosplay e me vestisse de algum personagem, talvez conseguisse! Mas sim, é complicado. É estranho vir de Nova Iorque, de uma altura antes d’A Teoria do Big Bang, em que eu estava sempre junto das pessoas, fosse no metro ou noutro sítio qualquer, e agora não poder fazer isso. Quando pensas nisso, é uma loucura para um ator porque ele precisa de observar o comportamento humano. Mas de repente és tu o observado.
Evita espaços públicos por causa da sua fama?
Eu vivo em Los Angeles e é complicado, somos quase forçados a viver uma vida solitária. Mas eu sou um geek e muitas das coisas que gosto de fazer posso fazê-las em casa. Não vou a clubes, nem bares, não gosto de música alta, acho que neste aspecto sou muito como o Stuart [risos]. Passo muito tempo em casa. É estranha esta dicotomia porque às vezes saio, tenho interações muito intensas com gente que me reconhece da série e depois chego a casa, sento-me no sofá a pensar no que é que toda a gente anda a fazer, ligo a Xbox e estou completamente sozinho.
Hoje, ser geek está na moda. Mas até há pouco tempo não era assim e o que vemos nas séries e filmes americanos sobre a vida de um geek no liceu não é uma coisa bonita. Teve problemas na escola?
Oh, sim. Totalmente. Sofri bullying, estavam sempre a meter-se comigo, enfiaram-me num cacifo…
A sério? Que idade tinha?
Acho que aconteceu no meu primeiro ano no liceu! Fico satisfeito por ver que hoje os jocks [atletas do liceu] gostam de se fazer passar por geeks.
Alguma vez se voltou a cruzar com algum dos bullies que o atormentaram?
Não, não.
Como é que reagiria?
Cobardemente? [risos] Acho que não seria capaz de iniciar algum confronto com essas pessoas. Provavelmente seria apenas educado e ficaria feliz por ver que eles continuam a trabalhar na bomba de gasolina [risos]. Mas é melhor assim, que eu não os encontre. Assim posso manter vivo o sonho do que eu lhes faria.



Falou sobre a guerra entre advogados, que impede que ainda não se saiba se “A Teoria do Big Bang” terá ou não mais alguma temporada. Há um risco real de a série terminar?
Acho que no final de cada grande série há uma batalha de advogados [risos]. Eu falo em advogados mas, na verdade, são tudo números. O canal tem a sua folha de Excel, onde diz quanto é que eles podem pagar com um determinado retorno. Porque, em termos de criatividade, acho que as personagens estão tão bem definidas que a série podia continuar durante muitos anos. O Sheldon podia estar nesta sala e fazer algo divertido, há um potencial enorme porque as personagens estão muito bem orquestradas.
Mas corre o risco de ficar sem emprego, isto é, de a série acabar?
Acho que isso só acontecerá se os personagens regulares quiserem sair e ir fazer outras coisas. Mas, neste momento, todos os atores querem continuar, o Chuck Lorre quer continuar, o canal também, porque a série é super popular. Por isso, imagino que haverá uma continuação para além da temporada 10. Ou seja, se um dia a série acabar, não será bem por causa de advogados. Será provavelmente porque um dos atores principais quer seguir outro caminho.
O Jim Parsons [Sheldon] também quer continuar? Fala-se de uma prequela sobre a infância do personagem no Texas, e que ele estará envolvido como produtor.
Ah, sim. Vai ser escrita pelo Steve Molaro, mas eu provavelmente sei tanto quanto tu. Mas acho que isso não quer dizer que “A Teoria do Big Bang” vai acabar. Acho que a ideia é conciliar, e aproveitar alguma da audiência que nós temos para essa nova série. Não vão propriamente competir entre elas.
Na sessão de perguntas e respostas com o público disse que, se pudesse dar um conselho ao Kevin Sussman de há 10 anos, dir-lhe-ia para parar de se preocupar tanto. Quais eram as suas inseguranças?
Escolha! Tantas… Eu tenho tendência para ser muito preocupado. Especialmente agora com a Internet.
Vai ao Google pesquisar o seu nome?
Há muito tempo que já não o faço. Tento não o fazer [risos]. Levo as coisas de forma demasiado pessoal. Posso ler 100 comentários elogiosos, que adoram o meu personagem, mas se leio um que diz que me odeia, é como se os outros não existissem. Então, já não o faço, o que é definitivamente importante para a minha sanidade. Talvez outras pessoas consigam lidar bem com isso, e não importa quem és ou quão famoso és. Terás sempre quem te critique. Mas eu preocupo-me com outras coisas, como ir à Internet pesquisar doenças, o que é uma loucura. E quando deixo de me preocupar com determinado problema, o meu cérebro automaticamente arranja outro.
Sei que não pode adiantar muito em relação à temporada 10 que está a passar atualmente nos Estados Unidos, mas há alguma coisa que queira destacar?
Há o bebé do Howard e da Bernadette que, de certa forma, fará uma espécie de paralelo à Mrs. Wolowitz, através do choro dele. E também o bullying que ela fazia ao Howard, acho que haverá uma dinâmica semelhante com o bebé. O que eu estou a dizer não é oficial, porque não sei ao certo para onde os argumentistas vão ainda, mas parece uma oportunidade perfeita. Também vai ser interessante ver como será a relação da Bernadette com o bebé.
Sim, há um episódio em que ela mostra claramente que não gosta de crianças.
Exato, mas não só. Ela nunca chegou a viver com a Mrs. Wolowitz, mas agora vai viver com o paralelo, que é o bebé.
O Stuart está a morar em casa deles?
Sim, está lá para ajudar com o bebé. E também porque essa é a minha desculpa para ter um sítio para morar [risos].

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