sábado, 17 de dezembro de 2016

Violência nos estabelecimentos de ensino

Bullying, consumos, namoros ou pura violência, todos os anos aumentam as agressões no interior das escolas.


Hernâni Carvalho da TV Mais
À saída da escola da Trafaria, Almada, uma criança de 11 anos foi esmurrada por um colega e teve de receber tratamento hospitalar. O colega disse que estava a ensaiar um golpe de karaté. A escola descartou responsabilidades por o acto ter acontecido fora do recinto escolar. Os pais apresentaram queixa e o Ministério Público (MP) arquivou-a por o agressor ter menos de 12 anos e não poder ser responsabilizado no âmbito de um processo tutelar de menores.
Humilhação
A menina foi atingida na boca, com um murro que a atirou ao chão e danificou os óculos que lhe saltaram da cara. Tudo aconteceu na presença de colegas. Dor, desconforto e humilhação. É assim que ela relata os seus dias desde então. “Acho esta situação revoltante, são estes ‘anjinhos’ sem responsabilidades nem punições que fazem demonstrações de karaté, com outras crianças e em frente a um grupo de colegas que serão ‘os homens’ de amanhã. E pelos vistos não existem pais nem responsáveis. Ainda nos admiramos de andar este país como anda”, disse a mãe da criança agredida.
Impunidade
À criança agressora nada aconteceu. Nem a Comissão de Protecção Crianças e Jovens (CPCJ), nem a escola, nem os pais, nem o professor de karaté tiveram uma atitude. Aliás, a TvMais apurou que outros factos desta mesma natureza, com o mesmo agressor, estão relatados na escola. Para Mário Nogueira, secretário-geral da Fenprof, o aumento da criminalidade “não se reflecte no trabalho dos professores... O que o corpo docente constata é o aumento da indisciplina”. Sem consequências.
Furtos e agressões 
Segundo o Ministério da Administração Interna, furtos e agressões físicas são o maior número de ocorrências registadas em ambiente escolar. O balanço do último ano lectivo terminou com 5051 crimes praticados no interior e nas imediações das escolas de todo o País. Uma média de cerca de 500 actos por mês. Nas áreas da PSP, verificaram-se 4102 ocorrências e, nas da GNR, há registo de 949. Lê-se no relatório do programa “Escola Segura” da PSP que foram mais os crimes praticados no interior das escolas (2849), do que as situações que tiveram lugar fora dos estabelecimentos de ensino (1253). Os crimes mais praticados são as ofensas à integridade física (1350) e roubos (1045).
Palmela. Mais uma agressão descartada pela escola 
Um vídeo com agressões a uma aluna junto à Escola Secundária de Palmela circulou nas redes sociais e já é do conhecimento das autoridades. Uma aluna é agredida por outra rapariga com uma bofetada e palmadas na cabeça, enquanto outras a insultam e colegas assistem e filmam, sem evitarem as agressões. Nas imagens, aparecem alunos daquela escola e da Escola Hermenegildo Capelo. “Identificámos algumas alunas como nossas e já falámos com a GNR, que nos disse que os encarregados de educação é que podem fazer queixa por ser fora da escola”, disse Ana Serra, directora do Agrupamento de Palmela.
“Escola Segura”
Há 3388 escolas abrangidas pelos programas de “Escola Segura”. Uma vigilância reforçada por agentes da PSP e GNR, com formação específica, cujo mote e um dos pontos vitais é a relação próxima e específica que esses agentes conseguem alcançar junto de todos os agentes escolares. Patrulhamento específico, em horas definidas de acordo com as necessidades avaliadas a cada escola.
Meios da “Escola Segura”
Este tipo de patrulhamento é reforçado com acções de sensibilização dos agentes dentro e fora da escola. Ao todo, haverá cerca de 400 polícias afectos a esta actividade. Os meios não são os melhores. Grande parte dos automóveis policiais usados nestas actividades são fornecidos pelas autarquias. Um esforço redobrado ao orçamento da autarquia e aliviado ao orçamento da polícia. Mas nem assim há meios próprios suficientes para esta actividade policial de prevenção. No último ano, terão sido concretizadas cerca de 7500 acções de sensibilização. Menos 400 que no ano anterior.
RASI diz pouco
Paradoxalmente, o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI), que pretende fazer um retrato do estado da criminalidade em Portugal, quase se abstém sobre estas matérias. O relatório do último ano tem um total de 246 páginas sobre os crimes que se praticaram no País. Acerca de criminalidade juvenil, diz que houve 2117 actos desta natureza. Sobre criminalidade grupal, registou 6069. Tudo explicado em página e meia.
“Sempre houve brigas nas escolas, mas, antes, os pais preocupavam-se mais com os filhos. Hoje, os pais dos agressores, na maioria das vezes, não vão às reuniões. Quando vão, são eles próprios a ameaçar outras crianças e os professores. Não há um pedido de desculpa, hoje em dia, por parte de ninguém. Ninguém assume responsabilidades. A nossa sociedade está a perder a humildade... Fico preocupada com o futuro e tento educar a minha filha o melhor que sei, embora saiba que pode vir a fazer asneira. E este é o mal de muitos pais: pensar que os seus filhos são os melhores do mundo. Peço desculpa por me alongar, foi tudo um desabafo meu”, texto de uma mãe, enviado por via electrónica.

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