domingo, 3 de julho de 2016

Raiva na infância desafia os pais na arte de educar

Sentimento negativo nas crianças é normal, mas é preciso haver limites


É possível trabalhar a raiva de forma positiva, diz Tania Paris
Em uma ilha ocupada por muitos pássaros que não podem voar, mas que mesmo assim transmitem alegria por onde passam, a personalidade irritada de Red se destaca no meio do bando. A narrativa da animação “Angry Birds: O Filme”, em cartaz em alguns cinemas do país, aborda um problema comum, mas difícil de lidar, principalmente na infância: a raiva.

Esse é o tipo de sentimento que, segundo a presidente da Associação pela Saúde Emocional de Crianças (Asec), Tania Paris, é detectado quando a criança acha que teve uma perda. “E não adianta dizer para ela (criança) não sentir aquilo. Isso não ajuda em nada”, diz.

Por isso, é também muito comum confundir o comportamento com o sentimento. Por exemplo, a diferença entre birra e raiva. “O comportamento veio por causa do sentimento. Se a criança se joga no chão e faz manha, isso é comportamento”, diz Tania.

Para que os pais consigam ajudar os filhos, é fundamental entender os motivos do sentimento da criança e o que ela está vivendo. “Se os pais se fixarem só no comportamento, a tendência é que eles possam reprimir (a criança), mas, para ajudar, é preciso identificar a origem”, diz.

No filme, é mostrado que a origem da raiva de Red está no bullying sofrido na escola, e, então, ele decidiu se excluir. Mal-humorado, o pássaro com problemas de temperamento, depois de se envolver em uma briga, é obrigado a frequentar um grupo de terapia para controlar a raiva.

Autora de dois livros sobre bullying, a psicóloga Maria Tereza Maldonado explica que uma parte dos autores de bullying já sofreram agressões anteriormente. “Existe o raciocínio de vingança. Se já fui uma vítima, agora eu vou fazer vítimas”, observa. Nesse caso, a prevenção passa pela construção de um programa eficiente de prevenção do bullying em escolas, segundo Maria Tereza.

Intervenção. Explicar que é natural a raiva, mas não aquilo que se faz a partir do sentimento, é fundamental para os pais conseguirem evitar a agressividade nas crianças. E o autocontrole, segundo Tania, é algo que ninguém nasce sabendo. Ou seja, pode ser ensinado.

“Para educarmos as crianças para lidar com esse sentimento negativo, o melhor momento é fora do episódio de raiva. A conversa deve ajudar a criança a se instrumentalizar para lidar com aquilo para que, no momento de raiva, os pais possam lembrá-la da conversa anterior”, diz.

Os ensinamentos de autocontrole podem começar desde cedo, a partir de 1 ano. Sugerir opções de relaxamento, como respirar fundo ou fazer algo que envolva esforço físico, é uma alternativa. Antes de tudo, porém, Tania lembra que é preciso ser um “bom modelo”. “Copiar o comportamento é muito comum.
Se o pai está irritado e bate no filho, não tenha dúvida de que ele está ‘ensinando’ o filho a bater no outro”, explica.
Minientrevista
Maria Tereza Maldonado, Psicóloga

A maioria dos casos de bullying é motivada pela raiva? O autor de bullying sente raiva dos colegas e os ataca porque fizeram algo de que ele não gostou, tem que se vingar, são várias motivações. Outra questão é a necessidade de poder, ou seja, eu quero que várias pessoas tenham medo de mim, fiquem submissas. Então, muitas vezes o autor tem necessidade de exercer a liderança de forma opressora.

Como agir? Todos nós sentimos raiva, porém muitas crianças e até adultos não conseguem aprender maneiras aceitáveis de manifestar a raiva. Com essa dificuldade, muitos a expressam de forma agressiva, impulsiva, dizem tudo o que querem e sem pensar. As pessoas têm que aprender a tomar conta da raiva em vez de deixar a raiva tomar conta delas.

Quais seriam essas opções? Pode ser por meio de bases terapêuticas, ou com círculos restaurativos em escolas, ou seja, conversas entre pessoas que praticam e sofrem bullying para melhorar a qualidade dos relacionamentos por meio da reflexão e do aumento da empatia. (LM)

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