Relato de caso à luz do assédio moral por meio da injúria racial sofrida pela ex-funcionária de uma filial da rede de franquias Subway, Rosilene Medeiros de 30 anos.
A agora ex-funcionária Rosilene Medeiros, 30 anos, denunciou a gerente de uma filial de rede comercial internacional de fast-food, por injúria racial. Uma amiga da denunciante a informou sobre uma foto em que Rosilene aparece limpando o balcão da lanchonete, e na foto, a legenda faz referência a uma personagem, a Escrava Isaura (PORTAL G1, 2016). Esse é um relato que não deveria ser atual, já que a escravidão teve seu primeiro ato de abolição no município de Redenção/CE em 1883, mas o é, e infelizmente é sabido que não é apenas um caso isolado, mas uma gota de injúria nesse mar organizacional que temos no Brasil.
A injúria faz parte de um complexo sistêmico que conhecemos por bullying, ou assédio moral. Sendo bullying muito estudado anteriormente como um fenômeno comum ao ambiente escolar, este ultrapassa as paredes escolares e penetra no cotidiano das relações dos indivíduos que convivem em sociedade, estando presente nos relacionamentos entre familiares, no ambiente de trabalho, no ambiente virtual etc. Para fins desta discussão utilizaremos o termo ‘Assédio Moral’ em detrimento de bullying para facilitar o entendimento com o caso citado.
Entende-se por assédio moral toda e qualquer conduta abusiva que manifesta por comportamentos, palavras agressivas, atos, gestos, escritos que possam trazer danos à personalidade, à dignidade ou à integridade física ou psíquica de uma pessoa, pôr em perigo seu emprego ou degradar o ambiente de trabalho (HIRIGOYEN, 2014). O assédio moral tem um grande impacto prejudicial no desenvolvimento biológico e psicossocial dos envolvidos, destacando-se fatores fisiológicos como desordens alimentares e cardíacas, transtorno de sono, tontura, além dos problemas de conduta, baixa autoestima, transtorno de humor e de ansiedade, despersonificação, dentre outros (STEPHAN, Francesca et al., 2013).
Essa guerra psicológica no ambiente de trabalho agrega dois fenômenos em especial (HIRIGOYEN, 2014):
- o abuso de poder, que é rapidamente desmascarado e não é necessariamente aceito pelos empregados.
- a manipulação perversa, que se instala de forma mais insidiosa e que, no entanto, causa devastações muito maiores.
Sendo o caso acima uma manifestação dessa perspectiva de insidiosa manipulação perversa, pois a vítima informa que teve que pedir demissão por não aguentar a pressão e as piadinhas que viraram rotina depois que o caso foi parar na polícia. Não aguentando continuar trabalhando na organização por insistentes humilhações que não afetavam apenas a si, mas outros colegas de trabalho, sendo um colega do gênero masculino comparado a um macaco e que posteriormente fora demitido (PORTAL G1, 2016). Característica da gestão por injúria, que é um comportamento arbitrário de certos gestores despreparados que submetem seus colaboradores a uma pressão terrível com total falta de respeito, insultando ou injuriando (HIRIGOYEN, 2015).
O sofrimento no ambiente de trabalho para a vítima em questão durou poucos dias, a mesma enfrentou seus receios, denunciou, pediu demissão e está aguardando o desenrolar dessa situação. Mas esse momento abre mais uma janela de preocupação para o tema: Quantos brasileiros(as) devem estar sofrendo deste mesmo problema neste momento ou de problemas similares?
Esta violência pode durar de meses até anos, repetitivamente. Portanto toda vítima deve estar atenta para perceber esses fatos, pois, caso o assédio não seja diagnosticado ou percebido precocemente, pode repercutir na vida social e no trabalho, sendo que, uma vez instalado, torna-se difícil de ser controlado e prevenido. Com o passar do tempo, as consequências podem se tornar visíveis e aparentes, tanto no que diz respeito à saúde psicológica quanto em alterações físicas da pessoa: depressão, estresse, cansaço, insônia, diminuição da capacidade de concentração, isolamento social, mudança de personalidade, aumento de peso, distúrbios digestivos, aumento da pressão arterial e tremores (FREITAS; HELOANI; BARRETO, 2008; OLIVEIRA; AGNELLO; NEOFITI, 2008; ANDRADE et. al., 2015).
Sejamos todos vigilantes, nenhum comportamento que tenha o intuito de expor um indivíduo ao ridículo, ou que venha a tornar o ambiente de trabalho um lugar hostil, pode ser aceito pela classe trabalhadora. Todo comportamento de conduta abusiva deve ser investigado e revisto em favor do bem-estar e da qualidade de vida no ambiente de trabalho. Um ambiente psicossocialmente salubre é um fator determinante para o sucesso do gestor, da organização e, sobretudo, do trabalhador que efetivamente põe a “mão na massa”, pois seu desgaste físico já é por si só algo muito difícil de ser superado com 8h de descanso entre uma jornada e outra de trabalho.
Referências
ANDRADE, et al. Assédio moral no trabalho e sua complexidade: revisando as produções científicas. J. res.: fundam. care. v.7, n.3, p. 2761-2773, 2015.
HIRIGOYEN, M. F. Assédio Moral: a violência perversa no cotidiano. 15ªed. Rio de Janeiro (RJ): Bertrand Brasil, 2014.
Freitas ME, Heloani R, Barreto M. (2008). Assédio moral no trabalho. 1ªed. São Paulo (SP): Cengage Learning, 2008.
Oliveira D, Agnello R, Neofiti RM. Assédio, violência e sofrimento no ambiente de trabalho; 2008. [citado 2 jun 2011]. Disponível em: URL: http://www.saude.gov.br/. 2008
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