Problema que geralmente inicia nas escolas, muitas vezes passa despercebido por pais e professores.
Clara Floriano, Írio Gabriel Marcelino Pereira, Erick Behenck e Thiago Silva /Prof. orientador Cláudio Toldo (SC0640JP)
Nesta reportagem, conheça o problema, quem são os principais envolvidos, onde mais acontece e como agir diante dele? Veja o que psicólogos falam sobre vítimas e agressores. Confira as iniciativas de uma escola para combater o bullying. Na internet, youtubers apresentam algumas soluções possíveis para resolver o problema. Acompanhe o relato de uma vítima e como ela fez para superar as agressões.
O que é bullying?
Bullying é todo o tipo de agressão física ou verbal intencional e repetida sem motivos aparentes. A violência é cometida por uma ou mais pessoas contra uma pessoa mais vulnerável. Agressores e vítimas são em geral crianças e adolescentes em idade escolar.
Geralmente os bullies (agressores) escolhem crianças que consideram diferentes, por exemplo, as que fogem do padrão estético, as que são mais tímidas e as que vêm de minorias raciais.
É o caso de S.E.C.*, que começou a sofrer bullying aos sete anos. “Sempre aconteceu porque eu era gordo, não foi por outro motivo. Eu não era o padrão e eu pensava que tinha que ser diferente. Queria sair do que as pessoas impõem, porque isso me incomodava”, relata.
S.E.C. explica que no começo não entendia os motivos que levavam às perseguições. “Eu nunca soube por que eu apanhava. As crianças me empurravam do nada. Alguns garotos se diziam meus amigos pra ficar caçoando, me agredindo. Mas eles não batiam forte para que eu achasse que era brincadeira”, conta.
Ele mudou de escolas por três vezes. Em uma delas foi expulso por faltas; e na última o garoto decidiu que não iria mais socializar com os colegas. “Na última escola eu me desliguei, me isolei. Esqueci que existiam outros colegas. Preferia tirar nota 0 à fazer trabalhos em grupo, por medo de acontecer tudo novamente”, expõe.
É na escola onde bullying mais acontece
Em algumas escolas o bullying não é percebido ou é ignorado por professores. “Nas escolas não ajudavam. Os agressores faziam quando os professores não estavam olhando. Eu queria guardar as coisas, era reservado, por isso também não contava nada aos professores”, revela.
As práticas vão desde apelidos, brincadeiras e a exclusão do indivíduo. Os tipos geradores de bullying mais comuns são o peso, fator da crianças estar acima do peso ou muito magra, orientação sexual, estética ligada a sinais, marcas, espinhas, orelhas em abano, etc., traços sociais, raças e sotaques de outras regiões.
“A criança que sofre não entende ou vê aquilo como brincadeira. Ela leva para si como insulto, passa acreditar que os colegas a desprezam e não consegue se defender”, relata a psicóloga Cibele Lucion.
Além de se isolar e ter problemas na escola, a vítima de bullying pode desenvolver traumas psicológicos. “Eu não superei, mas vi que tem pessoas do meu lado não só pra tirar proveito”, completa S.E.C.
Já o agressor muitas vezes não consegue ver maldade naquilo que está fazendo. Trata como brincadeira, sem perceber que pode causar sérios danos. Segundo a psicóloga Cibele, são várias as consequências que o bullying pode causar, desde problemas na saúde mental, abalo na autoestima, fobia social, depressão na adolescência e na vida adulta. Quando não tratado pode levar a caso extremos, como o suicídio.
Para Cibele, a melhor forma de tratamento seria a prevenção no espaço escolar, com quem sofre e com quem pratica o bullying. “Mudar de escola não resolve. Temos que trabalhar com prevenção direto com os envolvidos. Não adianta tirar a criança do espaço escolar e o bullying continuar acontecendo. Temos que tratar o espaço com um todo”, avalia Cibele.
Outro fator importante é o auxílio da família para ajudar a reforçar a conduta da criança, para que não sejam vingativas, levando a piorar a situação. E para casos em que a criança já vem há muito tempo passando por situações de constrangimento é indicado a psicoterapia.
A reação dos pequenos e dos adolescentes
Há diferenças na reação de crianças e adolescentes ao bullying, como observa a professora Patrícia Maggi, do Instituto Estadual de Educação Maria Angelina Maggi, da cidade de Três Cachoeiras, litoral Norte do Rio Grande do Sul.
O problema começa desde cedo, as crianças menores falam o que pensam. Agem por instinto, podendo prejudicar outro estudante que não goste ou não aceite tal situação. “Os pequenos são mais cruéis que os grandes, existem problemas com negros, obesos e com crianças pequenas que falam errado”, afirma a professora Patrícia Maggi.
Os limites entre o que é uma brincadeira e bullying são definidos pela pessoa que sofre tal ação. Alguns fingem não ver a situação acontecer, ou então nem dão atenção para o ocorrido.
Em alguns casos o comportamento da vítima muda, fazendo a criança perder o interesse em ir para a escola. Alguns nem contam para a família à situação que estão passando.
O importante é sempre estar de olho em comportamentos diferentes apresentados pelas crianças e adolescentes a fim de evitar graves problemas.
Cyberbullying
A agressão na internet também é algo preocupante. Diferente do bullying do mundo real, mas igual preocupante. A pessoa agredida virtualmente pode denunciar o agressor na polícia.
No vídeo abaixo, publicado no canal de Bianca Farias, é montada a situação fictícia da morte de uma menina que teria se suicidado depois ter sido xingada por um menino, situação que há registros reais.
O bullying discutido na Internet
Os youtubers Luiz Phellipe e Rafaella Baltar, do canal You Kids, trazem em vídeo exemplos de situações cotidianas de bullying e possíveis soluções. Eles aconselham que a pessoa quando sofre bullying não reaja, porque quanto mais reagir mais o agressor se motivará a continuar implicando.
No vídeo, eles alertam que é importante denunciar, contar pro pai, pra professores, pro diretor da escola, para acabar com isso. E se a pessoa não gosta de sofrer bullying, que não o faça também com outras pessoas.
Relatos de uma vítima
O bullying na vida da estudante J.S.*, 20 anos, começou aos seis, quando precisou usar óculos de grau. “Eu chegava à sala de aula e as crianças começavam a rir. Passaram a me chamar de quatro olhos. Diziam para a professora: ‘ela não pode tirar os óculos porque é cegueta’. Isso me magoava”, relata.
A estudante conta que para acabar com as agressões procurava retirar os óculos e dizia aos colegas que não precisava mais usá-los. “Saia de casa com ele pra minha mãe não descobrir e escondia depois. Na sala de aula eu não enxergava e acabava me dando mal. Não entendia as matérias, mas preferia não usar os óculos por vergonha”, explica.
J.S. indica para pessoas que estão passando pela mesma situação que não demostrem incômodo. “Eu aprendi a lidar com isso. Por isso, a dica que eu dou pra quem está sofrendo bullying é não abaixar a cabeça, por que se você começa a se importar os agressores passam a te cutucar mais. Abaixar a cabeça só alimenta o que eles fazem”, finaliza.
* Nomes preservados na edição da reportagem.
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