A abordagem recente nesta coluna sobre bullying provocou manifestações de leitores de várias partes do
A abordagem recente nesta coluna sobre bullying provocou manifestações de leitores de várias partes do Estado. Sintoma que virou um transtorno no ambiente escolar. Antes, se falava apenas sobre os trotes violentos sofridos por jovens ao ingressar na universidade. Aos poucos, o comportamento de intimidação e crueldade passou a ser observado entre crianças e adolescentes de todas as faixas etárias. O bullying é algo silencioso, que desafia educadores. Como contribuição a esse debate, a coluna abre espaço a algumas das opiniões enviadas pelos leitores, deixando aberto o espaço à participação.
Os menos culpados
A pedagoga Heloisa A. Martinez, empresária em Mogi das Cruzes, é uma das leitoras que se manifestou sobre o assunto. Reproduzimos aqui a sua opinião, por considerá-la oportuna para reflexão:
"Houve um tempo em que, não admitir tirania, despertar bons sentimentos, ter compaixão, espírito de solidariedade, amor ao próximo, respeito aos idosos, mestres, animais, dentre outros, sempre foram itens fundamentais, dos quais os pais nunca abriram mão de ensinar a exaustão seus filhos e deles cobrar a todo instante, desde o berço até a idade adulta. Estes chegavam à escola com tais conceitos enraizados e assim sendo, já educados. À escola caberia lhes transmitir conhecimentos específicos e gerais.
Os gordinhos, sempre assim foram chamados, mas nunca massacrados, torturados, execrados, isolados. Hoje são, temos o bullying, muito em moda. Os grupos de adolecentes também tinham entre si rivalidades, mas o máximo que ocorria era algum desentendimento, um olho roxo, um edema labial. Hoje, espancam-se a socos e pontapés em locais vitais, só se contentam e às vezes nem assim, ao ver o outro desacordado se esvaindo em sangue.
Será que é preciso ser PHD em alguma coisa para analisar o que está acontecendo e faltando, quem são os responsáveis e o que precisa ser feito? Parto do princípio de que ninguém dá o que não tem. E no que diz respeito à educação, não é diferente. Os menos culpados são essas crianças e jovens, pois a eles não foram impostos limites, não lhes ensinaram sentimentos nobres, comportamentos adequados, cumprimento de responsabilidades e a assumir as consequências de seu atos.
São órfãos de pais vivos e de um Estado incompetente. A errônea e conveniente interpretação por alguns e principalmente os pais, da "psicologia moderna", junto com a ineficiência da lei de proteção do menor e do adolescente, estão ao invés de protegê-los, tornando-os as maiores vitimas".
"É de pequenino que se torce o pepino"
Com esse título, a psicóloga clínica Maria Lúcia Lacal Cox D'Ávila enviou interessante texto à coluna. Pós-graduada em Psicologia Analítica, Hospitalar e Dependência Química, reside em Araçatuba. Destacamos alguns trechos:
"(...) Considerando que só é possível aumentar a consciência e fazer prevenção educando, é importante compreender a educação a partir de sua etapa inicial. O antigo ditado ‘é de pequenino que se torce o pepino' tem sua razão de ser, pois funciona como um alerta para que a educação e o exercício da cidadania tenham início desde cedo nos lares, de modo que nossas crianças possam reproduzir depois, no mundo, bons exemplos de convivência.
Também é importante que o respeito ao próximo esteja sempre presente em nossas vidas, para com este exemplo ensinarmos aos nossos filhos a terem mais compaixão, isto é, mais compreensão pelo outro e por suas diferenças.
Ao contrário, algumas condições desfavoráveis costumam interferir na boa educação das crianças: caso dos lares desestruturados com poucas trocas afetivas entre os membros e dos lares onde os pais não impõem limites para os filhos. No primeiro, pobreza de afeto pode estar sinalizando rejeição, já no segundo, onde faltam limites e sobra onipotência, se a criança entende que pode tudo passa a agir sem medir conseqüências. Bullying nada mais é do que uma roupagem nova para um fenômeno que é um antigo conhecido nosso: quem não se lembra de já ter cometido, assistido em silêncio, ou mesmo ter sofrido atos de crueldade praticados por, ou em relação à outra criança na infância seja com amiguinhos de brinquedos ou coleguinhas de jardim? (...)
As ingênuas crianças são iniciantes no processo de socialização e por isso mesmo, nelas o instinto é mais puro e menos civilizado. Cumpre, pois, a nós como pais e adultos avaliar o comportamento infantil e dimensionar o alcance das "ações inocentes", que muitas vezes deixamos passar com excesso de complacência; intervindo, coibindo quando necessário, enfim, educando para adequar a força de expressão do instintual.
Só um pouco mais à frente, quando for hora da educação escolar, é que a escola dará continuidade ao aprendizado que teve início em casa. Até lá não devemos, nem podemos nos eximir da responsabilidade nesta tarefa porque, como já foi dito, é de pequenino que se torce o pepino...".
Tratamento pela música
A professora de piano e iniciação musical Maria Angela Pires, de Franca, que lecionou mais de 20 anos em escolas públicas e particulares, escreve para contar que em 2002 instituiu numa escola de periferia da cidade projeto intitulado "Flauta doce, um novo horizonte e um toque de cidadania".
Ela conta: "O projeto foi aplicado da 5a à 8a séries e teve um resultado espetacular quanto ao resgate da auto-estima, projeção de futuro, esperança, paz na escola, além dos objetivos culturais e pedagógicos. A ideia é: quem está feliz não precisa agredir ninguém. E a música é capaz de proporcionar esta felicidade. Sugiro a aplicação da música como recurso de inclusão social e educação do ser humano para a paz. Acredito 100% por todas as experiências que tive, que a música, a boa música, que promove paz, é capaz de sanar 98% dos casos de violência, decorrentes de bullying nas escolas. Os 2% ficam por conta dos esquizofrênicos incuráveis".
Fonte: Diário do Grande ABC
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