domingo, 8 de maio de 2011

Falta preparo das escolas para lidar com o bullying, dizem especialistas

G1

O atirador da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo, no Rio, declarou em vídeo gravado antes da tragédia que sofreu de bullying durante a vida escolar e, também por isso, iria se vingar. Um mês após o massacre que resultou na morte de 12 estudantes e o suicídio do assassino Wellington Menezes de Oliveira, de 23 anos, as ações para evitar o bullying e a violência escolar seguem muito incipientes, na avaliação de especialistas ouvidos pelo G1.

Eles afirmam que as escolas brasileiras não estão preparadas para desenvolver o assunto, a não ser de forma pontual e de maneira superficial. Sem preparo, a tendência é que as instituições 'lavem as mãos', perante um caso, segundo a psicanalista Sônia Makaron. “É um processo lento, temos de trabalhar a cabeça do professor. É um trabalho de formiguinha, não é tão simples”, afirma Sônia.

A psicanalista diz que não se deve vincular o crime em Realengo a um caso de bullying. “A mente doentia de Wellington associou duas ideias: eu sofri bullying e vou matar crianças inocentes. Não devemos comprar ou cultuar esta ideia, pois ela foi estabelecida por uma mente extremamente doente e que renegou os códigos que norteiam as relações sociais”, afirma Sônia. “Quem sofre bullying pode se proteger buscando na própria sociedade o que lhe é de direito, como, por exemplo, conversar com a direção da escola, procurar a Vara da Infância e da Adolescência ou uma Delegacia de Polícia.”

Educadores participaram na última terça-feira (3), em São Paulo, do “I Simpósio Brasileiro sobre Bullying”, promovido pelo Sindicato de Estabelecimentos de Ensino no Estado de São Paulo (Sieeesp). A educadora Cleo Fante, autora do livro “Fenômeno Bullying – Como prevenir a violência nas escolas e educar para a paz”, destacou a importância das escolas estabelecerem práticas pedagógicas sobre o tema.

“Os professores têm de ter conhecimento e cultura de paz não só no discurso. É preciso desenvolver programas de enfrentamento e prevenção", diz Cléo Fante.

"No Brasil o tema ainda é novo e as escolas acham que trata-se de uma brincadeira. Falta vontade e informação na maior parte dos casos. Bullying virou caso de saúde pública", afirma a gestora de recursos Cristiane Ferreira da Silva Almeida. Ela fundou a ONG Educar Contra o Bullying, em São Paulo, há dois anos depois que seu filho foi vítima de bullying por cinco anos em uma escola da rede municipal de São Paulo. O garoto, na época com 8 anos, chegou a apanhar.

O objetivo da ONG é conscientizar professores, pais e instituições sobre os perigos do bullying, além de lembrar que nem só as vítimas e também os agressores precisam de tratamento. Por meio da ONG, Cristiane dá palestras e organiza campanhas.

Cultura de paz
A prevenção do bullying cabe às escolas, de acordo com os especialistas. Além de fazer campanhas de conscientização sobre o problema, é importante que as instituições reforcem temas como respeito, solidariedade, tolerância e outros valores humanos.

O Colégio São Luis, em São Paulo, desenvolve permanentemente um trabalho de educação humana e para a paz. Entre as atividades estão discussão com psicólogos, visitas à asilos, abrigos e creches, e atividades que reforçam princípios como a tolerância e o respeito.

Uma delas, chamada de 'Recreio da Paz' consiste em juntar alunos de 7 a 11 anos com diferentes estaturas, etnias, sexo ou peso por meio de fitas coloridas. São criados vários grupos identificados por cores diferentes que têm de passar o recreio juntos.

"É uma forma de valorizar a amizade e o respeito, e uma maneira mais ampla de combater o que poderia se tornar bullying no futuro. Se o bullying é comportamento, só o ensino de uma nova atitude, de uma nova ética pode ajudar a acabar com ele", diz Laez Barbosa Fonseca, assessor de direção do colégio.

No Maranhão, a ONG Plan desenvolve um projeto chamado "Educar para a paz, aprender sem medo" em oito escolas da rede municipal nas cidades de São Luís, São José de Ribamar, Timbiras e Codó. No total, cerca de 5 mil crianças do ensino fundamental são atendidas.

O trabalho inclui formação de professores, pais e alunos. Há grupos capacitados para multiplicar as informações sobre bullying por meio de palestras, fanzines, poesias, músicas e apresentações teatrais. Nas escolas também há caixinhas onde as crianças podem fazer denúncias sobre bullying. Quando eles são identificados, vítima e agressor são chamados para conversar.

"Um consultor que vivencia rotina da escola monta os grupos que chamamos 'de paz'. Acredito que, de modo geral, a temática ainda é nova e os professores precisam se preparar melhor, ler mais", diz Creuziane Corrêa Barros, assistente técnica de programa da Plan.

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