Projeto 'Mulheres de Raízes' fotografou mulheres negras em Santos, SP. Participantes sofreram discriminação por terem o cabelo o cabelo cacheado
Mariane RossiDo G1 Santos
Uma fotógrafa que sofreu bullying durante vários anos por ter o cabelo cacheado resolveu fazer um ensaio com mulheres que sofreram o mesmo tipo de preconceito que ela. Diferentes mulheres negras do litoral de São Paulo, todas com cabelos crespos ou cacheados, mostraram, durante a sessão de fotos, que é preciso aceitar as próprias origens para vencer o preconceito.
A fotógrafa Nayla Souza Ribeiro, de 23 anos e moradora de Praia Grande, sofreu muito preconceito na infância e adolescência por causa do cabelo crespo. “Eu sou descendente de negro e índio. O pessoal falava que o meu cabelo era crespo, cabelo de Bombril e me magoavam um pouco. Eu resolvi alisar, minha mãe pagou e eu fiz”, conta ela.
Na internet, ela encontrou um espaço para compartilhar suas experiências e a preconceito que sofria. Ela começou a participar do grupo chamado ‘Mulheres Cacheadas’ e encontrou uma série de depoimentos parecidos com o dela. Lá, fez amizades que lhe deram força para assumir suas origens sem medo. “Conversei com meninas que já passaram por esse processo e elas me apoiaram para voltar com o meu cabelo natural”, diz.
Nayla parou de alisar as mechas e assumiu o cabelo cacheado há cerca de um ano. Depois da aceitação, ela percebeu que precisava levar a mesma mensagem para outras pessoas. A fotógrafa se uniu a outras jovens do grupo, muitas que ela desconhecia, e resolveu fazer um ensaio fotográfico apenas com mulheres negras que já sofreram preconceito, mas hoje exibem suas madeixas com muito orgulho.
A primeira sessão de fotos contou com a participação de quatro jovens e aconteceu na Ilha Porchat, em São Vicente. Já o segundo ensaio reuniu oito mulheres e uma criança e aconteceu no Parque Municipal Roberto Mário Santini, em Santos. Ao todo, foram 13 mulheres e uma menina de 4 anos fotografadas.
“No começo eu tentei trazer elas para perto de mim e cada uma se abriu um pouco. Elas falaram de suas experiências e foram ficando mais a vontade. A cada sorriso, a cada mexida no cabelo, elas diziam que estavam se sentindo mais bonitas. Eu postei as fotos na minha página de trabalho e mandei para elas”, conta Nayla.
Vivian Soares, de 29 anos, foi uma das mulheres que participou do ensaio fotográfico. Ela conta que, durante a infância, era excluída por causa da aparência. "Todas as meninas mais populares da escola tinham cabelos compridos. O meu sempre foi curtinho porque crescia para cima. Não tinha uma boneca com cabelo igual ao meu", lamenta ela. Na idade adulta, ela alisou o cabelo muitas vezes, não por um desejo íntimo, mas para evitar comentários sobre a aparência dela, até no mercado de trabalho. Há quatro anos, Vivian assumiu o cabelo natural.
Ela conta que, depois de tudo o que passou, participar de um ensaio para valorizar o cabelo das negras foi emocionante. "Me senti muito bem e muito a vontade para fazer as fotos. Saber que estamos empoderando as nossas raízes e que cada dia que passa as mulheres negras estão se aceitando mais é muito bom. É um dos projetos dos quais mais gostei de participar", diz.
O projeto recebeu o nome de ‘Mulheres de Raízes’, uma alusão às origens negras das mulheres e a raiz do cabelo de cada uma. “O objetivo é mostrar para as pessoas que o cabelo cacheado ou crespo não é um fardo e que aceitar as suas origens a deixará mais linda. Fiz esse projeto para ajudar mulheres a aceitarem seu cabelo. As fotos passam esse sentido de liberdade”, finaliza a fotógrafa.
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