Depois de um processo cansativo em busca do sonho de ser universitário, chega o momento da comemoração, com cortes de cabelo excêntricos e misturas de ingredientes culinários, que vão parar na cabeça dos calouros, mas às vezes a brincadeira fica um pouco mais séria e se torna um trote violento. A Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) também resolveu fazer com os calouros um trote bem diferente: no chamado “trote solidário”, no ato da matrícula os acadêmicos doam materiais escolares que serão repassados para comunidades ribeirinhas. Durante as provas do processo seletivo, os alunos do PET de Agronomia da instituição também arrecadaram canetas dos vestibulandos. Esta ação foi só o inicio de uma ideia que deixou mais de 70 crianças com materiais e cadeiras novas para mais um ano escolar. O trote universitário é uma tradição europeia de “boas vindas”, que foi incorporado pelos brasileiros. A elite que se formava em Portugal trouxe o costume para o país durante o século XIX. Com o tempo a prática foi ficando cheia de peculiaridades e os calouros começaram a ter que cumprir provas e a se submeter a situações humilhantes. Porém, os “joguinhos” nem sempre acabam bem: já aconteceram casos de afogamentos e agressões graves em outras regiões do país, além de humilhações de cunho moral. Neste mês de março, 80 cadeiras e material escolaresforam entregues à comunidade da Ilha Grande, próxima à Belém. Elas servirão aos estudantes da Escola São José. A ação resultou de ação coordemnada pelas Pró- Reitorias de Extensão e de Planejamento e Gestão da Ufra. A caloura de Engenharia Florestal, Natália Santiago, foi uma das acadêmicas que contribuiu com as doações. “Doei um caderno infantil e uma caixa de lápis, fiquei imaginando a pessoa que receberia”, conta Natália, que acha a iniciativa da universidade louvável em tempos de caos. “Do jeito que o mundo anda, o trote solidário é a melhor opção”, completa. A Ufra também realiza na comunidade o projeto “Quintais Agroflorestais” com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e estimular o desenvolvimento socioambiental da população, utilizando espaços domésticos disponíveis para a produção de alimentos, plantas ornamentais, medicinais e árvores frutíferas, favorecendo um ambiente mais saudável. Segundo o professor Raimundo Nelson Souza da Silva, Pró–Reitor de Extensão, o trote solidário é uma forma de evitar a violência, incentivando os calouros a entenderem a importância do trabalho social, através do contato com as comunidades ribeirinhas. Segundo ele, a Ilha Grande não possui energia e as dificuldades sociais e econômicas são muitas. “Os universitários precisam ter esse tipo de experiência para conhecer a sociedade que irão servir depois de formados”, diz o Pró–Reitor. (Diário do Pará)
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