Para muitos adolescentes que navegam pelos desafios sociais da escola, o maior objetivo é fazer parte da turma "popular". Porém, uma nova pesquisa sugere que o caminho para a popularidade na escola pode ser perigoso, e que os alunos perto do topo da hierarquia social são muitas vezes vilões e vítimas de comportamento agressivo envolvendo seus colegas. As descobertas, que serão publicadas na The American Sociological Review, oferecem uma nova visão sobre a estratificação social dos adolescentes. O estudo, acompanhado de uma pesquisa relacionada da Universidade da Califórna, em Davis, nos Estados Unidos, também desafia os estereótipos do bullying escolar e da vítima. Casos bastante divulgados envolvendo bullying normalmente significam um assédio crônico de estudantes socialmente isolados, mas os estudos mais recentes sugerem que várias formas de agressão e vitimização ocorrem à medida que os alunos competem para melhorar sua popularidade. As descobertas contradizem a ideia do agressor como desajustado ou agressivo por natureza. Em vez disso, os autores argumentam que, quando se trata de comportamento malicioso, o papel dos traços individuais é "superestimado", e grande parte dele se deve a preocupações com o status. "Muitas vítimas são feitas nos degraus intermediários e altos da hierarquia", disse o autor do estudo, Robert Faris, professor assistente de sociologia da UC Davis. "Frequentemente pensamos que isso é parte de como os jovens disputam status. Em vez de perseguir os adolescentes excluídos, eles podem mirar em colegas rivais". Educadores e pais muitas vezes desconhecem o estresse diário e as agressões com que devem lidar até mesmo estudantes bem-ajustados socialmente. "Pode ser invisível", disse Faris. "A literatura sobre bullying vem focando nessa única dinâmica de antagonismo crônico repetido de jovens socialmente isolados, ignorando essas outras formas de agressão. É bem possível que um ato, um rumor espalhado na Internet possa ser devastador". Pesquisa Numa série de estudos, alguns ainda aguardando publicação, os pesquisadores da UC Davis pediram a 3.722 alunos da oitava à décima série em três condados da Carolina do Norte para indicarem o nome de seus cinco melhores amigos. Então os pesquisadores perguntaram aos alunos se eles já tinham sido alvo de algum comportamento agressivo por parte de seus colegas - incluindo violência física, abuso verbal e assédio, rumores e fofocas, ou ostracismo - e se eles mesmos já tinham participado desse tipo de comportamento. Os pesquisadores usaram os dados para construir complexos mapas sociais das escolas, monitorando grupos de amigos e identificando os alunos que constantemente estavam no centro da vida social. "Não é só o número de amigos que o jovem tem, mas quem são esses amigos", disse Faris. "Os jovens de que estamos falando estão bem no meio das coisas". Usando os mapas, os pesquisadores monitoraram os alunos mais frequentemente acusados de comportamento agressivo. Eles descobriram que subidas no status social estavam associadas a aumentos subsequentes na agressão. Notavelmente, o comportamento agressivo atingiu o auge na 98º posição de popularidade, depois caiu. "Bem no topo, começamos a ver uma reversão, os jovens nos 2% mais altos têm tendência a serem menos agressivos", disse Faria. "A interpretação que eu tenho é que eles não precisam mais ser agressivos porque estão no topo. Mais agressões podem ser contraproducentes, sinalizando insegurança com sua posição social". Resultados No geral, a pesquisa mostra que cerca de um terço dos alunos estão envolvidos em comportamento agressivo. Em outro artigo apresentado no ano passado, Faris relatou que a maioria das agressões de adolescentes é direcionada a rivais sociais. "Talvez um degrau acima ou abaixo de você", como ele colocou, "em vez de um adolescente que está totalmente desprotegido e isolado". "Não quero dizer que esses jovens não sofrem, porque eles sofrem agressões", disse ele. "Mas o índice geral de agressões parece aumentar à medida que o status sobe. Isso sugere que um aluno acredita ter mais benefício em perseguir alguém que seja seu rival". Como prevenir o bullying A pesquisa oferece um mapa para educadores que tentam combater o bullying e a agressão dentro e fora da escola. Uma opção pode ser convocar o apoio dos alunos que não estão envolvidos com bullying - os que estão bem no topo da escada social, e os dois terços dos alunos que não fazem bullying. Richard Gallagher, diretor do Instituo de Paternidade e Maternidade do Centro de Estudos Infantis da Universidade de Nova York, disse que a pesquisa acrescenta a um corpo crescente de literatura científica documentando o papel que a popularidade exerce no assédio agressivo e no comportamento de bullying. "Ele salienta que é um comportamento típico usado para estabelecer redes e status sociais", disse Gallagher, professor de psiquiatria infantil e de adolescentes. "As escolas e os pais precisam estar atentos porque é um comportamento que ocorre o tempo todo. Isso significa que os distritos escolares precisam ter políticas que lidem com o problema. Acho que devemos recorrer aos próprios adolescentes para criar algumas soluções". Gallagher afirmou que, embora os resultados tenham sido confusos, algumas pesquisas mostraram que as escolas podem combater o bullying e a agressão ao convocar a ajuda dos alunos, assim como dos administradores. "Não é provável que se elimine totalmente esse comportamento, mas é provável que sua ocorrência se reduza", disse. Segundo ele, os programas que obtiveram sucesso são os que não colocam os jovens na posição de meros espectadores. "As iniciativas fizeram com que os jovens populares demonstrassem que o bullying não é legal". Faris afirmou planejar conduzir novas pesquisas para casar os mapas sociais com anuários das escolas, a fim de melhor documentar uma hierarquia social. Um estudo relacionado também sugere que não é apenas a popularidade que influencia um comportamento agressivo, mas a importância que o aluno dá a ser popular. "Historicamente, toda a atenção tem se focado nas deficiências mentais dos que fazem a agressão", disse Faris. "Precisamos direcionar mais atenção à forma como a agressão está entrelaçada no tecido social dessas escolas". Fonte: Terra
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