sexta-feira, 5 de novembro de 2010

A república dos covardes

O que hoje denominamos bullying, ou assédio moral, constitui-se num conjunto de práticas violentas, normalmente relacionadas às ideologias preconceituosas, como racismo, sexismo, homofobia, e, estranhamente, contra pessoas responsáveis e cumpridoras de seus deveres.

A palavra designa todo comportamento violento, seja no plano material ou emocional, exercido sobre algum outro mais frágil e que sofre normalmente em silêncio.

Este assédio acontece em agremiações esportivas, ou mesmo em ambientes de trabalho, raras são as empresas onde tal comportamento não se manifesta. Possivelmente as próprias pressões do dia a dia, com sua imensa carga de frustrações, induzam algumas pessoas sem muitos freios morais a esta conduta, transferindo aos mais fracos seus rancores e decepções.

Infelizmente, tem ocorrido nas áreas públicas e privadas, denotando sociedades com vivência histórica e social de alto grau de violência real e simbólica. Organizações, sites ou blogs focados na exibição violência, muitas vezes até de seu culto, aceleram este problema e dificultam uma ação eficaz de controle.

Como todas as organizações, escolas também sofrem com várias modalidades de assédio, visíveis no ambiente escolar apesar de este ser um espaço normalmente idealizado para a compreensão, a solidariedade e o acolhimento. Alguns tipos de apelidos, a coerção do mais forte em relação ao mais fraco, muitas vezes leva ao abandono dos estudos ou isolamento social de alguns estudantes. Estes ataques ocorrem muitas vezes através de suas redes de relacionamento, e, embora virtuais, não deixam de ser profundamente doloridos.

Quando estudantes praticam bullying contra algum colega, geralmente o fazem explorando uma vantagem desproporcional; estão em maior número, são mais fortes, o colega é “diferente” e, portanto, tem contra si a opinião dos demais.

Os assediadores, em qualquer nível, têm em comum uma imensa dor e uma desmedida covardia. E isso ocorre em toda a sociedade de modo alarmante: condutores de veículos de aço de uma tonelada desrespeitando pedestres, assaltantes armados impondo sua vontade, políticos escondendo-se do julgamento de crimes em sua impunidade, clientes humilhando garçons e vendedores, comerciantes praticando preços abusivos, países fortes invadindo países fracos, patrões degradando empregados, corruptos espoliando os bens públicos.

Subordinados que aceitam a sujeição mais abjeta tendem a serem os chefes mais arrogantes. Crianças molestadas podem tornar-se adultos molestadores. Ou seja, a violência tende à autogeração, em moto contínuo, e aparentemente estabelece-se um modelo doente, em que aquilo que se sofreu é o que se deve impor em sofrimento quando possível.

Até mesmo, lamentavelmente, uma parte dos pais, ausentes da educação de seus filhos por vários motivos, dentre eles a excessiva carga de trabalho na competitividade que caracteriza a moderna civilização, exerce certo assédio moral em relação aos professores, esperando deles responsabilidade total sobre aprendizado de seus filhos. É como se a escola pudesse “dar conta” sozinha de toda a educação, aí incluídas noções de moral e de bons costumes, de comportamento e relações interpessoais.

Uma escola sozinha não constrói outro padrão de comportamento, é preciso o engajamento comunitário na solução deste problema. Nas palavras do poeta Paulo Leminski: haja presente para tanto passado.

* Wanda Camargo – Comissão do Processo Seletivo – Faculdades Integradas do Brasil – UniBrasil.

Fonte: paranashop.com

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