segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Bullying: Conhecer para combater

Wagner Lopes - repórter

Bullying não ocorre apenas em escolas. Não é praticado somente face a face. Nem sempre inclui violência física. Muito menos sua repercussão se limita ao agressor e ao agredido. Esses são alguns fatos que envolvem o assunto e precisam ser conhecidos para que a prática seja melhor combatida nos diversos meios sociais. Com mestrado em Violência nas Escolas pela UFRN, a assistente social Jane Cristina Guedes entende que ações como a distribuição da cartilha sobre “Bullying”, encartada na TRIBUNA DO NORTE de ontem, contribuem para o debate do tema.

júnior santosPara combater o bullying é preciso que ocorram mais iniciativas como o lançamento da cartilha, que serve de uma orientação à sociedade sobre como identificar e procederPara combater o bullying é preciso que ocorram mais iniciativas como o lançamento da cartilha, que serve de uma orientação à sociedade sobre como identificar e proceder
“Atitudes como essa distribuição e a participação da mídia são fundamentais no esclarecimento sobre o bullying. A gente não pode simplesmente culpabilizar o indivíduo por uma determinada ação. É preciso conhecer para combater”, ressalta. A especialista no tema alerta que é equivocada a ideia de que o bullying se resume ao ambiente escolar e indica que fechar os olhos para o problema é uma das piores opções.

“E esse problema está em toda a sociedade, ultrapassa os muros dos colégios. Está na família, entre irmãos; nas universidades; no ambiente de trabalho; em todos os lugares”, ressalta. A assistente social afirma que o reflexo das agressões não se resume ao autor e à vítima. “Há quase sempre um expectador, que pode acabar reproduzindo a violência através de risos, ou mesmo do silêncio, por medo de também se tornar vítima.”

O bullying é praticado contra indivíduos que possuam qualquer característica fora dos padrões que a sociedade estipula. “Ou porque usa óculos, ou se é gordo, ou se é baixo. Qualquer detalhe pode servir de alvo dessa prática, com pessoas tentando fazer que essa vítima se sinta inferior. Até mesmo uma menina que está interessada em um menino, e ele não a quer de jeito nenhum, ela pode acabar reagindo, espalhando que o garoto é homossexual”, exemplifica.

Jane Cristina enfatiza que pais e professores devem investigar qualquer alteração de comportamento das crianças e jovens. Porém, os educadores não devem ser os únicos responsáveis pelo combate à prática. “A gente defende o trabalho de equipes multidisciplinares nas escolas, com abordagem de psicólogos, assistentes sociais, psico-pedagogos, porque muitas vezes o professor já está sobrecarregado, mas ele tem papel fundamental na identificação do problema.”

Até mesmo os funcionários e principalmente os gestores dos colégios devem se somar no combate ao bullying, assunto que deve ser abordado em todas as disciplinas escolares e também nos debates sociais. “É importante promover mecanismos, como peças, apresentações, que tratem do tema de forma atrativa, para se discutir o bullying e tentar evita-lo”, reforça.

Esse tipo de violência é tão amplo, que apresenta inclusive diferenças na praticada por meninos e meninas, enquanto no sexo masculino é comum o uso da agressão física e da intimidação, no público feminino os conflitos muitas vezes são velados. “É uma fofoca, um boato, atitudes sutis”, ressalta.

Cyberbullying acontece no mundo virtual

Cyberbullying é o nome que se dá às agressões promovidas através de meios digitais, como a Internet, e que já superam as praticadas presencialmente. “Esse tipo pode trazer efeitos nefastos, porque o xingamento, a ameaça, a perseguição não se limita aos muros da escola. O agressor não tem uma face, pode ser anônimo, e não é necessário que ele seja mais forte que a vítima, o que amplia ainda mais a possibilidade de ocorrer. Além de o espaço ser ilimitado e a agressão se ampliar rapidamente”, alerta Jane Cristina.

A assistente social, que hoje participa da base de pesquisas “Exclusão social, saúde e cidadania”, da UFRN, destaca que as vítimas geralmente se sentem “acuadas” diante do cyberbullying e deixam de frequentar o meio virtual, um espaço onde normalmente convivem com colegas, trocam informações, opiniões e têm seu lazer. O isolamento e a vergonha gerados não se limitam ao momento das humilhações. Muitas vítimas crescem com uma série de sequelas e se tornam adultos com problemas de relacionamento.

Uma pesquisa divulgada no primeiro semestre deste ano pela OnG Plan Brasil aponta que o bullying virtual já se tornou tão ou mais comum que o praticado face a face. Enquanto 16,8% dos alunos ouvidos no País disseram já ter sido vítimas de ciberbullying, o bullying tradicional atingiu 10%. Uma das explicações é o anonimato e as ferramentas usadas que incluem desde e-mails, a mensagens instantâneas, com ênfase nas redes sociais.

Bate-papo

» Des. Maria Zeneide - Coord. do Justiça na Escola

Qual a importância da divulgação de materiais informativos sobre o “bullying”, como a cartilha do CNJ que foi encartada na TRIBUNA DO NORTE?

Acho uma iniciativa de extrema importância. Só lamento porque não é todo mundo que lê jornal e nem todo mundo dispõe do acesso à internet. Agora, quanto mais campanhas forem promovidas pelo Judiciário, pelo Ministério Público, pela OAB, pelas secretarias de educação do estado e dos municípios, pelos jornais, pela mídia, melhor será para toda a comunidade.

Como o TJ trabalha esse tema em seus projetos?

O TJ/RN trabalha desde 2006 com o projeto social Justiça e Escola, divulgando as questões envolvendo o bullying. Já alcançamos 1.902 alunos em escolas municipais, para onde a gente leva professores, palestrantes, orientadores. Quando a gente lê essa cartilha, nós vemos que o fundamental é ter respeito ao próximo. E é essa mensagem que já levamos para as escolas da rede municipal de Natal, Assu, Ceará-Mirim, São Gonçalo do Amarante e tem mais três municípios para ingressarem no projeto, que são Macau, Alto do Rodrigues e Guamaré. Hoje no Brasil, quem trabalha melhor esse programa é o estado do RN, evidenciando os pilares do Justiça e Escola, que são respeito, cidadania, responsabilidade, zelo, quer dizer, uma gama de valores que o Tribunal leva às escolas.

E a sociedade precisa ser mais esclarecida a respeito do bullying?

Deve e muito ser esclarecida. Muitas vezes a pessoa, porque nunca leu, não sabe do que se trata. Às vezes o menino está agressivo em casa, na escola, e tudo tem um porquê. Então acho que a gente tem de se aproximar, informar. Esse é um papel deles, mas nós estamos saindo dos gabinetes para irmos às escolas informar sobre um pilar que eu acho fundamental que é do respeito aos outros.

Fonte: A Tribuna do Norte

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